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Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp

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66<br />

principalmente, uma mudança na erótica, que é<br />

revelada, desde há alguns anos, por alguns autores<br />

que se agrupam academicamente no campo dos<br />

Estudos Gays & Lésbicos e no movimento Queer.<br />

Estes trabalhos estão desenvolvendo muitas<br />

pesquisas e elaborações sobre a sexualidade contemporânea<br />

num campo que a psicanálise tinha<br />

deixado parcialmente vago pela sua preocupação<br />

com as normas e a patologia. Por isso, para ampliar<br />

minha pesquisa sobre o tema, fiz uma sondagem<br />

do trabalho de alguns desses estudiosos para identificar<br />

e caracterizar as questões e discussões sobre<br />

o tema que impliquem articulações relevantes para<br />

a psicanálise (Barbero, 2004).<br />

Os textos produzidos no campo do Gay &<br />

Lesbian Studies tiveram origem num movimento<br />

surgido nas universidades dos Estados Unidos,<br />

nos anos de 1980 e lentamente foram sendo traduzidos<br />

e conhecidos em outros países. Trata-se<br />

de trabalhos de diversas áreas: letras, história,<br />

antropologia, etc., que questionam a tradicional<br />

divisão entre hetero e homossexualidade, as identidades<br />

e categorias sexuais binárias, as relações<br />

entre sexo e poder, os gêneros como criações<br />

culturais e muitas outras coisas mais, pondo em<br />

dúvida antigas “verdades” em relação ao sexo e à<br />

sexualidade e a história que deles fora realizada<br />

até então. Eles não são meramente resultado de<br />

debates ideológicos, mas são sempre, total ou<br />

parcialmente, testemunhais e pretendem “dar a<br />

saber”, ou seja, falam de uma experiência pessoal.<br />

Pouco depois apareceu o movimento queer (<br />

que significa torto, estranho), um movimento de<br />

resistência às normas e às determinações sociais<br />

que pretende disciplinar o erotismo e as identidades<br />

com normas rígidas e pré-estabelecidas. A<br />

“contra-sexualidade” 8 proposta pelos movimentos<br />

de resistência surgiria frente ao que entendem como<br />

uma máquina que fala do natural e do antinatural e<br />

marca o caráter de artifício de qualquer sexualidade<br />

ou identidade sexuada, inclusive a homossexual.<br />

8 A obra “Manifesto Contra-sexual”, escrita por Beatriz Preciado<br />

(Preciado, 2002) é representativa deste movimento.<br />

Pouco depois apareceu o movimento<br />

queer ( que significa torto, estranho),<br />

um movimento de resistência às<br />

normas e as determinações sociais que<br />

pretende disciplinar o erotismo e as<br />

identidades com normas rígidas e préestabelecidas.<br />

Os Gay & Lesbian Studies e o Movimento Queer<br />

têm produzido muitos textos de diferentes qualidades,<br />

mas sempre polêmicos e contextualizados em<br />

momentos históricos e<strong>sp</strong>ecíficos, dialogando entre<br />

si e com outras ciências, e<strong>sp</strong>ecialmente com a filosofia<br />

e a psicanálise. Estes autores são classificados<br />

dentro do construcionismo, ou construtivismo, sem<br />

se prestar atenção às várias linhas que existem na<br />

psicologia social e outras disciplinas que podem ser<br />

assim denominadas. O que eles têm em comum é<br />

a idéia de que tudo o que é relacionado aos sexos,<br />

gêneros e identidades, depende do contexto histórico,<br />

social e cultural em que se desenvolvem. Estes<br />

estudos estão sendo considerados, às vezes, como<br />

nominalistas, o que implicaria na idéia de negar a<br />

existência de um registro real na sexualidade.<br />

Não concordo com esta ideia, mas “real” é um<br />

conceito lacaniano que levou muitos anos para ser<br />

desenvolvido e seu uso deveria ser muito cuidadoso.<br />

9 E, mesmo assim, se nos textos produzidos pelos<br />

Gay & Lesbian Studies e pelo Movimento Queer<br />

falta a ideia de real, não por isso tudo fica sendo<br />

descartável, como alguns autores parecem supor.<br />

Suas críticas podem ser discutíveis, o campo não é<br />

homogêneo, mas elas representam referências para<br />

uma interlocução que é, neste momento, indi<strong>sp</strong>ensável<br />

para a psicanálise, que parece ter se desviado<br />

9 Confunde-se em muitos textos o conceito de diferença sexual<br />

com o real da diferença anatômica entre corpos de homens e<br />

mulheres e volta-se a colocar como verdade suprema aquela<br />

frase napoleônica que Freud sustentou em algum momento,<br />

de que anatomia é destino, sugerindo com isto uma volta à<br />

naturalidade e à essencialidade, algo que não pode ser, de<br />

maneira alguma, afirmado como óbvio.

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