Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp
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tende como mulher e namora com homem, ela é<br />
heterossexual, então não é a homossexualidade<br />
exatamente que nos une, é algo para além disso.<br />
O que nos une, em primeiro lugar, é o sofrimento<br />
mental causado pelo preconceito e pela discriminação.<br />
Eu acho que esse entendimento por parte dos<br />
psicólogos vem, em muito, ajudar na superação<br />
de grande parte das dores vividas pelas pessoas<br />
LGBT, pelo seu sofrimento mental, pela violência<br />
psicológica que sofrem e, depois, pelo sofrimento<br />
causado pela violência física. Mas eu acho que o<br />
sofrimento mental causado pelo preconceito e pela<br />
discriminação é o fundamento da aglutinação de<br />
todas essas pessoas em uma população.<br />
Agora, podemos passar a ver peculiaridades da<br />
sexualidade humana, numa forma bem didática<br />
de expressão, porque, no final, as nuanças são<br />
em muito mais números do que esses itens que<br />
vamos colocar. A sexualidade é, em grande parte,<br />
construída socialmente e, portanto, incutida nas<br />
pessoas principalmente a partir da junção de<br />
quatro itens: identidade biológica, identidade de<br />
gênero, orientação sexual e práticas sexuais.<br />
A identidade biológica, no seu a<strong>sp</strong>ecto mais<br />
corriqueiro, nos é dada de forma binária: ou você<br />
é macho ou fêmea. Agora temos iniciado uma conversa<br />
sobre as pessoas “intersexo”, mas até pouco<br />
tempo atrás, se a criança nascesse com uma proeminência<br />
genital menor do que dois centímetros,<br />
ela seria considerada mulher. Já se nascesse com<br />
um genital maior do que isso, seria considerada<br />
homem. É ainda assim que a maioria dos profissionais<br />
de sala de parto avalia na hora que você<br />
nasce: olham o seu genital, e lá na Declaração de<br />
Nascimento, anotam se nasceu um menino ou uma<br />
menina. Muitas pessoas de genitália ambígua são<br />
mal avaliadas. E algumas famílias querem fazer a<br />
“cirurgia de correção sexual” prontamente. Muitos<br />
destes bebês, quando adolescentes ou adultos,<br />
acham que a escolha do sexo pela família ou pelo/a<br />
médico/a não foi a mais adequada em relação<br />
aos seus sentimentos. Existe hoje algum avanço<br />
nessa questão. Por exemplo, em vários lugares<br />
dos Estados Unidos, não vem escrito certidão se a<br />
pessoa é menino ou menina. Em muitos estados já<br />
foi abolida essa determinação do sexo na hora do<br />
nascimento e deixa-se para que a pessoa decida,<br />
quando ela tiver mais compreensão e idade, se é<br />
um homem ou uma mulher. Acho que é o começo<br />
de um grande avanço. A partir de sermos homens<br />
ou mulheres, são e<strong>sp</strong>erados comportamentos,<br />
colocados pela sociedade em geral e pelo nosso<br />
núcleo familiar, em e<strong>sp</strong>ecífico, que nos molda para<br />
ser homem ou mulher, com todas as implicações<br />
que estas categorias comportam.<br />
Sobre a identidade de gênero, podemos dizer<br />
que ela é autodeterminada, é aquilo que acreditamos<br />
ser. Este é o caso da travesti, que biologicamente<br />
nasceu homem e diz ser mulher ou, em<br />
casos menos frequentes, de mulheres biologicamente,<br />
que dizem serem homens. Segue atual esta<br />
frase quase centenária de Simone de Beauvoir,<br />
que de alguma forma até hoje ainda vale: “Não<br />
se nasce mulher. Torna-se mulher”, porque nós<br />
aprendemos a ser oprimidas.<br />
Sobre a orientação sexual, podemos dizer que<br />
até hoje nós distinguimos didaticamente em três:<br />
heterossexuais, homossexuais ou bissexuais. A<br />
Rede Feminista de Saúde, por exemplo, fala que<br />
a orientação sexual poderia ser descrita como<br />
constituída de, pelo menos, três dimensões:<br />
comportamento, desejo ou atração e identidade.<br />
Nem sempre essas coisas entram bem nas caixinhas<br />
que criamos para colocá-las. Tem uma<br />
história que é muito impactante: uma mulher<br />
biológica que fez a transexualização via uso de<br />
hormônios e de cirurgia de extirpação de mama,<br />
mas não retirou útero nem ovários. Então, agora<br />
ele é um homem, mas com os seus órgãos genitais<br />
femininos. Ele está grávido. Por quê? Uma<br />
pessoa que biologicamente era uma mulher e que<br />
O que nos une, em primeiro lugar, é<br />
o sofrimento mental causado pelo<br />
preconceito e pela discriminação.<br />
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CADERNOS TEMÁTICOS <strong>CRP</strong> SP <strong>Psicologia</strong> e diversidade sexual