Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp
Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp
Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
52<br />
que, pelo menos ali, ela tem um poder. Ou seja, a<br />
mulher é vítima, mas também deseja o poder, pelo<br />
menos em algum lugar ela tem que ter.<br />
Para que esse modelo desse certo foi necessário<br />
convencer a sociedade de que a heterossexualidade<br />
fosse o padrão de comportamento sexual não apenas<br />
desejado, mas normal e superior a todas as outras<br />
formas de manifestação da sexualidade. Chamamos<br />
a isso de heterossexismo. É ele que vai justificar a<br />
heterossexualidade como causa de normalidade e,<br />
portanto, superioridade. Todo e qualquer indivíduo<br />
que não reproduz, e não reproduz a partir das normas<br />
convencionadas à heterossexualidade – vejam<br />
toda discussão que no País existe sobre inseminação<br />
artificial, sobre a questão da manipulação genética<br />
das células tronco etc. – é da ordem do incabível, ou<br />
melhor, do ininteligível, da abjeção.<br />
Resumindo, o processo de construção da homofobia<br />
agrega outros, a saber: o patriarcado/<br />
viriarcado, o machismo, o heterossexismo que<br />
legitimam a opressão homofóbica. Evidentemente<br />
que isso é apenas uma interpretação. Há muitas<br />
outras possíveis que contra-argumentam essa que<br />
proponho aqui. Mas a diferença é que esta, pautada<br />
nos Estudos Feministas, Estudos de Gênero e Queer<br />
e que trago para a discussão nesta mesa, parece nos<br />
fazer avançar na ética que, enquanto psicólogos,<br />
pretendemos ter como referência. Estas leituras<br />
avançam no sentido de construção da liberdade<br />
de expressão das pessoas, ao passo que outras as<br />
restringem a modelos de ‘normalidade’ cujas referências<br />
são heteronormativas. Vale lembrar que, o<br />
uso que faço do conceito liberdade aqui é bastante<br />
pragmático, pois diz re<strong>sp</strong>eito à ampliação do leque<br />
de opções de uma pessoa em determinado contexto.<br />
No sentido político, evidentemente, refere-se à<br />
consolidação de uma sociedade democrática, com<br />
direitos e deveres iguais às pessoas.<br />
Manifestações da homofobia e sua relação com<br />
a <strong>Psicologia</strong><br />
Enquanto di<strong>sp</strong>ositivo de controle, a homofobia<br />
enreda os mais variados discursos (religiosos,<br />
científicos, políticos, etc.), para garantir uma<br />
Todo e qualquer indivíduo que não<br />
reproduz, e não reproduz a partir<br />
das normas convencionadas à<br />
heterossexualidade (...) é da ordem do<br />
incabível, ou melhor, do ininteligível,<br />
da abjeção.<br />
percepção negativa e homogeneizada da homossexualidade<br />
no campo social, que resulta no campo<br />
individual, em uma homofobia interiorizada. O jurista<br />
argentino radicado na França, Daniel Borrillo<br />
(2000) aponta que as pessoas homossexuais são<br />
vitimizadas do seguinte modo: 1) Os homens homossexuais<br />
são vitimizados, pois, em sendo homo,<br />
se “igualam” às mulheres na posição (“passiva”)<br />
de eventual receptor do pênis12 . Logo, são vistos<br />
como “efeminados”, deixando de fazer parte do<br />
universo viril. Por isso, o estereótipo de que todos<br />
os homossexuais masculinos são “mulherzinhas”,<br />
“desmunhecados” e/ou “marica” 13 . 2) De outro<br />
lado, as mulheres homossexuais são vitimizadas,<br />
já que, em sendo homo, supostamente deixam<br />
de cumprir sua função de “fêmea” reprodutora<br />
dos filhos “de um macho”, e não são aceitas no<br />
universo viril, ainda que emasculadas, pois não<br />
possuem o pênis. Em acréscimo, ao se identificarem<br />
enquanto lésbicas, assumem uma postura<br />
“ativa” em relação ao seu desejo sexual. Como<br />
tal atividade é exclusiva do universo masculino,<br />
elas são rechaçadas pelos homens e pelas outras<br />
mulheres, pois quebraram a barreira do silêncio<br />
em relação à suposta passividade feminina.<br />
De modo semelhante, autores como Blumenfeld<br />
(1992), Isay (1998) e Hardin (2000) assinalam<br />
que tais efeitos englobam: 1) Negação da sua<br />
12 Sobre isso, cf. o interessante trabalho de Valdeci Gonçalves<br />
da Silva. A visibilidade do suposto passivo: uma atitude revolucionária<br />
do homossexual masculino. Em Revista Mal-estar e<br />
Subjetividade. Fortaleza, Vol. VII, Nº 1, mar/2007, p. 71-88.<br />
13 Vimos, ao longo do percurso histórico aqui construído sobre as<br />
formas como as práticas homoeróticas foram aceitas e/ou repudiadas<br />
socialmente, como a sociedade ocidental foi armando-se<br />
de valores machistas para sustentar esta estereotipia em relação<br />
às pessoas homossexuais.