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Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp

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que, pelo menos ali, ela tem um poder. Ou seja, a<br />

mulher é vítima, mas também deseja o poder, pelo<br />

menos em algum lugar ela tem que ter.<br />

Para que esse modelo desse certo foi necessário<br />

convencer a sociedade de que a heterossexualidade<br />

fosse o padrão de comportamento sexual não apenas<br />

desejado, mas normal e superior a todas as outras<br />

formas de manifestação da sexualidade. Chamamos<br />

a isso de heterossexismo. É ele que vai justificar a<br />

heterossexualidade como causa de normalidade e,<br />

portanto, superioridade. Todo e qualquer indivíduo<br />

que não reproduz, e não reproduz a partir das normas<br />

convencionadas à heterossexualidade – vejam<br />

toda discussão que no País existe sobre inseminação<br />

artificial, sobre a questão da manipulação genética<br />

das células tronco etc. – é da ordem do incabível, ou<br />

melhor, do ininteligível, da abjeção.<br />

Resumindo, o processo de construção da homofobia<br />

agrega outros, a saber: o patriarcado/<br />

viriarcado, o machismo, o heterossexismo que<br />

legitimam a opressão homofóbica. Evidentemente<br />

que isso é apenas uma interpretação. Há muitas<br />

outras possíveis que contra-argumentam essa que<br />

proponho aqui. Mas a diferença é que esta, pautada<br />

nos Estudos Feministas, Estudos de Gênero e Queer<br />

e que trago para a discussão nesta mesa, parece nos<br />

fazer avançar na ética que, enquanto psicólogos,<br />

pretendemos ter como referência. Estas leituras<br />

avançam no sentido de construção da liberdade<br />

de expressão das pessoas, ao passo que outras as<br />

restringem a modelos de ‘normalidade’ cujas referências<br />

são heteronormativas. Vale lembrar que, o<br />

uso que faço do conceito liberdade aqui é bastante<br />

pragmático, pois diz re<strong>sp</strong>eito à ampliação do leque<br />

de opções de uma pessoa em determinado contexto.<br />

No sentido político, evidentemente, refere-se à<br />

consolidação de uma sociedade democrática, com<br />

direitos e deveres iguais às pessoas.<br />

Manifestações da homofobia e sua relação com<br />

a <strong>Psicologia</strong><br />

Enquanto di<strong>sp</strong>ositivo de controle, a homofobia<br />

enreda os mais variados discursos (religiosos,<br />

científicos, políticos, etc.), para garantir uma<br />

Todo e qualquer indivíduo que não<br />

reproduz, e não reproduz a partir<br />

das normas convencionadas à<br />

heterossexualidade (...) é da ordem do<br />

incabível, ou melhor, do ininteligível,<br />

da abjeção.<br />

percepção negativa e homogeneizada da homossexualidade<br />

no campo social, que resulta no campo<br />

individual, em uma homofobia interiorizada. O jurista<br />

argentino radicado na França, Daniel Borrillo<br />

(2000) aponta que as pessoas homossexuais são<br />

vitimizadas do seguinte modo: 1) Os homens homossexuais<br />

são vitimizados, pois, em sendo homo,<br />

se “igualam” às mulheres na posição (“passiva”)<br />

de eventual receptor do pênis12 . Logo, são vistos<br />

como “efeminados”, deixando de fazer parte do<br />

universo viril. Por isso, o estereótipo de que todos<br />

os homossexuais masculinos são “mulherzinhas”,<br />

“desmunhecados” e/ou “marica” 13 . 2) De outro<br />

lado, as mulheres homossexuais são vitimizadas,<br />

já que, em sendo homo, supostamente deixam<br />

de cumprir sua função de “fêmea” reprodutora<br />

dos filhos “de um macho”, e não são aceitas no<br />

universo viril, ainda que emasculadas, pois não<br />

possuem o pênis. Em acréscimo, ao se identificarem<br />

enquanto lésbicas, assumem uma postura<br />

“ativa” em relação ao seu desejo sexual. Como<br />

tal atividade é exclusiva do universo masculino,<br />

elas são rechaçadas pelos homens e pelas outras<br />

mulheres, pois quebraram a barreira do silêncio<br />

em relação à suposta passividade feminina.<br />

De modo semelhante, autores como Blumenfeld<br />

(1992), Isay (1998) e Hardin (2000) assinalam<br />

que tais efeitos englobam: 1) Negação da sua<br />

12 Sobre isso, cf. o interessante trabalho de Valdeci Gonçalves<br />

da Silva. A visibilidade do suposto passivo: uma atitude revolucionária<br />

do homossexual masculino. Em Revista Mal-estar e<br />

Subjetividade. Fortaleza, Vol. VII, Nº 1, mar/2007, p. 71-88.<br />

13 Vimos, ao longo do percurso histórico aqui construído sobre as<br />

formas como as práticas homoeróticas foram aceitas e/ou repudiadas<br />

socialmente, como a sociedade ocidental foi armando-se<br />

de valores machistas para sustentar esta estereotipia em relação<br />

às pessoas homossexuais.

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