16.04.2013 Views

Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp

Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp

Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

80<br />

Processos de Estigmatização e Travestilidades<br />

Se há alguma coisa comum presente na vida dessas<br />

pessoas, ela seria definida pelos processos<br />

de estigmatização, ou seja, das dificuldades e<br />

impossibilidades das mesmas em terem o direito<br />

fundamental à singularidade, de poderem exercitar<br />

o direito de ser e de viver, de serem re<strong>sp</strong>eitadas<br />

como cidadãs.<br />

Nossas pesquisas (PERES, 2004; 2005), assim<br />

como trabalhos de outros pesquisadores (BENE-<br />

DETTI, 2005; PELÚCIO, 2006; 2007; CARDOSO,<br />

2006; BENTO, 2006) tem demarcado sobre os processos<br />

de estigmatização vivido pelas transexuais e,<br />

e<strong>sp</strong>ecialmente pelas travestis, e as re<strong>sp</strong>ostas que as<br />

mesmas produzem para se afirmarem enquanto expressões<br />

que exigem re<strong>sp</strong>eito e solidariedade para<br />

suas demandas sociais, políticas e existenciais.<br />

Colocar em análise os processos de estigmatização<br />

vivido por essa população nos permitiria<br />

cartografar as diversas linhas do di<strong>sp</strong>ositivo que<br />

ora podem disciplinar e regular seus corpos e<br />

expressões sexuais, de gêneros e de existências,<br />

produzindo sofrimentos de toda ordem e que<br />

aqui consideramos como relevante, o de ordem<br />

psíquica; ora podem mapear as diversas linhas<br />

emancipatórias que permitem a reversão conceitual<br />

negativa que lhe é atribuída, para promover<br />

o sentimento de orgulho e de realização pessoal;<br />

vide a reversão dos conceitos presentes nas manifestações<br />

nas paradas, marchas e outros eventos<br />

de valorização e emancipação social, política e<br />

cultural da população LGBTTT.<br />

A ideia de tomar os estigmas como processos<br />

amplia as possibilidades de análises sobre o<br />

próprio estigma, pois o tomamos como efeito do<br />

poder que atua sobre os corpos, disciplinando,<br />

regulando e controlando suas relações, de modo a<br />

torná-los dóceis, úteis e assépticos. Essa per<strong>sp</strong>ectiva<br />

processual nos diria Richard Parker & Peter<br />

Aggleton (2001) permite problematizar que:<br />

[...] o estigma desempenha um papel central nas<br />

relações de poder e de controle em todos os sistemas<br />

sociais. Faz com que alguns grupos sejam desvalo-<br />

Essa primeira experiência de<br />

estigmatização no seio da família<br />

vivido pelas travestis e transexuais<br />

dá início a um processo de<br />

enfraquecimento da autoestima e da<br />

crença em si mesma, tornando-as<br />

inicialmente confusas e desorientadas.<br />

rizados e que outros se sintam de alguma forma,<br />

superiores. Em última análise, portanto, estamos<br />

falando de desigualdade social. Para confrontar e<br />

entender corretamente as questões de estigmatização<br />

e da discriminação [...] é necessário, portanto, que<br />

pensemos de maneira mais ampla sobre como alguns<br />

indivíduos e grupos vieram a se tornar socialmente<br />

excluídos, e sobre as forças que criam e reforçam a<br />

exclusão em diferentes ambientes. (PARKER; AGGLE-<br />

TON, 2001, p. 11-12)<br />

Esse efeito – a desigualdade – está presente em<br />

todas as etapas de vida das travestis e transexuais<br />

e podem ser cartografadas logo nas primeiras<br />

experiências vividas de discriminação, estigmatização,<br />

violência e exclusão, que ocorrem no e<strong>sp</strong>aço<br />

familiar, que rejeita, humilha, ridiculariza e<br />

violenta qualquer tipo de expressão das homossexualidades,<br />

intensificando-se diante da expressão<br />

de gênero não heteronormativa: as travestilidades<br />

e transexualidades (PERES, 2005).<br />

Essa primeira experiência de estigmatização no<br />

seio da família vivido pelas travestis e transexuais<br />

dá início a um processo de enfraquecimento da<br />

autoestima e da crença em si mesma, tornando-<br />

-as inicialmente confusas e desorientadas. É o<br />

momento em que o sentimento de pertença leva<br />

à aproximação de pessoas que coadunam de<br />

mesmos gostos, desejos, sonhos; pessoas que de<br />

certa forma compartilham de suas experiências,<br />

necessidades, desejos e projetos.<br />

Os contatos iniciais com pessoas que se identificam<br />

com seus estilos de vida são imprescindíveis<br />

para que possam se fortalecer para os enfrenta-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!