Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp
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de fortalecimento do próprio movimento e de<br />
que governo desse alguma re<strong>sp</strong>osta em relação<br />
à Aids, que era uma questão muito candente na<br />
comunidade naquele momento.<br />
Direitos iguais, nem mais nem menos!: a “terceira<br />
onda” do movimento<br />
No início dos anos 1990, o movimento homossexual<br />
cresceu como forma de solução para essa situação,<br />
tornando o Brasil pioneiro na re<strong>sp</strong>osta comunitária<br />
e governamental à Aids. Com base no acúmulo de<br />
experiência e no conhecimento e acesso à comunidade,<br />
os grupos passaram a coordenar projetos<br />
de prevenção financiados por programas estatais<br />
de combate à Aids, os quais permitiram que alguns<br />
grupos se organizassem no formato de organização<br />
não-governamental (ONG). A entrada das pautas<br />
do movimento nas políticas públicas não se deu,<br />
portanto, pelo reconhecimento das demandas de<br />
cidadania de LGBT ou pela criação de conselhos de<br />
direitos, mas pela política de saúde e, mais e<strong>sp</strong>ecificamente,<br />
a política de combate às DSTs e Aids.<br />
Houve um aumento do número de grupos e<br />
a expansão do movimento por todos os estados<br />
do País, acompanhado por uma diversificação de<br />
tipos de organizações: não havia apenas grupos<br />
comunitários, mas também ONGs, setoriais de partidos,<br />
grupos religiosos, acadêmicos, as chamadas<br />
igrejas inclusivas, que trabalham diretamente<br />
com a questão LGBT. Surgia, então, uma “terceira<br />
onda” do movimento.<br />
Nesse novo momento, uma das características<br />
é a diferenciação de vários sujeitos políticos internos<br />
ao movimento: lésbicas, gays, bissexuais,<br />
travestis e transexuais, com foco em demandas<br />
e<strong>sp</strong>ecíficas de cada um desses coletivos. A organização<br />
das travestis data do começo da década<br />
de 1990 e tinha como ponto de partida questões<br />
relacionadas ao impacto da questão da Aids nessa<br />
comunidade e o consequente aumento dos casos<br />
de violência contra travestis, a ponta mais visível<br />
e exposta da comunidade LGBT. Encontros nacionais<br />
de travestis passam a ocorrer ainda na primeira<br />
metade dos anos 1990 e a categoria é incorpora-<br />
Em 1995, ocorre a fundação<br />
da primeira e maior rede de<br />
organizações LGBT brasileiras, a<br />
ABGLT (Associação Brasileira de<br />
Gays, Lésbicas e Travestis).<br />
da à sigla que representa o movimento a partir de<br />
1995. As lésbicas são incluídas e<strong>sp</strong>ecificadamente<br />
apenas em 1993, apesar de estarem presentes nos<br />
grupos desde o início. Portanto, num primeiro<br />
momento, o movimento era homossexual, e por<br />
isso entendia-se que devia incluir gays e lésbicas.<br />
A organização dos grupos lésbicos no país ganha<br />
impulso com o início da organização dos Seminários<br />
Nacionais de Lésbicas, os Senales, a partir de<br />
199612 . O início da organização de transexuais se dá<br />
a partir da segunda metade dos anos 1990 e está<br />
relacionada às lutas por acesso às cirurgias experimentais<br />
de transgenitalização, que são aprovadas<br />
pelo Conselho Federal de Medicina em 1997.<br />
Em 1995, ocorre a fundação da primeira e<br />
maior rede de organizações LGBT brasileiras, a<br />
ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas<br />
e Travestis), que reúne cerca de 200 organizações<br />
e<strong>sp</strong>alhadas por todo o Brasil, sendo considerada a<br />
maior rede LGBT na América Latina. Além de um<br />
investimento sistemático de esforços no combate à<br />
Aids e variadas articulações com órgãos públicos,<br />
a ABGLT promove uma série de ações no âmbito<br />
legislativo e judicial, orientadas para acabar com<br />
diferentes formas de discriminação e violência<br />
contra a população LGBT, como é o caso das<br />
campanhas de sensibilização de parlamentares e<br />
da população em favor da aprovação de projetos<br />
de lei, como o 1151/95, que reconhece a parceria<br />
civil, e o 122/2006, que criminaliza a homofobia.<br />
A partir da fundação da ABGLT, há um processo<br />
de multiplicação de redes nacionais. Em 2007,<br />
havia sete redes: a ABGLT, a Associação Brasileira<br />
12 ALMEIDA, Guilherme de. Da invisibilidade à vulnerabilidade:<br />
percursos do “corpo lésbico” na cena brasileira face à possibilidade<br />
de infecção por DST e Aids. Tese de Doutorado. Rio de<br />
Janeiro: IMS/UERJ, 2005.