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Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp

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como vimos, tiraram da sua lista de transtornos<br />

a homossexualidade há muitos anos. No Manual<br />

Diagnóstico e Estatístico dos Distúrbios Mentais,<br />

editado em 1987, não figura mais o termo homossexualidade,<br />

e o termo perversão foi substituído nesta<br />

lista pelo de parafilias, considerando justamente os<br />

problemas de longa data que a palavra perversão<br />

e, mais ainda, o qualificativo perverso carregam.<br />

Pode-se afirmar, seguindo algumas interpretações,<br />

que a forma contemporânea da sexualidade<br />

emergiu depois de ter sido inventada a palavra e o<br />

conceito de homossexualidade, em 1869, conceito<br />

que abrangia diversos tipos de inconformismo<br />

social e de gênero sob um mesmo rótulo, tentando<br />

tirar os mesmos da criminalidade e firmando-os<br />

como hereditários ou biológicamente determinados.<br />

Não mais se falava de sodomitas, pederastas<br />

e enfeminados ou de amizades apaixonadas do<br />

mesmo sexo, por estarem reunidos nesta palavra,<br />

que tinha sido criada desde o começo, para marcar<br />

uma conduta que seria anormal e doentia. Quase<br />

ao mesmo tempo, surge o termo heterossexualidade<br />

para se fazer existir a ideia de uma sexualidade saudável<br />

e “natural”. Só neste momento vem a adquirir<br />

prioridade a qualidade do objeto do desejo sexual<br />

como tal, já que o mais reprimido na sociedade<br />

tinha sido sempre a conduta enfeminada e dita<br />

covarde, assimilada ao passivo-feminino, nos homens.<br />

A homossexualidade passa a ser vista como<br />

um traço subjetivo, um desejo, uma identidade.<br />

A heterossexualidade, por outra parte, precisava<br />

da homossexualidade para se definir<br />

como seu contrário, pelo que a desaparição da<br />

importância desta categoria no mundo atual,<br />

faria com que a sua contrária também deixasse<br />

de ter sentido e necessidade. Os sexos ou formas<br />

de erotismo se multiplicam hoje. No entanto,<br />

as identidades de homem e mulher perdem sua<br />

firmeza e consistência. O que é um homem, o que<br />

quer uma mulher, pergunta clássica freudiana,<br />

mudam de figura se pensarmos, com Monique<br />

Witting – uma feminista reconhecida e polêmica<br />

– que as lésbicas não são mulheres e certamente<br />

tampouco homens. Na figura d@ transgênero,<br />

projetam-se estas ambiguidades junto ao pavor<br />

da indiscriminação. El@s foram classificad@s<br />

como psicótic@s até faz muito pouco tempo e<br />

ainda alguns psicanalistas persistem em definir<br />

esta condição como delirante.<br />

Realmente não existem em nossa sociedade<br />

práticas sexuais livremente consentidas por seus<br />

participantes adultos, que sejam proibidas ou<br />

merecedoras de sanções legais. Só está proibido o<br />

casamento com parentes próximos e a imposição<br />

da sexualidade sobre quem não pode consentir ou<br />

dissentir por ser menor de idade. Mesmo assim,<br />

existem leis e projetos de lei proibindo a discriminação<br />

de pessoas em razão de sua orientação sexual, o<br />

que implica, no concreto, que a prática de relações<br />

eróticas e amorosas entre pessoas do mesmo sexo<br />

biológico continua a ser coibida de diversas formas.<br />

Há ainda um halo de negatividade ligado a estes<br />

comportamentos, em todos os âmbitos, tão forte e<br />

arraigado, que excede os argumentos racionais de<br />

qualquer ordem e se relaciona com o impensado,<br />

o recalcado, o puramente emocional.<br />

A heterossexualidade se impõe, fundamentalmente,<br />

por meio do estabelecimento de ideais.<br />

Ideais sexuais positivos, que corre<strong>sp</strong>ondem às<br />

expectativas relacionadas a ser homem ou mulher<br />

e negativos ligados à homossexualidade e outras<br />

variações do erotismo. A prática de relações homossexuais<br />

e outras variações eróticas diferentes<br />

das tradicionais, apesar de não ser proibida, é ainda<br />

considerada – popularmente – como anormal.<br />

O problema está em que não somente existem ideais<br />

abstratos; exercem-se, concretamente, muitos<br />

atos preconceituosos e violentos com relação aos<br />

comportamentos rejeitados.<br />

Para combatê-los precisa-se de uma psicanálise<br />

atualizada, que não apóie de forma superegóica<br />

o conflito, reforçando as confusas proibições sociais<br />

e que reconheça que estes desejos e práticas<br />

poderiam ser tão saudáveis quanto às heterossexuais,<br />

desde o ponto de vista da estrutura psíquica.<br />

A psicanálise afirma que não há funcionamento<br />

humano possível sem recalque, na medida em que<br />

é necessário para a estruturação do psiquismo,<br />

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CADERNOS TEMÁTICOS <strong>CRP</strong> SP <strong>Psicologia</strong> e diversidade sexual

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