Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp
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de<strong>sp</strong>atologização da homossexualidade” se refere<br />
à saída da – ou das – homossexualidades das<br />
listas e categorias de transtornos mentais, doenças,<br />
desvios, neuroses, perturbações ou qualquer<br />
outro termo que aponte ao ‘fora’ da normalidade<br />
e da saúde mental, podemos dizer que ela nomeia<br />
um fato realizado. O processo começou em 1973,<br />
com a saída da categoria das nomenclaturas da<br />
Associação Americana de Psiquiatria, que aceitou<br />
A luta dos grupos militantes muito<br />
tem contribuído para fazer avançar as<br />
reflexões e conquistas, mas isto ainda<br />
não é suficiente.<br />
as mudanças que os movimentos sociais exigiam,<br />
tirando a homossexualidade das suas classificações<br />
nosográficas. O mesmo fato foi sendo acatado<br />
por diversas organizações: nos anos 1980 a<br />
homossexualidade sai das categorias de doenças<br />
da Organização Mundial da Saúde e, no final dos<br />
1990, aparece numa resolução contundente do<br />
Conselho Federal de <strong>Psicologia</strong> brasileiro, que<br />
proíbe a categoria de tratar a homossexualidade<br />
como uma patologia. Mas estamos longe ainda de<br />
ter conseguido que todas as pessoas, incluindo<br />
psicólogos, psiquiatras e psicanalistas, pensem<br />
desta maneira.<br />
A luta dos grupos militantes muito tem contribuído<br />
para fazer avançar as reflexões e conquistas,<br />
mas isto ainda não é suficiente. Políticas públicas<br />
surgiram e continuam surgindo, o que ajudam a<br />
melhorar a qualidade de vida desta grande comunidade<br />
internacional. Mas alguns psicólogos,<br />
psiquiatras e, sobretudo, psicanalistas, aqueles<br />
que poderiam facilitar este processo, continuam<br />
a ser, eles mesmos, parte dos obstáculos que o<br />
atrapalham. Desde a antropologia e outras esferas<br />
politizadas, assegurou-se que estas diferentes<br />
sexualidades e/ou identidades sexuadas podiam<br />
ser aceitas, toleradas ou defendidas, a partir de<br />
um argumento aparentemente simples: tolerância<br />
ou re<strong>sp</strong>eito à diferença. A inclusão dos diferentes<br />
pareceu uma forma de superar as injustiças que<br />
a própria ciência, desde a psicopatologia, tinha<br />
fomentado. Porém, esta idéia revelou-se muito<br />
mais difícil de ser implantada do que parecia a<br />
simples vista.<br />
Os obstáculos foram sendo superados parcialmente<br />
com leis que proíbem a discriminação, com<br />
projetos de lei que aceitam e regulam a parceria<br />
amorosa legalizada entre pessoas do “mesmo<br />
sexo” 2 e com leis que permitem, sob certas condições,<br />
as operações cirúrgicas de adequação sexual<br />
e a modificação do nome em documentos de pessoas<br />
transexuais. Existem normas implícitas que permitem<br />
as expressões públicas de afeto dos casais<br />
homossexuais, enquanto elas não ultrapassem os<br />
limites igualmente colocados aos heterossexuais<br />
e normas que impedem classificar, diagnosticar<br />
ou tratar a certos sujeitos como homossexuais<br />
desde as associações médicas e psicológicas.<br />
Mas nem tudo isso conseguiu conter as forças da<br />
homofobia, lesbofobia, transfobia, e qualquer tipo<br />
de fobia3 relacionada a estes coletivos de pessoas.<br />
Por que tanto medo, tantos fantasmas rodeando<br />
a legalização e de<strong>sp</strong>atologização destas possibilidades<br />
humanas? Elas, como vimos, continuam<br />
afrontando certo tipo de pensamento religioso<br />
fundamentalista. Mas, e os demais?<br />
A inclusão dos diferentes pareceu<br />
uma forma de superar as injustiças<br />
que a própria ciência, desde a<br />
psicopatologia, tinha fomentado.<br />
Na universidade em que trabalho atualmente<br />
(UFMT/CUR) realizou-se uma pesquisa sobre a<br />
2 Este projeto foi aprovado pelo STF em 2011.<br />
3 O conceito de fobia aqui utilizado é mais amplo que o psicanalítico<br />
e se refere também à opressão baseada na orientação<br />
ou identidade sexual de alguns grupos, que inclui atitudes<br />
discriminatórias, às vezes violentas, ligadas ao medo e ao ódio<br />
que este grupo social provoca.<br />
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CADERNOS TEMÁTICOS <strong>CRP</strong> SP <strong>Psicologia</strong> e diversidade sexual