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pequeno dicionário - CCHLA - Universidade Federal da Paraíba

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pouco referidos pela historiografia. Esse é o<br />

caso de José dos Anjos, mulato, pobre, que<br />

como tantos <strong>da</strong> sua época foi obrigado a<br />

migrar para a região Norte, em busca de<br />

melhores condições de vi<strong>da</strong> e acabou sendo<br />

assassinado. A rigor, temos que, dos<br />

jornalistas nascidos no século XIX, de<br />

Antonio Borges <strong>da</strong> Fonseca, o mais antigo,<br />

a Assis Chateaubriand, o mais poderoso,<br />

todos cumpriram alguma espécie de êxodo,<br />

no seu percurso profissional. Porém, se<br />

Borges <strong>da</strong> Fonseca e Assis Chateaubriand se<br />

tornaram célebres, principalmente pela sua<br />

atuação fora dos limites paraibanos,<br />

restaurados que foram por estudos alheios<br />

ao saber histórico desse estado, o mesmo<br />

não se pode afirmar de mais de uma dezena<br />

de jornalistas, cuja existência foi apaga<strong>da</strong><br />

pela história e pela história <strong>da</strong> literatura<br />

paraibana.<br />

A perspectiva de que a literatura váli<strong>da</strong> e<br />

relevante era a que circulava através do<br />

suporte livro não é uma prerrogativa <strong>da</strong><br />

historiografia literária paraibana. Entretanto,<br />

durante pelo menos um século, o jornal foi<br />

considerado uma fonte “menor”, ou no<br />

mínimo, uma fonte previsível, na qual os<br />

pesquisadores buscavam, como em um<br />

túmulo tautológico, os grandes escritores e<br />

as grandes obras. Trata-se de uma<br />

abor<strong>da</strong>gem comum à historiografia que não<br />

garante uma perspectiva ver<strong>da</strong>deiramente<br />

9<br />

histórica nem para a literatura, nem para a<br />

cultura em geral. Primeiramente, porque ao<br />

descartar a materiali<strong>da</strong>de do texto, que são<br />

seus suportes e veículos, essa “abstração”<br />

não considera o fato fun<strong>da</strong>mental de que as<br />

formas que fazem com que os textos sejam<br />

lidos também participam <strong>da</strong> construção de<br />

seu significado (MCKENZIE, 2004).<br />

Segundo, porque estabeleceu, a posteriori,<br />

uma definição e uma concepção <strong>da</strong><br />

literatura que simplificaram em muito o<br />

sentido amplo e a multiplici<strong>da</strong>de de gêneros<br />

que este conceito tinha no século XIX<br />

(ABREU, 2003). Esse redimensionamento<br />

do jornal como suporte mais importante e<br />

mais lido dessa época, que favorecia a partir<br />

de sua materiali<strong>da</strong>de uma maior circulação,<br />

a circulação <strong>da</strong> cultura letra<strong>da</strong> pode explicar<br />

o sucesso de Augusto dos Anjos, teve suas<br />

poesias publica<strong>da</strong>s primeiramente nessa<br />

fonte. Ao coligir seus poemas em livros –<br />

mesmo que populares – os historiadores<br />

desconsideraram as práticas de leitura<br />

próprias às condições de produção em que<br />

foram forja<strong>da</strong>s.<br />

Principalmente, porque o jornal é, para a<br />

história cultural e <strong>da</strong> literatura, o lugar por<br />

excelência <strong>da</strong> multiplici<strong>da</strong>de e <strong>da</strong><br />

heterogenei<strong>da</strong>de de vozes (POBLETE,<br />

2006), que amplia – se não nos deixarmos<br />

envolver pela catalogação, fixação e<br />

hierarquia de certas construções

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