1-102 - Universidade de Coimbra

A peste foi como que o primeiro acontecimento
d'esse fatídico reinado que devia terminar em Africa
com o desastre de Alcácer.
O rei e o povo não tiveram a principio a consciência
do mal. Este foi grassando no meio que a miséria
preparára ; e só quando tomou, quasi de repente,
toda a capital o paiz accordou.
Com os buboes descobriu-se e foi tratado o flagello;
viu-se que no curto espaço em que progredira
livremente tinha alcançado muito; o Monarcha chamou
aos paços do Castello vários médicos; e, depois
de reunidos, manifestou necessidade de ouvil-os.
Uns ponderaram-lhe que a doença era um mal
vulgar, que n'aquelle anno tinha tomado maior violência,
devido á invernia que tinha sido forte, e especialmente
fértil em humidades. Outros expressaram logo
que se tratava d'uma peste bem caracterizada á qual
eram necessários os maiores cuidados, devendo mesmo,
a partir d'aquelle momento, tratar-se do isolamento
dos doentes, e outras medidas que a pratica do
contagio antecedente tinha radicado na medicina.
A principio o rei hesitou. Depois foi pelos últimos
conselhos — os mais acertados — e preparou a partida
para Cintra com a Corte, nomeando uma Camara ou
Tribunal de Saúde para provêr ás necessidades do momento.
Havia porém pouco tempo que se retirára da Capital,
quando o flagello penetrou em Cintra e quasi
logo por todas as povoações próximas de Lisboa.
D Sebastião foi avisado. Extranhou o percurso
e mandou erigir ao santo do seu nome um templo;
ordenou fervorosas preces; e decretou que, com o
maior rigor, se observassem as medidas, que os me-