18.04.2013 Views

Hipólito e Fedra nos caminhos de um mito - Universidade de Coimbra

Hipólito e Fedra nos caminhos de um mito - Universidade de Coimbra

Hipólito e Fedra nos caminhos de um mito - Universidade de Coimbra

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Honra e paixão em <strong>Fedra</strong>, <strong>de</strong> Miguel <strong>de</strong> Unamuno<br />

aprofunda-se na solidão e na ausência <strong>de</strong> <strong>um</strong> filho, tema que se vincula a <strong>um</strong><br />

mundo em que os filhos outorgam sentido e transcendência à vida opaca das<br />

mulheres.<br />

No cabe resistencia. Esto así, contenido, me abrasa; revelado se curaría mejor.<br />

¡Está escrito, es fatal! Y si al me<strong>nos</strong> tuviese un hijo que me <strong>de</strong>fendiera. (I. 1)<br />

<strong>Fedra</strong> reconhece perante Pedro, <strong>de</strong> maneira indireta, o seu amor por<br />

<strong>Hipólito</strong>, e expressa-o sob a suposta imagem <strong>de</strong> mãe: “¡Le quiero, sí, le quiero<br />

con toda mi alma!” (I. 2). Na sua loucura, <strong>Fedra</strong> ameaça castigar <strong>Hipólito</strong> caso<br />

ele não se renda, e persua<strong>de</strong>-o com <strong>um</strong>a autorida<strong>de</strong> materna que entretanto<br />

está perdida:<br />

¿Con que no, eh? ¿con que no? Pues bien, oye y fíjate, mis últimas palabras, las<br />

<strong>de</strong>finitivas, óyelas y piensa bien en ello. Tu padre ha <strong>de</strong>bido notar ya que no me<br />

besas. Tu padre ve mi <strong>de</strong>macración y mi <strong>de</strong>sasosiego; tu padre aunque se calla<br />

ha <strong>de</strong> sospechar ya algo, lo sospecha. ¡Y se lo he <strong>de</strong> <strong>de</strong>cir yo... yo... yo! (II. 3)<br />

Na caracterização da personagem, Unamuno recupera o tópico da<br />

<strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> e da loucura femininas, imagem que se evi<strong>de</strong>ncia no corpo e na<br />

mente <strong>de</strong> <strong>Fedra</strong> quando confessa a <strong>Hipólito</strong> os seus sentimentos:<br />

¡Sí, vuelvo! Mira que no como, que no duermo, que no vivo, que tus ojos me<br />

queman, que muero <strong>de</strong> la sed <strong>de</strong> tus besos, que eso es el suplicio <strong>de</strong> Tántalo...<br />

¿Por qué no me besas como antes, <strong>Hipólito</strong>? (II. 3)<br />

Na sua fragilida<strong>de</strong> mental, <strong>Fedra</strong> apela à juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ambos, e busca<br />

persuadir <strong>Hipólito</strong>: “¡Y tenemos que vivir, vivir ante todo! Para algo somos<br />

jóvenes” (II. 3). O tópico do carpe diem como arg<strong>um</strong>ento é débil e não tem<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> concretizar-se porque, tal como indica Carmen Morenilla<br />

(2008: 442), “<strong>Fedra</strong> es más débil que las heroínas clásicas, no hay en ella lucha,<br />

sino que se abandona a la fatalidad; es una muchacha in<strong>de</strong>fensa sacada <strong>de</strong>l<br />

convento por la nodriza y que por agra<strong>de</strong>cimiento se casa con un hombre<br />

mayor, una muchacha protegida por un hombre maduro”.<br />

Tal como expusemos inicialmente, Unamuno <strong>de</strong>terminou a territorialida<strong>de</strong><br />

da sua personagem (cf. J. Dubatti 2005: 13); ainda assim, cabe-<strong>nos</strong> questionar<br />

se a versão unamuniana <strong>de</strong> <strong>Fedra</strong> é <strong>de</strong> todo distinta das suas referências<br />

clássicas, apesar da diferença <strong>de</strong>fendida pelo seu autor no início da obra e da<br />

contextualização da personagem n<strong>um</strong> ambiente espanhol e contemporâneo.<br />

De acordo com a análise que temos realizado, <strong>Fedra</strong> é <strong>um</strong>a mulher<br />

espanhola dos inícios do século XX, cuja vida está <strong>de</strong>limitada pelo domínio<br />

masculino e por todas as normas que regulam a vida social. A fatalida<strong>de</strong> da<br />

103

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!