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Hipólito e Fedra nos caminhos de um mito - Universidade de Coimbra

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José Augusto M. Ramos<br />

sendo familiar e ainda virgem (2Sm 13, 1-22). O nível social <strong>de</strong> ambos marca<br />

<strong>de</strong>cisivamente o significado <strong>de</strong>stes acontecimentos.<br />

Nos códigos legais <strong>de</strong> Israel, encontramos sínteses importantes <strong>de</strong> leis<br />

a proibir o relacionamento sexual <strong>de</strong> <strong>um</strong> israelita com diversas categorias<br />

<strong>de</strong> mulheres envolvidas por laços <strong>de</strong> parentesco, tais como a mãe, qualquer<br />

mulher do próprio pai, <strong>um</strong>a irmã, <strong>um</strong>a neta, <strong>um</strong>a filha da mulher do pai, <strong>um</strong>a<br />

irmã do pai ou da mãe, <strong>um</strong>a tia, <strong>um</strong>a nora, <strong>um</strong>a cunhada (Lv 18, 6-16), ou a<br />

sogra (Dt 27, 23).<br />

Como castigo do incesto anuncia-se a esterilida<strong>de</strong> (Lv 20, 21), que<br />

po<strong>de</strong> ser apenas enunciada como <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> mérito, mais do que<br />

da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> a provocar eventualmente. Particularmente duro parece ser o<br />

castigo <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nar à morte pelo fogo <strong>um</strong> homem que ass<strong>um</strong>e maritalmente<br />

<strong>um</strong>a mulher junto com <strong>um</strong>a filha da mesma (Lv 20, 14), <strong>de</strong>vendo os três serem<br />

con<strong>de</strong>nados à fogueira.<br />

Muito mais tar<strong>de</strong> e noutro contexto social, a relação sexual <strong>de</strong> <strong>um</strong> cristão<br />

<strong>de</strong> Corinto com a mulher do seu pai é castigada por Paulo com a expulsão da<br />

comunida<strong>de</strong> cristã (1Cor 5, 2.5).<br />

70<br />

Um instituto familiar <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> para viabilizar o amor<br />

Tal como acabamos <strong>de</strong> ver, o parentesco <strong>de</strong> linha vertical (filhos e netos e<br />

respetivas afinida<strong>de</strong>s, como sejam as noras e as sogras) bem como o parentesco<br />

<strong>de</strong> linha colateral (como irmãos, tios e sobrinhos) eram <strong>um</strong>a importante razão<br />

inibidora <strong>de</strong> casamento ou relacionamento sexual.<br />

No entanto, <strong>um</strong> novo enquadramento social e jurídico, incidindo neste<br />

mesmo espaço <strong>de</strong> parentescos inibitórios, acaba por florescer <strong>um</strong>a verda<strong>de</strong>ira<br />

instituição bíblica para garantir viabilida<strong>de</strong> a casos <strong>de</strong> amor em risco. É a<br />

instituição do levirato 2 .<br />

Trata-se <strong>de</strong> <strong>um</strong> instituto legal, em que a gran<strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> familiar<br />

entre as pessoas, longe <strong>de</strong> constituir <strong>um</strong> óbice ao amor, aparece precisamente<br />

como o seu principal fator <strong>de</strong> viabilização. O papel solidário do novo marido é<br />

tão importante que a i<strong>de</strong>ia do resgate passou a ser <strong>um</strong>a <strong>de</strong>signação alternativa<br />

para a mesma fórmula <strong>de</strong> casamento n<strong>um</strong>a endogamia estrita. É a instituição<br />

social do goel 3 , alguém que, em razão do seu próximo parentesco, tem sobre si<br />

a obrigação <strong>de</strong> “resgatar” <strong>um</strong>a viúva <strong>de</strong> <strong>um</strong> seu parente, sobretudo se ela ficou<br />

viúva e sem filhos (Dt 25, 5).<br />

2 O nome <strong>de</strong>ste instituto jurídico <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> “levir”, que significa 'irmão do marido' (Dt 25,5-10).<br />

3 O nome é o particípio ativo do verbo ga’al, que significa “resgatar”. A viúva era entendida<br />

como ficando em condição <strong>de</strong> servidão. Desta semântica acabou por se originar o conceito<br />

<strong>de</strong> re<strong>de</strong>ntor, conceito que, nesta sua origem, não sublinhava nenh<strong>um</strong> matiz amartológico. A<br />

evolução futura da sua semântica haveria, entretanto, <strong>de</strong> se transformar, como é sabido.

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