Hipólito e Fedra nos caminhos de um mito - Universidade de Coimbra
Hipólito e Fedra nos caminhos de um mito - Universidade de Coimbra
Hipólito e Fedra nos caminhos de um mito - Universidade de Coimbra
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Carlos A. Martins <strong>de</strong> Jesus<br />
cena, tínhamos em mente a conhecida pintura <strong>de</strong> Alexandre Cabanel, Phèdre,<br />
<strong>de</strong> 1880 (Musée Fabre, Montpellier, França), que reproduzimos.<br />
A postura <strong>de</strong> mulher abandonada à espera da morte, cujas roupas <strong>de</strong> dormir<br />
<strong>de</strong>ixam ver nesgas <strong>de</strong> <strong>um</strong> corpo sentido pela própria como indigno; as duas figuras<br />
femininas que a acompanham, <strong>um</strong>a prostrada na partilha do <strong>de</strong>sespero da rainha,<br />
outra que surge pela direita – supostamente a Ama, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo pela sua ida<strong>de</strong><br />
mais avançada; bem assim a própria organização cénica do quadro, essencialmente<br />
doméstico – esses alguns dos elementos que se <strong>nos</strong> afiguraram plausíveis para a<br />
<strong>nos</strong>sa encenação, no que à caracterização inicial <strong>de</strong> <strong>Fedra</strong> diz respeito (Imagem<br />
2). Porque, sobretudo na primeira meta<strong>de</strong> do drama, ele é fundamentalmente<br />
feminino, razão pela qual optámos, com auxílio do Coro, no momento em que<br />
entra em cena, por proce<strong>de</strong>r à montagem do próprio cenário. É nessa altura que<br />
<strong>um</strong>a estrutura neutra, utilizada já pela <strong>de</strong>usa Afrodite, no Prólogo, é vestida <strong>de</strong><br />
véus esvoaçantes e transformada em leito, <strong>um</strong>a presença frequente na cena grega,<br />
a acreditar no testemunho da pintura <strong>de</strong> vasos 12 . E <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, bem cedo, começa<br />
a ironia trágica dada pelos próprios objetos cénicos: as criadas preparam o leito<br />
12 Além do vaso que comentamos, damos o exemplo <strong>de</strong> <strong>um</strong>a hýdria lucana <strong>de</strong> figuras<br />
vermelhas <strong>de</strong> c. 410 a.C. atribuída ao pintor Amicos (Bari, Museu Arqueológico Provincial<br />
1535 = O. Taplin 1997, fig. 56), que se acredita representar o enredo do Éolo <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s. Ao<br />
centro, n<strong>um</strong> leito semelhante, jaz Cânace, com a espada na mão e já morta.<br />
200