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Hipólito e Fedra nos caminhos de um mito - Universidade de Coimbra

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<strong>Hipólito</strong> e a aprendizagem teatral: atuar em face do trágico<br />

é criar <strong>um</strong>a proximida<strong>de</strong> intimista com o espectador, talvez seja possível<br />

investigar tons <strong>de</strong> sussurro, modos confessionais <strong>de</strong> dizer o texto, <strong>de</strong> usar a<br />

palavra, <strong>de</strong> comunicar-se oralmente. Se, no entanto, o elevado pé direito da zona<br />

em que se localizam os girais conce<strong>de</strong>-<strong>nos</strong> efeitos <strong>de</strong> eco, po<strong>de</strong>-se tirar partido<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong>a musicalida<strong>de</strong> quase mon<strong>um</strong>ental para a colocação e a reverberação da<br />

voz no espaço. Ou seja, com a <strong>de</strong>vida atenção e com o paulatino “a<strong>de</strong>stramento”<br />

da sensibilida<strong>de</strong> em face do espaço <strong>de</strong> trabalho, o ator po<strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir, n<strong>um</strong><br />

único sítio, <strong>um</strong>a infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espacialida<strong>de</strong>s possíveis.<br />

Nesta etapa, por conseguinte, pedimos aos atores que continuassem<br />

a trabalhar com os mesmos objetos cênicos que tiveram em mãos na fase<br />

anterior, mas que <strong>de</strong>purassem as diversas ações experimentadas em <strong>um</strong>a<br />

narrativa concatenada (coerente ou não), para que, então, fosse possível<br />

<strong>de</strong>limitar espacialmente a cena em seus usos do espaço. Isto significava<br />

pensar, <strong>de</strong> imediato, na diferença <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> corpórea e <strong>de</strong> estado expressivo<br />

quando estou <strong>de</strong>ntro ou fora <strong>de</strong> cena. Para o espectador, tal entendimento<br />

não só informa códigos espaciais (on<strong>de</strong> começa e termina o espaço ficcional),<br />

mas possibilita a compreensão das ações enca<strong>de</strong>adas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong>a lógica <strong>de</strong><br />

começo, meio e fim. Mesmo que estejamos trabalhando <strong>nos</strong>sas criações fora<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong>a perspectiva aristotélica, os momentos <strong>de</strong> início e <strong>de</strong> término da ação<br />

espetacular permanecem imprescindíveis como separações entre a arte e a vida,<br />

entre o espaço-tempo do teatro e o do quotidiano.<br />

O trabalho com o outro<br />

O processo <strong>de</strong> preparação <strong>de</strong> elenco vivenciado pelo Thíasos, no outono<br />

<strong>de</strong> 2009, para a montagem <strong>de</strong> <strong>Hipólito</strong> teve, como esta breve reflexão já fez<br />

notar, suas preocupações focadas na figura do ator. Este ‘eu-artístico’, porém,<br />

só po<strong>de</strong>rá alçar o posto <strong>de</strong> ‘eu-teatral’ na medida em que se compreenda como<br />

<strong>um</strong> ‘eu-jogador’ – isto é, <strong>um</strong> sujeito atuante e criativo que só se reconhece como<br />

tal mediante as múltiplas diferenças que, incessantemente, a ele se apresentam<br />

no estar em face do outro. Atuar é, portanto, contracenar. Pensando tal campo<br />

<strong>de</strong> relações como <strong>um</strong> sistema rizomático, o conjunto <strong>de</strong> objetos e as relações<br />

espaciais po<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, serem consi<strong>de</strong>rados por si como ‘outros’, isto é, como<br />

alterida<strong>de</strong>s que permitem à pessoa do ator reconhecer-se em sua função teatral<br />

propriamente dita. Mas, <strong>um</strong>a vez dominados os objetos e as possibilida<strong>de</strong>s<br />

espaciais – elementos materiais inanimados, logo obedientes (ou quase<br />

sempre) às <strong>de</strong>terminações do ator –, chega a altura <strong>de</strong> encontrar no outro ator<br />

o espelhamento <strong>de</strong>cisivo para a construção dialógica da cena, do jogo cênico<br />

em seu sentido mais clássico e estrito.<br />

Neste ponto, ao a<strong>de</strong>ntrarmos o campo do jogo interpessoal, não<br />

abandonamos as perspectivas anteriormente trabalhadas, a fim <strong>de</strong> não separar os<br />

diversos jogos com os quais o ator, em cena, tem <strong>de</strong> lidar: o jogo com os objetos,<br />

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