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Hipólito e Fedra nos caminhos de um mito - Universidade de Coimbra

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Carlos A. Martins <strong>de</strong> Jesus<br />

e morte <strong>de</strong> <strong>Fedra</strong>, Teseu e <strong>Hipólito</strong> – a única que conservamos na íntegra –,<br />

pela primeira vez apresentada aos Atenienses em 428 a.C. e <strong>um</strong>a peça que havia<br />

também já pisado os palcos nacionais 8 . Antes, em data que <strong>de</strong>sconhecemos, o<br />

dramaturgo havia feito representar <strong>um</strong>a outra versão da tragédia, a que <strong>de</strong>ra o<br />

título <strong>de</strong> <strong>Hipólito</strong> Velado, que se sabe ter chocado o público, muito provavelmente<br />

pela postura apaixonada e sensual <strong>de</strong> <strong>Fedra</strong>, mulher casada, que tentava mesmo<br />

seduzir <strong>Hipólito</strong> e, perante a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> Teseu, mentia ao marido acusando<br />

o enteado, terminando este por ser vítima da imprecação do pai e ela, <strong>um</strong>a vez<br />

<strong>de</strong>scoberta a sua estratégia, por cometer suicídio 9 .<br />

Antes <strong>de</strong> refletir sobre as opções estéticas da <strong>nos</strong>sa encenação, importa<br />

esclarecer, sem gran<strong>de</strong>s pretensões científicas, alguns pontos <strong>de</strong>terminantes<br />

do <strong>nos</strong>so entendimento da peça. Na segunda vez que testou esse episódio<br />

<strong>mito</strong>lógico perante os Atenienses, e precavido pelo mau resultado da primeira<br />

experiência, sabemos que Eurípi<strong>de</strong>s conseguiu <strong>um</strong> dos quatro primeiros prémios<br />

da sua carreira, e parece certo que tal se ficou a <strong>de</strong>ver, entre as alterações que fez<br />

à intriga, à nova caracterização psicológica e moral da esposa <strong>de</strong> Teseu. Com<br />

efeito, o longo monólogo que dirige às mulheres <strong>de</strong> Trezena do Coro (vv. 374-<br />

431), n<strong>um</strong> misto <strong>de</strong> sincerida<strong>de</strong> e reflexão, não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser apreciado<br />

pela riqueza das emoções que, <strong>de</strong>sveladamente, manifesta. Julgam os críticos,<br />

<strong>de</strong> resto, que terá sido este passo a gran<strong>de</strong> aposta do dramaturgo na segunda<br />

versão do drama, na medida em que transforma <strong>um</strong>a mulher dominada pela<br />

paixão na rainha que reconhece o seu amor como <strong>um</strong> erro grave, perante o<br />

qual, com <strong>um</strong>a tranquilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espírito que chega a ser perturbante, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong><br />

pôr termo à vida. Tanto assim é que motiva, <strong>de</strong> imediato, a exaltação da sua<br />

castida<strong>de</strong> por parte do Coro, inútil perante a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> <strong>Fedra</strong>. A morte<br />

é inevitável, a única solução para os filhos, o marido e a própria honra.<br />

Mas esta cedência perante o gosto dos espectadores não retira, ao que<br />

<strong>nos</strong> parece, qualquer sincerida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentimentos ou autenticida<strong>de</strong> àquele que<br />

é, pelo me<strong>nos</strong> na primeira meta<strong>de</strong> da peça, o drama dominante do enredo e<br />

o que mais cativa a simpatia do público – o da esposa <strong>de</strong> Teseu. O <strong>Hipólito</strong><br />

8 Em 2005, os alu<strong>nos</strong> finalistas do curso <strong>de</strong> teatro da Escola Superior <strong>de</strong> Teatro e Cinema<br />

da Amadora produziram o <strong>Hipólito</strong> <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s, a partir da tradução <strong>de</strong> Fre<strong>de</strong>rico Lourenço,<br />

espetáculo que integrou a programação do Festival Internacional <strong>de</strong> Teatro <strong>de</strong> Tema Clássico,<br />

nesse mesmo ano, a 30 <strong>de</strong> junho, quando foi apresentado no Teatro Académico <strong>de</strong> Gil Vicente,<br />

em <strong>Coimbra</strong>. Merece ainda referência o espetáculo <strong>Hipólito</strong> - Monólogo masculino sobre a<br />

Perplexida<strong>de</strong>, <strong>um</strong> texto original <strong>de</strong> Mickael <strong>de</strong> Oliveira (Prémio Dramaturgia Maria Matos<br />

2007), com direção artística do ator e encenador John Romão, levado à cena em 2009 pelo<br />

grupo Colectivo 84, já aqui referido por Claudio Castro Filho (p. 177)..<br />

9 A melhor reconstituição da primeira versão <strong>de</strong> <strong>Hipólito</strong> continua a ser a <strong>de</strong> W. S. Barrett<br />

1964: 10 sqq. Note-se como foi esse o esquema da ação, no global, <strong>de</strong>pois adotado por Séneca<br />

e, na Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, por Racine, nas peças que, ambos, intitularam <strong>de</strong> <strong>Fedra</strong>. Sobre ambas,<br />

respetivamente, refletem no presente vol<strong>um</strong>e os textos <strong>de</strong> Mariana Matias, Carmen Arias<br />

Abellán e Marta Teixeira Anacleto.<br />

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