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Hipólito e Fedra nos caminhos de um mito - Universidade de Coimbra

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Roteiros bíblicos <strong>de</strong> <strong>Fedra</strong><br />

Para além <strong>de</strong> outros benefícios sociais procurados, este instituto funciona<br />

em benefício da mulher que fica viúva e sem filhos. Está em causa a sua proteção<br />

social. Mas <strong>um</strong>a intenção explícita é também a <strong>de</strong> suscitar <strong>de</strong>scendência para o<br />

irmão falecido. Entre o benefício da mulher e o benefício do homem <strong>de</strong>funto,<br />

os interesses divi<strong>de</strong>m-se; ou somam-se. O facto é que esta prática é <strong>de</strong> sentido<br />

único. Cria apenas a obrigação <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> dos “cunhados” para com a sua<br />

parente que enviuvou.<br />

Aliás, <strong>de</strong>finir este interesse po<strong>de</strong>rá ter provocado atitu<strong>de</strong>s opostas. Não se<br />

conhece em profundida<strong>de</strong> o nível <strong>de</strong> aplicação histórica <strong>de</strong>sta lei, mas também<br />

não se conhece <strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> história <strong>de</strong> recusa da mesma. O caso <strong>de</strong> recusa<br />

literariamente mais famoso é o <strong>de</strong> Onan que aceitou casar com a viúva do seu<br />

irmão, Er. Casou com ela, mas, <strong>de</strong>pois, recusou-se a engravidar a mulher, com<br />

a justificação <strong>de</strong> que os filhos que iriam nascer não seriam <strong>de</strong>le mas do seu<br />

falecido irmão (Gn 38, 9-10) 4 .<br />

Contrariando, por conseguinte, as inibições <strong>de</strong> parentesco relativamente<br />

ao casamento e outros relacionamentos sexuais, este casamento <strong>de</strong> levirato<br />

aproveita precisamente alg<strong>um</strong>as razões <strong>de</strong> parentesco para promover<br />

casamentos, transformando-o n<strong>um</strong>a obrigação <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>.<br />

Um caso literário muito famoso <strong>de</strong> casamento baseado nesta regra<br />

<strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> familiar é aquele que preenche e justifica todo o romance<br />

histórico <strong>de</strong> Rute. Pela história contada, este casamento apresentava bases <strong>de</strong><br />

plausibilida<strong>de</strong> muito precárias. O marido da viúva Rute não <strong>de</strong>ixara parentes<br />

diretos e próximos (Rt 1, 7-13). Mesmo assim, a estrangeira Rute volta<br />

com a sogra, também viúva, para a pátria originária <strong>de</strong>sta e o mérito da sua<br />

solidarieda<strong>de</strong> (Rt 1, 16-22) virá a ser compensado com o aparecimento <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

parente, disposto a c<strong>um</strong>prir o seu papel <strong>de</strong> re<strong>de</strong>ntor.<br />

As <strong>de</strong>liciosas peripécias romanescas que levaram à conquista do seu<br />

novo marido e re<strong>de</strong>ntor (Rt 3,1-4-6) são a expressão <strong>de</strong> que esta história era<br />

envolvida <strong>de</strong> aceitação e suscitava alg<strong>um</strong>a ternura e encanto. O elo final da<br />

história que faz <strong>de</strong> Rute <strong>um</strong>a das avós <strong>de</strong> David significa certamente <strong>um</strong>a<br />

gran<strong>de</strong> aceitação por parte daqueles que ouviam e se reconheciam naquela<br />

história (Rt 4,22).<br />

É também muito curioso o caso do casamento levirático <strong>de</strong> Judá e Tamar<br />

(Gn 38, 1-30). Casada primeiramente com Er, este morreu (Gn 38, 6-7).<br />

Casada, <strong>de</strong>pois, com o cunhado, Onan, este evitava engravidá-la e morreu,<br />

segundo o texto, em consequência disso (Gn 38, 8-10).<br />

Entretanto, o seu sogro, Judá, mandou a nora, Tamar, para casa do seu<br />

pai, enquanto esperava que o filho mais novo <strong>de</strong> Judá crescesse (Gn 38, 11),<br />

para po<strong>de</strong>r c<strong>um</strong>prir, por sua vez, a obrigação <strong>de</strong> levirato.<br />

4 É <strong>de</strong>sta personagem que recebe nome a prática <strong>de</strong>signada como onanismo.<br />

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