Hipólito e Fedra nos caminhos de um mito - Universidade de Coimbra
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Roteiros bíblicos <strong>de</strong> <strong>Fedra</strong><br />
esta circunstância não po<strong>de</strong>ria justificar também <strong>um</strong>a parte da insegurança que<br />
a relação entre <strong>Fedra</strong> e Teseu parece ter chegado a conhecer. A conveniência<br />
política não coinci<strong>de</strong> sempre com o sentido da experiência pessoal e esta po<strong>de</strong><br />
representar, por vezes, logros gritantes.<br />
Idilicamente, <strong>um</strong>a das cantigas do Cântico dos Cânticos apresenta como<br />
preocupação afetuosa <strong>de</strong> uns irmãos a <strong>de</strong> saber qual o papel que lhes caberia<br />
ass<strong>um</strong>ir relativamente ao futuro amoroso <strong>de</strong> <strong>um</strong>a sua irmã ainda pequena:<br />
Temos <strong>um</strong>a irmã pequena,<br />
a qual ainda não tem seios.<br />
Que faremos pela <strong>nos</strong>sa irmã,<br />
quando vierem falar nela?<br />
Se ela é <strong>um</strong>a muralha,<br />
nela faremos ameias <strong>de</strong> prata;<br />
se é <strong>um</strong>a porta,<br />
reforçá-la-emos com traves <strong>de</strong> cedro.<br />
A vivência familiar do tema helénico <strong>de</strong> <strong>Fedra</strong> po<strong>de</strong>rá não ter este teor<br />
irénico. Mas a situação é igualmente cúmplice do ponto <strong>de</strong> vista familiar: e não<br />
será esta a única vez que se po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>scobrir sentidos diferentes entre temas<br />
gregos e bíblicos, mesmo quando parecem ser materialmente coinci<strong>de</strong>ntes.<br />
C<strong>um</strong>plicida<strong>de</strong>s e conflitos domésticos do amor<br />
Po<strong>de</strong>m verificar-se casos em que <strong>um</strong> homem se dispõe a aceitar que a sua<br />
mulher possa camuflar a sua condição <strong>de</strong> casada, aceitando a eventualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> vir a ser mulher <strong>de</strong> outro, normalmente mais po<strong>de</strong>roso, sem se ver nisso<br />
dramas <strong>de</strong> maior. A implicação entre amor e exclusivida<strong>de</strong> sexual podia assim<br />
consentir exceções tranquilas. Verifica-se que este tópico conhecia alg<strong>um</strong> eco<br />
social. Por isso, dava azo a histórias que conheceram evi<strong>de</strong>nte atrativo literário.<br />
É por esse interesse que <strong>um</strong>a história <strong>de</strong>ste género aparece mais do que <strong>um</strong>a<br />
vez na Bíblia. Ela acontece com Abraão (Gn 12, 10-20) e, <strong>de</strong>pois, com Isaac<br />
(Gn 26,8-11). Ora, esta cedência não parece implicar nenh<strong>um</strong> me<strong>nos</strong>prezo<br />
pela própria mulher. A situação é, pelo contrário, consi<strong>de</strong>rada como <strong>um</strong> mal<br />
menor e po<strong>de</strong> ser consentida e reconhecida como benfazeja para o interesse<br />
<strong>de</strong> ambos os cônjuges. Até os <strong>de</strong> fora, os “inimigos”, acabam por ass<strong>um</strong>ir,<br />
relativamente a estes casos e sem hesitar, <strong>um</strong>a posição justa (Gn 26,10), que<br />
até os interessados parecem sublinhar com agrado.<br />
permitir que as suas princesas fossem dadas em casamento político para o estrangeiro. Aquilo<br />
que é referido a propósito <strong>de</strong> Salomão (1Rs 9,16; 11,1) <strong>de</strong>ve ser <strong>um</strong> caso atípico na política<br />
faraónica.<br />
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