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A CAPA - Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná

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tema<br />

ao invés <strong>de</strong> conseguir esse possível <strong>do</strong>mínio, o que nós<br />

médicos apren<strong>de</strong>mos? O que a escola <strong>de</strong> medicina nos<br />

ensina? Que, ao contrário <strong>do</strong> que qualquer pessoa lei-<br />

ga costuma pensar, não existe uma coisa certa para<br />

ser feita a cada situação... Que apesar <strong>de</strong> a <strong>Medicina</strong><br />

estar extremamente adiantada e <strong>de</strong> a ciência ter evoluí-<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong> maneira extraordinária, não temos todas as res-<br />

postas que gostaríamos <strong>de</strong> ter... Que nossos recursos<br />

não curam a não ser algumas poucas <strong>do</strong>enças <strong>de</strong> trata-<br />

mento cirúrgico e outro tanto <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças infecciosas...<br />

Que o fato <strong>de</strong> alguém estar sob os melhores cuida<strong>do</strong>s<br />

médicos possíveis, nos melhores hospitais, realizan<strong>do</strong><br />

exames <strong>de</strong> última geração ou sob a melhor forma <strong>de</strong><br />

tratamento que exista, não impe<strong>de</strong> a progressão <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminadas <strong>do</strong>enças, <strong>de</strong> aparecerem complicações e<br />

<strong>de</strong> acabar morren<strong>do</strong>. Ou seja, a escola <strong>de</strong> <strong>Medicina</strong>, ao<br />

contrário <strong>do</strong> que muitos possam pensar, nos torna pes-<br />

soas mais frágeis frente à situação <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença e com<br />

menos esperanças frente ao que possa advir <strong>de</strong>la. E<br />

ainda, nos ensina que <strong>de</strong>vemos ser ou parecer fortes<br />

frente a tu<strong>do</strong> isso. Ensina que nós somos os médicos,<br />

ou seja, alguém para quem todas as pessoas se voltam<br />

quan<strong>do</strong> não sabem o que fazer... Que o nosso raciocí-<br />

nio tem que permanecer lúci<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> os outros estão<br />

nervosos e per<strong>de</strong>m a calma. E que sob hipótese alguma<br />

<strong>de</strong>vemos <strong>de</strong>monstrar <strong>de</strong>sespero, por mais que nos sin-<br />

tamos assim...<br />

14<br />

Resumin<strong>do</strong>: nossa profissão nos diz claramente que<br />

um ser humano po<strong>de</strong> fazer pouca coisa para mudar <strong>de</strong>fi-<br />

nitivamente uma situação <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença, inclusive a própria,<br />

mas que isso é algo que o médico <strong>de</strong>ve carregar para si.<br />

Obviamente, diferentes mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa se su-<br />

perpõem. "Eu não sou igual aos meus pacientes", é um<br />

<strong>de</strong>les."O que acontece com eles não acontece comigo.<br />

Portanto, eu não preciso tomar meu medicamento para<br />

dislipi<strong>de</strong>mia ou hipertensão arterial da maneira que re-<br />

comen<strong>do</strong> para os outros. Eu não preciso fazer os exames<br />

<strong>de</strong> screening que <strong>de</strong>veriam<br />

ser feitos." E, naturalmente,<br />

as complicações aparecem.<br />

Existem outros que pensam di-<br />

ferente. "Vou fazer tu<strong>do</strong> muito<br />

direitinho, direitinho <strong>de</strong>mais..."<br />

São mil e um exames, com<br />

chances <strong>de</strong> que um ou outro<br />

mostre resulta<strong>do</strong>s anormais,<br />

e que para serem esclareci<strong>do</strong>s<br />

levam a mais exames ou mesmo a tratamentos <strong>de</strong>sne-<br />

cessários... que também causam complicações.<br />

O que <strong>de</strong>ve ser feito quan<strong>do</strong> existem <strong>do</strong>is médicos,<br />

um <strong>de</strong> cada la<strong>do</strong> da escrivaninha da sala <strong>de</strong> consulta?<br />

O melhor conselho que po<strong>de</strong>ria dar é o <strong>de</strong> que seja for-<br />

malmente esqueci<strong>do</strong> que o médico <strong>do</strong>ente é médico.<br />

Que ele seja investiga<strong>do</strong>, trata<strong>do</strong> e instruí<strong>do</strong> como se<br />

não o fosse. Que se permita, como se permite ao pa-<br />

ciente não médico, a expressão <strong>do</strong> me<strong>do</strong>, das incerte-<br />

zas e da tristeza por estar <strong>do</strong>ente, sem nunca <strong>de</strong>ixar<br />

que a chama da esperança se apague. Que, da mesma<br />

maneira que fazemos com o paciente habitual, se per-<br />

mita que o <strong>do</strong>ente participe das <strong>de</strong>cisões e que se res-<br />

peite seus pontos <strong>de</strong> vista sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> compartilhar<br />

da responsabilida<strong>de</strong> sobre a <strong>de</strong>cisão final. Afinal <strong>de</strong><br />

contas, aquilo que se dá por um la<strong>do</strong>, é o que se recebe<br />

<strong>de</strong> outro, porque com inscrição no CRM ou sem, somos<br />

to<strong>do</strong>s seres humanos.<br />

"NOSSA PROFISSÃO NOS DIZ<br />

CLARAMENTE QUE UM SER<br />

HUMANO PODE FAZER POUCA<br />

COISA PARA MUDAR DEFINITI-<br />

VAMENTE UMA SITUAÇÃO DE<br />

DOENÇA, INCLUSIVE A PRÓ-<br />

PRIA, MAS QUE ISSO É ALGO<br />

QUE O MÉDICO DEVE CARRE-<br />

GAR PARA SI."<br />

Drª. Thelma Skare (PR).

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