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A CAPA - Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná

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tema<br />

rocirurgiões, fisiatras, clínicos especializa<strong>do</strong>s em <strong>do</strong>enças<br />

musculares, alguns <strong>de</strong>les presentes à primeira reunião da<br />

Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Neurologia, que ocorreu em Curitiba<br />

em 1963, segun<strong>do</strong> recente artigo histórico <strong>de</strong> Hélio<br />

Teive. Se algum fez o diagnóstico claro e firme <strong>de</strong> tromboembolismo<br />

vertebrobasilar, não convenceu o entourage <strong>do</strong><br />

paciente; esses continuaram atrás <strong>de</strong> alguma arterite, rara,<br />

misteriosa, que causasse uma <strong>do</strong>ença tão grave e "estranha".<br />

Vasculite por lues, lis te riose, tuberculose, outras menos<br />

prováveis, foram alternativas sérias o suficiente para<br />

tirar a atenção da mudança <strong>de</strong> hábitos <strong>de</strong> vida.<br />

Angiologistas e cirurgiões vasculares fizeram sua<br />

parte, até prescreveram heparina para uma trombose<br />

femoral súbita. Mas o corpo clínico não convenceu o médico<br />

impaciente. Ninguém falava em emagrecer, comer<br />

pouco sal, os remédios <strong>de</strong> pressão alta eram <strong>de</strong>pressivos<br />

e broxantes, quan<strong>do</strong> não alucinatórios. Não se soube da<br />

importância <strong>de</strong> manter esses pacientes com montes <strong>de</strong><br />

Lasix, com o tanque vazio, até os anos 90. O cigarro era<br />

uma coisa meio charmosa, meio <strong>do</strong> mal, mas ninguém<br />

realmente parava <strong>de</strong> fumar.<br />

Os muitos irmãos <strong>do</strong> nosso médico impaciente, que<br />

viviam da mesma maneira, logo morreram <strong>de</strong> uma <strong>do</strong>ença<br />

vascular sistêmica, precoce, progressiva, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

vasos. As mulheres, magras e não fumantes, tiveram <strong>do</strong>ença<br />

<strong>de</strong> pequenos vasos terminais, <strong>de</strong> progressão lenta.<br />

Será que os médicos da época ignoravam esta <strong>do</strong>ença?<br />

Ou será que o impaciente preferia não aceitar o veredito<br />

e procurava diagnósticos alternativos esdrúxulos?<br />

Sem dúvida tu<strong>do</strong> seria mais simples com dietas e tratamentos<br />

anti-hipertensivos mais civiliza<strong>do</strong>s, exames que<br />

<strong>de</strong>monstram objetivamente o que o neurologista "adivinha"<br />

pelo exame clínico e pelo conhecimento fisiopatológico.<br />

Uma boa angio-ressonância com imagem por difusão<br />

teria <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> o problema. A polipílula, ou pílula<br />

da vida, controlaria a hipertensão. Belas nutricionistas<br />

resolveriam o restante.<br />

Tratamentos mais eficientes para diagnósticos mais<br />

comprova<strong>do</strong>s, com certeza, levam a uma maior a<strong>de</strong>são<br />

ao tratamento. Hoje, vemos hipertensos malignos ilesos,<br />

16<br />

sem seqüelas em qualquer órgão <strong>de</strong> circulação terminal,<br />

após 20 anos <strong>de</strong> diagnóstico. Mas tivemos que esperar<br />

décadas pelo <strong>de</strong>saparecimento <strong>do</strong>s conceitos <strong>de</strong> hipertensão<br />

puramente sistólica, medida só em repouso, ou<br />

reflexa ao AVC, que mataram<br />

tanta gente, e foram "UM MÉDICO É COMO UM PILObiblicamente<br />

ensina<strong>do</strong>s nas TO, UMA MULHER BONITA, UM<br />

faculda<strong>de</strong>s, resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> INDUSTRIAL OU UM POLÍTICO<br />

imperialismo americano na PODEROSO. PACIENTES ACOSTUmedicina<br />

curitibana. MADOS A MANDAR, RESOLVER O<br />

Um médico é como um QUE FAZEM, TOMAM DECISÕES.<br />

piloto, uma mulher bonita, PEQUENOS DEUSES, COM UM<br />

um industrial ou um político ENTOURAGE GRANDE, INFLUENTE<br />

po<strong>de</strong>roso. Pacientes acostu- E CHEIA DE OPINIÕES, INCLUSIVE<br />

ma<strong>do</strong>s a mandar, resolver o SOBRE TROCAR DE MÉDICO.<br />

que fazem, tomam <strong>de</strong>cisões.<br />

Pequenos <strong>de</strong>uses, com um entourage gran<strong>de</strong>, influente<br />

e cheia <strong>de</strong> opiniões, inclusive sobre trocar <strong>de</strong> médico. É<br />

pouco provável que o mesmo profissional atenda um colega<br />

continuamente.<br />

Além <strong>do</strong> progresso da <strong>Medicina</strong> e da saú<strong>de</strong> comunitária,<br />

o que mais po<strong>de</strong>ria ter ajuda<strong>do</strong> nosso médico impaciente<br />

a não sucumbir antes <strong>do</strong>s 50 anos a 13 AVEs?<br />

Hoje em dia acredito que uma simples providência teria<br />

minora<strong>do</strong> a magnitu<strong>de</strong> da tragédia. A cobrança <strong>de</strong> honorários<br />

médicos coloca um limite imediato na fogueira das<br />

vaida<strong>de</strong>s que se estabelece em muitos casos, ao <strong>de</strong>finir<br />

os papéis <strong>de</strong> médico e paciente, profissional e cliente.<br />

Como fazem paulistas e americanos, entre outros. Sem<br />

este limite os atores começam a se comportar como bipolares<br />

tipo I: ficam eufóricos, saem da casinha, querem<br />

chamar médicos, dar opiniões, fazer exames, prescrever<br />

remédios, duvidar <strong>de</strong> diagnósticos. Mais ou menos como<br />

os pacientes <strong>de</strong> certos planos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossos dias.<br />

No caso, o buraco era mais em baixo, pois nosso médico<br />

impaciente não cobrava <strong>de</strong> ninguém. Ficava amigo<br />

<strong>de</strong> to<strong>do</strong>s. Quan<strong>do</strong> não era inimigo, claro. Fez bem à socieda<strong>de</strong>,<br />

ganhou nome <strong>de</strong> rua. Então era difícil cobrar <strong>de</strong>le,<br />

ainda mais nos anos 60. Sinuca <strong>de</strong> bico.<br />

Dr. Paulo Rogério M. <strong>de</strong> Bittencourt (PR).

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