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A CAPA - Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná

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arte pictórica<br />

Em se tratan<strong>do</strong> <strong>de</strong> artistas <strong>do</strong>entes, po<strong>de</strong>-se partir <strong>do</strong><br />

homem e sua saú<strong>de</strong> ou ausência <strong>de</strong>la para uma aproximação<br />

<strong>de</strong> suas obras. Uma incursão <strong>de</strong>sse porte, on<strong>de</strong> se<br />

atravessa a arte pela medicina, além <strong>de</strong> muito arriscada,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> teorias médicas consistentes, <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentação<br />

eficiente sobre o objeto que se estuda e, sobretu<strong>do</strong>,<br />

conhecimento artístico. Por exemplo, da <strong>do</strong>ença articular<br />

<strong>de</strong> Peter Paul Rubens, os <strong>do</strong>cumentos comprobatórios são<br />

somente cartas escritas por ele e, <strong>de</strong> forma muito especulativa,<br />

alguns <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> suas telas. Por outro la<strong>do</strong>, o<br />

quadro clínico <strong>de</strong> Raoul Dufy foi muito bem <strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong>,<br />

principalmente durante seu tratamento nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

Muito <strong>do</strong> que sabemos hoje sobre a evolução da <strong>do</strong>ença<br />

articular <strong>de</strong> Dufy se <strong>de</strong>ve aos registros <strong>de</strong> prontuá rios<br />

médicos oriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Jewish Memorial Hospital e <strong>do</strong> Massachussets<br />

General Hospital, on<strong>de</strong> esteve interna<strong>do</strong>.<br />

Em relação a conhecimentos artísticos, introduzo<br />

alguns comentários sobre as relações da metáfora pictórica<br />

<strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>sses artistas com suas condições enfermas.<br />

As duas principais formas metafóricas da arte<br />

visual são a representação e a expressão. Somente se o<br />

especta<strong>do</strong>r estiver sintoniza<strong>do</strong> com a obra e ainda possuir<br />

a experiência <strong>de</strong>sejável para uma análise <strong>de</strong>la é que<br />

as reais intenções <strong>do</strong> artista po<strong>de</strong>m ser apreciadas. Isto<br />

é <strong>de</strong>safia<strong>do</strong>r e fascinante porque, no final, to<strong>do</strong> artista<br />

tenta imprimir uma marca para o especta<strong>do</strong>r. Obviamente,<br />

também não po<strong>de</strong>mos prescindir <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> psicológico<br />

das obras <strong>de</strong> arte para uma melhor aproximação<br />

sobre elas e isso também <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossas experiências<br />

enquanto admira<strong>do</strong>res.<br />

Entrevistei diversos estudantes <strong>de</strong> arte e percebi que<br />

existe, para a maioria <strong>de</strong>les, uma carência <strong>de</strong> conhecimentos<br />

relaciona<strong>do</strong>s a <strong>do</strong>enças e o impacto <strong>de</strong>las para<br />

a saú<strong>de</strong> humana e, conseqüentemente, para a produção<br />

artística. Lógico, enten<strong>do</strong> que esse conteú<strong>do</strong> não é espera<strong>do</strong><br />

para a formação <strong>de</strong> estudantes <strong>de</strong> artes. Mas esse<br />

conhecimento po<strong>de</strong> tanto modificar nossas percepções<br />

<strong>de</strong> obras <strong>de</strong> arte quanto nossas próprias percepções<br />

38<br />

corporais. O que <strong>de</strong>sejei enfatizar nesta produção é que<br />

essa experiência está além <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> unicamente<br />

visual. Conhecer as variáveis que envolvem a produção<br />

artística como os i<strong>de</strong>ais filosóficos, políticos e culturais<br />

<strong>do</strong> artista, sua vida familiar<br />

e até mesmo suas <strong>do</strong>enças<br />

"É POSSÍVEL USAR CONHEpo<strong>de</strong><br />

ter um reflexo na me-<br />

CIMENTOS MÉDICOS PARA<br />

lhor qualida<strong>de</strong> da experiência<br />

EXPLICAR A ARTE. É POSSÍVEL<br />

gestáltica que uma obra <strong>de</strong><br />

EXEMPLIFICAR DOENÇAS E<br />

arte po<strong>de</strong> proporcionar.<br />

DOENTES COM MANIFESTA-<br />

Enten<strong>do</strong> que é claramente<br />

ÇÕES ARTÍSTICAS E INDO MAIS<br />

pretensioso explicar todas as<br />

ALÉM, ACREDITO, ENQUANTO<br />

manifestações <strong>de</strong> arte através<br />

PROFESSOR E MÉDICO, QUE É<br />

<strong>de</strong> conhecimentos médicos,<br />

POSSÍVEL MESMO MINISTRAR<br />

porém as ciências da saú<strong>de</strong> e,<br />

TODO UM CONTEÚDO PROGRAparticularmente,<br />

as ciências<br />

MÁTICO MÉDICO TENDO POR<br />

médicas enquanto ciências in-<br />

FOCO A ARTE."<br />

vestiga<strong>do</strong>ras e modifica<strong>do</strong>ras<br />

das próprias condições humanas<br />

têm <strong>de</strong> certa forma um significa<strong>do</strong> para a interpretação<br />

<strong>do</strong> objeto artístico. A arte é <strong>de</strong> alguma forma aquilo<br />

que somos, pois a enten<strong>do</strong> como a forma mais expressiva<br />

<strong>de</strong> nossa condição humana.<br />

Acredito que a formação <strong>de</strong> profissionais que lidam<br />

diretamente com a saú<strong>de</strong> humana passa necessariamente<br />

pela inserção das artes nos seus processos <strong>de</strong> formação.<br />

Entretanto, essa inserção não é tão simples como<br />

parece. A operacionalização <strong>de</strong>ste conteú<strong>do</strong> artístico no<br />

ensino da saú<strong>de</strong> humana usualmente necessita <strong>de</strong> certo<br />

aprofundamento para se atingir resulta<strong>do</strong>s satisfatórios.<br />

É possível utilizar arte para ministrar conteú<strong>do</strong>s não artísticos.<br />

É possível usar conhecimentos médicos para explicar<br />

a arte. É possível exemplificar <strong>do</strong>enças e <strong>do</strong>entes<br />

com manifestações artísticas e, in<strong>do</strong> mais além, acredito,<br />

enquanto professor e médico, que é possível mesmo ministrar<br />

to<strong>do</strong> um conteú<strong>do</strong> programático médico ten<strong>do</strong> por<br />

foco a arte. Precisamos urgentemente <strong>de</strong>sta dialética.<br />

Dr. Val<strong>de</strong>rílio Feijó Azeve<strong>do</strong> (PR).

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