A CAPA - Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná
A CAPA - Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná
A CAPA - Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
"Uma maturida<strong>de</strong> tranqüila e<br />
uma velhice elegante<br />
são mil vezes preferíveis à<br />
caricatura em que nos<br />
tornamos na busca da juventu<strong>de</strong> eterna."<br />
Numa página <strong>de</strong> revista, <strong>de</strong>paro com um espetáculo<br />
<strong>de</strong>primente: uma milionária americana <strong>de</strong> 62 anos entra<br />
num restaurante expon<strong>do</strong> a fotógrafos e freqüenta<strong>do</strong>res<br />
um rosto tão <strong>de</strong>sfigura<strong>do</strong> por plásticas, preenchimentos<br />
e outros processos que não era só feio e disforme, mas<br />
assusta<strong>do</strong>r. Nada mais ali combinava, as sobrancelhas<br />
em alturas diferentes, os olhos artificialmente enviesa<strong>do</strong>s<br />
estavam <strong>de</strong>semparelha<strong>do</strong>s e o nariz sumia num rosto<br />
<strong>de</strong> lua cheia, fruto <strong>de</strong> ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s esticamentos e exageradas<br />
invasões.<br />
"NÃO É A JUVENTUDE QUE<br />
Há poucos dias vi por aca-<br />
INTERESSA, MAS A FELICIDADE<br />
so uma conhecida que não en-<br />
E A ALEGRIA. OLHAR-SE NO<br />
contrava havia anos. Reconhe-<br />
ESPELHO E PODER DIZER: BEM,<br />
cia <strong>de</strong> longe, <strong>de</strong> costas para<br />
ESTA SOU EU, AQUI ESTÁ A<br />
MINHA HISTÓRIA, O QUE FOR mim, e quan<strong>do</strong> ela se virou<br />
EXCESSIVO VOU CORRIGIR, na ca<strong>de</strong>ira senti um choque.<br />
MAS NÃO QUERO SER UMA O corpo elegante <strong>de</strong> uma mu-<br />
ADOLESCENTE ETERNA, A NÃO lher madura era o mesmo. O<br />
SER QUE MINHA ALMA PERMA- rosto era uma coisa re<strong>do</strong>nda<br />
NEÇA INFANTILÓIDE."<br />
e intumescida, lisa, com pouco<br />
das verda<strong>de</strong>iras e simpáticas<br />
feições <strong>de</strong> que eu me lembrava tão bem. Os lábios estavam<br />
enormes, com algo <strong>de</strong> genital, os olhos pareciam<br />
pequenos <strong>de</strong>mais, e seu nariz adunco, em lugar <strong>de</strong> ter<br />
si<strong>do</strong> corrigi<strong>do</strong> para um pouco menos adunco – embora<br />
personalida<strong>de</strong><br />
<br />
<br />
nunca tivesse si<strong>do</strong> feio –, era uma pobre batatinha perdida<br />
numa paisagem hirta e inexpressiva.<br />
Sei que no folclore a meu respeito consta entre outras<br />
coisas que sou "contra cirurgia plástica". Nada mais<br />
incorreto e tolo. Eu mesma, viúva pela primeira vez aos<br />
49 anos, <strong>de</strong> maneira súbita e brutal, aos 51 tinha o rosto<br />
tão <strong>de</strong>vasta<strong>do</strong> pelo abalo que um amigo, excelente cirurgião,<br />
fez um lifting discretíssimo e pequeno, que não me<br />
rejuvenesceu – nem eu quereria –, mas talvez tenha tira<strong>do</strong><br />
um pouco <strong>do</strong> ar cansa<strong>do</strong> e triste <strong>de</strong>mais.<br />
Portanto, sou a favor <strong>de</strong> recursos, não para enganar<br />
o tempo, o que em geral acaba em resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sfavoráveis<br />
e patéticos, pedin<strong>do</strong> sempre mais e mais intervenções,<br />
mas para abrandar, eventualmente corrigir. A<br />
fim <strong>de</strong> que a pessoa, homem ou mulher, se sinta bem na<br />
própria pele. Não para que aos 60 a gente pareça ter 30<br />
anos, e aos 80 viva a melancólica ilusão <strong>de</strong> ter 50.<br />
Não é a juventu<strong>de</strong> que interessa, mas a felicida<strong>de</strong> e a<br />
alegria. Olhar-se no espelho e po<strong>de</strong>r dizer: bem, esta sou<br />
eu, aqui está a minha história, o que for excessivo vou<br />
corrigir, mas não quero ser uma a<strong>do</strong>lescente eterna, a<br />
não ser que minha alma permaneça infantilói<strong>de</strong>.<br />
Observo uma atriz importante dan<strong>do</strong> entrevista e na<br />
contraluz estão evi<strong>de</strong>ntes as marcas impie<strong>do</strong>sas <strong>de</strong> cirurgias,<br />
fios <strong>de</strong> ouro, ou seja lá o que for, e outras intrusões<br />
que aos poucos vão se manifestan<strong>do</strong>. Logo virão novas<br />
intervenções para corrigir aquilo, e assim será, talvez,<br />
até o fim da vida. A não ser que um amigo, um familiar ou<br />
um médico pie<strong>do</strong>so lhe diga para parar, em lugar <strong>de</strong> se<br />
torturar numa busca irracional fadada ao fracasso. A angústia<br />
por manter-se jovem muito além <strong>de</strong>ssa fase po<strong>de</strong><br />
59