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A CAPA - Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná

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ealização <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> um novo medicamento, ao mesmo<br />

tempo em que criou dificulda<strong>de</strong>s para o financiamento<br />

por meio das fontes oficiais, facilitou a aproximação<br />

da indústria farmacêutica com profissionais vincula<strong>do</strong>s<br />

às universida<strong>de</strong>s, comprometen<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma marcante<br />

a sua isenção. Pesquisa<strong>do</strong>res passaram a ser meros<br />

presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> serviço para a indústria <strong>de</strong> medicamentos.<br />

Os projetos <strong>de</strong> pesquisa são fecha<strong>do</strong>s e chegam até<br />

eles para que apenas recrutem os pacientes, apliquem o<br />

protocolo <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> um novo medicamento, teste<br />

ou equipamento e <strong>de</strong>volvam os da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s para a<br />

indústria. Não têm autonomia, geralmente vedada por<br />

contrato, para a publicação <strong>do</strong>s seus da<strong>do</strong>s. Mesmo que<br />

pu<strong>de</strong>ssem fazê-lo, como estes estu<strong>do</strong>s geralmente são<br />

multicêntricos, o número <strong>de</strong> pacientes testa<strong>do</strong>s em uma<br />

unida<strong>de</strong> isolada não daria cre-<br />

"A PRÁTICA DE SÓ DIVULGAR<br />

dibilida<strong>de</strong> ao estu<strong>do</strong>. Obvia-<br />

RESULTADOS POSITIVOS,<br />

mente, os resulta<strong>do</strong>s finais <strong>do</strong><br />

CARACTERIZANDO UMA VERDAestu<strong>do</strong><br />

multicêntrico somente<br />

DEIRA ENGANAÇÃO CIENTÍFIserão<br />

publica<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> se<br />

CA, CERTAMENTE OCORRE COM<br />

mostrarem favoráveis.<br />

MUITOS OUTROS MEDICAMEN-<br />

TOS, SE NÃO COM TODOS." Esta situação foi recentemente<br />

explicitada por Erick<br />

H. Turner e colabora<strong>do</strong>res, por meio <strong>de</strong> uma excelente<br />

publicação no NEJM, intitulada Selective publication of<br />

anti<strong>de</strong>pressant trials and its influence on apparent efficacy,<br />

e posteriormente comentada por Riad Younes na<br />

edição 479 da revista semanal brasileira Carta Capital.<br />

Nada menos <strong>do</strong> que 49% <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s das pesquisas<br />

com anti<strong>de</strong>pressivos mostram-se negativos e ficam escondi<strong>do</strong>s<br />

nos arquivos da FDA. O jornalista escreve textualmente<br />

o seguinte: "Quan<strong>do</strong> um médico discute com um<br />

paciente a escolha <strong>de</strong> uma droga para o tratamento <strong>de</strong><br />

um quadro <strong>de</strong>pressivo, ele se baseia principalmente nos<br />

resulta<strong>do</strong>s disponíveis em revistas médicas. Para essas<br />

drogas, se ele analisasse simplesmente os estu<strong>do</strong>s divulga<strong>do</strong>s,<br />

concluiria que 94% <strong>de</strong>les confirmam vantagens.<br />

Se tivesse acesso aos resulta<strong>do</strong>s guarda<strong>do</strong>s nas gavetas,<br />

terapêutica<br />

<strong>de</strong>scobriria que somente 51% <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s foram positivos.<br />

Portanto, 49% são negativos. E isso é muito diferente.<br />

Um paciente, ou um médico, não seria tão facilmente<br />

convenci<strong>do</strong> a iniciar uma terapia baseada em chances<br />

meio a meio <strong>de</strong> obter resulta<strong>do</strong>s benéficos."<br />

Também não po<strong>de</strong>mos achar que a não divulgação <strong>de</strong><br />

resulta<strong>do</strong>s negativos ocorra apenas com os anti<strong>de</strong>pressivos.<br />

A prática <strong>de</strong> só divulgar resulta<strong>do</strong>s positivos, caracterizan<strong>do</strong><br />

uma verda<strong>de</strong>ira enganação científica, certamente<br />

ocorre com muitos outros medicamentos, se não<br />

com to<strong>do</strong>s.<br />

Aquelas universida<strong>de</strong>s que não fazem uma reflexão sobre<br />

o assunto e permitem que essas pesquisas direcionadas<br />

sejam realizadas pelos seus <strong>do</strong>centes e alunos, presta<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> serviço da indústria farmacêutica que insistem<br />

em dizer que são pesquisa<strong>do</strong>res, acabam sen<strong>do</strong> cúmplices<br />

<strong>de</strong>sta gran<strong>de</strong> distorção, com ares <strong>de</strong> negociata.<br />

Organismos responsáveis pela avaliação e controle<br />

<strong>de</strong> pesquisas em to<strong>do</strong>s os países criam normas na tentativa<br />

<strong>de</strong> coibir esses <strong>de</strong>svios. Quatro universida<strong>de</strong>s americanas<br />

proíbem a participação <strong>de</strong> alunos em pesquisas<br />

financiadas pela indústria. Infelizmente estes mecanismos<br />

<strong>de</strong> controle têm si<strong>do</strong> burla<strong>do</strong>s e suplanta<strong>do</strong>s pelo<br />

interesse econômico da indústria farmacêutica e seus<br />

colabora<strong>do</strong>res. Vários exemplos po<strong>de</strong>m ser cita<strong>do</strong>s.<br />

Para as chamadas diretrizes ou consensos terapêuticos,<br />

realiza<strong>do</strong>s por especialistas e com o aval das respectivas<br />

socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> especialida<strong>de</strong>s, o mínimo que se<br />

po<strong>de</strong>ria esperar seria que os seus participantes não estivessem<br />

envolvi<strong>do</strong>s com este tipo <strong>de</strong> conflito. Não bastaria<br />

apenas explicitar o conflito, mas sim proibir a participação.<br />

Infelizmente não é o que vem ocorren<strong>do</strong>.<br />

Quan<strong>do</strong> a FDA, até então tida como uma agência regula<strong>do</strong>ra<br />

séria, aceita a não divulgação <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>sfavoráveis à indústria farmacêutica, em quem os profissionais<br />

que receitam os medicamentos e a população<br />

que vai usá-los po<strong>de</strong>rão confiar?<br />

Dr. Paulo Roberto Donadio (PR).<br />

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