18.04.2013 Views

A CAPA - Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná

A CAPA - Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná

A CAPA - Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

iátrica<br />

levar aos maiores <strong>de</strong>satinos. Como os mo<strong>de</strong>los que se<br />

nos apresentam em nossa cultura superficial indicam que<br />

o bom é ter sempre 15 anos, se não tivermos alguma bagagem<br />

interior (o que inclui a cultural) para remar contra<br />

a correnteza, em breve faremos parte da legião <strong>de</strong> mutiladas,<br />

as quais têm pouco <strong>de</strong>las mesmas, peles fanadas<br />

expostas em <strong>de</strong>cotes ousa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> precários vestidinhos.<br />

Nem to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> vai gostar <strong>do</strong> que escrevo aqui e digo<br />

em muitas palestras: dirão que madureza e velhice implicam<br />

<strong>do</strong>ença e <strong>de</strong>terioração. Uma maturida<strong>de</strong> tranqüila e<br />

uma velhice elegante são mil vezes preferíveis à carica-<br />

<br />

<br />

60<br />

D’ALÉM-MAR<br />

Estimada Helena,<br />

Sei que estás cansada e há motivos. Mas sempre que<br />

o mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>saba sobre nós, é necessário resistir, ter concomitante<br />

serenida<strong>de</strong> para ver o estrago, sem minimizálo,<br />

e se perguntar: o que posso ganhar com isso?<br />

Por mais duro e <strong>do</strong>loroso, sempre há a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ganhos nas catástrofes pessoais. Melhor não tê-las,<br />

claro. Se existentes, sei que po<strong>de</strong>mos extrair gran<strong>de</strong> experiência<br />

<strong>de</strong>ssa vivência. É o que fizeram Viktor E. Frankl,<br />

Bruno Bettelheim, ou o Cesare Pavese <strong>de</strong> O Ofício <strong>de</strong> Viver.<br />

Dilacera<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>rrota<strong>do</strong>s, mas sobreviventes no que<br />

há <strong>de</strong> mais humano, o amor pela própria humanida<strong>de</strong>. É<br />

esse sentimento que purgas <strong>de</strong> ti.<br />

O que me dá a certeza <strong>de</strong> tua força? Os poemas que<br />

enviastes ao editor. Denotam a tentativa <strong>de</strong> elaboração<br />

<strong>de</strong> teu cansaço. E os publico, para reflexão <strong>de</strong> nossos leitores<br />

cansa<strong>do</strong>s, mas não sacia<strong>do</strong>s <strong>de</strong> veredas para superação.<br />

Não te fragmentes. Inteirar é preciso.<br />

tura em que nos tornamos na busca <strong>do</strong> paraíso perdi<strong>do</strong>,<br />

que é também uma ilusão. Pois a juventu<strong>de</strong> nunca foi a<br />

melhor época da vida nem a única época interessante,<br />

embora possa cintilar e ferver mais. A cada fase da vida<br />

seu próprio encanto e, claro, suas próprias <strong>do</strong>res. Então,<br />

quem sabe a gente – homens e mulheres – procure gostar<br />

<strong>de</strong> si um pouco mais, trocan<strong>do</strong> a fatal tentativa <strong>de</strong><br />

negar o tempo por saú<strong>de</strong>, equilíbrio, beleza real e alegria,<br />

que fazem um boca<strong>do</strong> <strong>de</strong> falta neste mun<strong>do</strong> nosso.<br />

Lya Luft<br />

(Escritora, Ponto <strong>de</strong> Vista, Veja n.º 2050)<br />

CANSAÇO<br />

Estou cansa<strong>do</strong>, é claro,<br />

Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansa<strong>do</strong>.<br />

De que estou cansa<strong>do</strong>, não sei:<br />

De nada me serviria sabê-lo,<br />

Pois o cansaço fica na mesma.<br />

A ferida dói como dói<br />

E não em função da causa que a produziu.<br />

Sim, estou cansa<strong>do</strong>,<br />

E um pouco sorri<strong>de</strong>nte<br />

De o cansaço ser só isto –<br />

Uma vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> sono no corpo,<br />

Um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> não pensar na alma,<br />

E por cima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> uma transparência lúcida<br />

Do entendimento retrospectivo...<br />

E a luxúria única <strong>de</strong> não ter já esperanças?<br />

Sou inteligente: eis tu<strong>do</strong>.<br />

Tenho visto muito e entendi<strong>do</strong> muito o que tenho visto,<br />

E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,<br />

Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.<br />

Álvaro <strong>de</strong> Campos.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!