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versão pdf - Livraria Imprensa Oficial

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Meu pai, às voltas com seus próprios demônios,<br />

a dificuldade de vencer os desafios que a si mesmo<br />

endereçava, a derrota como o fantasma perturbador,<br />

que alimentava seus sonhos desde<br />

criança. Meu pai se isolava em suas terras arrendadas,<br />

numa luta desigual com a natureza e com<br />

seu próprio destino de quem jamais pode esquecer<br />

que um dia, com apenas 12 anos, perdera o<br />

pai e, com ele, a fortuna e o poder, dilapidados<br />

pela inépcia comercial de minha avó e pelas<br />

mãos de “amigos” e parentes ambiciosos.<br />

Era assim. Meu pai era essa ausência marcante,<br />

um oco que eu me via obrigado a estar sempre<br />

preenchendo com o que eu conhecia dele. E de<br />

nada adiantavam suas voltas à cidade, o tempo<br />

que passava conosco. Ali era o domínio de minha<br />

mãe, leoa. E meu pai era só explicações, dificuldades,<br />

discursos. Meu pai, o verdadeiro, era<br />

aquela solidão do ermo, onde podia enfrentar<br />

sozinho as inquietações de seu espírito inconformado,<br />

místico, sofrido.<br />

Em vão, no entanto, eu tentei viver esse<br />

personagem. Seria uma saída possível, a solidão<br />

é parte de minha personalidade. Mas não é<br />

tudo. É impossível viver cheio de segredos,<br />

imagens, idéias - e aceitar morrer com elas, no<br />

silêncio. Esse, aliás, é o azar de criminosos e<br />

mentirosos.<br />

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