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Do amanhecer ao pr-do-sol - Igreja Metodista de Vila Isabel

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<strong>pr</strong>eocupava <strong>de</strong>veras. Elias <strong>pr</strong>ecisava entregar-se o<br />

quanto antes à orientação médica. Por isso, seguimos<br />

para os Ignácios, bairro da Tocha, on<strong>de</strong> ficaríamos em<br />

casa da avó Ana Rodrigues Azenha, que aguardava a<br />

to<strong>do</strong>s, ansiosamente.<br />

Naturalmente, os parentes e certos amigos vieram<br />

nos visitar, entre os quais o <strong>pr</strong>imogênito <strong>do</strong> Raul<br />

Brandão, os filhos (ou entea<strong>do</strong>s) da avó Rosa, as<br />

cunhadas, e outros. Então, Elias saiu em busca <strong>de</strong><br />

tratamento, seguin<strong>do</strong> a orientação <strong>de</strong> um respeitável<br />

clínico. Na Serra da Estrela, havia diversos sanatórios<br />

<strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s à recuperação <strong>de</strong> enfermos, e ele alojou-se ali<br />

o tempo necessário, sem esquecer a família,<br />

evi<strong>de</strong>ntemente. Assim, <strong>ao</strong> cabo <strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos, pô<strong>de</strong> voltar<br />

em <strong>de</strong>finitivo <strong>ao</strong> nosso convívio e reiniciar as ativida<strong>de</strong>s<br />

comerciais. Enquanto isso, minha mãe e a avó Rosa se<br />

entregaram à lavoura <strong>de</strong> suas terras. Recor<strong>do</strong>-me, <strong>de</strong><br />

certo dia <strong>ao</strong> <strong>amanhecer</strong>, quan<strong>do</strong> meu pai levou-me no<br />

colo para apanhar o comboio <strong>do</strong> trajeto Coimbra-Figueira<br />

da Foz, transpon<strong>do</strong> searas e pinheirais.<br />

Visto obter excelentes resulta<strong>do</strong>s na recuperação da<br />

sua saú<strong>de</strong>, meu pai re<strong>sol</strong>veu fixar-se na cida<strong>de</strong> marítima<br />

<strong>de</strong> Figueira da Foz, a qual atendia bem <strong>ao</strong>s seus<br />

interesses. Montou um escritório, alugou um armazém e<br />

ajustou as coisas alusivas <strong>ao</strong> complexo negócio <strong>do</strong><br />

bacalhau. Os pesca<strong>do</strong>res <strong>de</strong>sse peixe hipotecavam-lhe o<br />

<strong>pr</strong>oduto entregan<strong>do</strong>-o <strong>ao</strong> fim <strong>de</strong> cada viagem. Cabia <strong>ao</strong><br />

negociante o restante <strong>do</strong> em<strong>pr</strong>eendimento, como, por<br />

exemplo, o <strong>pr</strong>eparo e a vendagem <strong>do</strong> peixe. Para tanto,<br />

viu-se na contingência <strong>de</strong> conseguir um sócio, reunin<strong>do</strong> o<br />

capital <strong>de</strong> ambos. Descobriu, porém, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> algum<br />

tempo, que aquele o estava enganan<strong>do</strong> e <strong>de</strong>cidiu<br />

separar-se <strong>do</strong> velhaco. Mas, quan<strong>do</strong> foi à casa bancária<br />

retirar o <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>io dinheiro, verificou que o <strong>de</strong>sonesto havia<br />

saca<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> com a ajuda <strong>do</strong> gerente, seu padrinho <strong>de</strong><br />

casamento. Adiante-se que a polícia nunca conseguiu<br />

encontrar o ladrão. Elias era homem <strong>de</strong> boa fé, e, por<br />

isso, enfrentou muitas situações semelhantes durante<br />

sua vida.<br />

Entrementes, <strong>de</strong>sfrutei <strong>de</strong> excelentes experiências na<br />

Figueira da Foz, localização vizinha <strong>de</strong> Coimbra. Travei<br />

relação com a <strong>pr</strong>aia <strong>de</strong> banhos local; fiz bons amigos;<br />

visitei os arre<strong>do</strong>res por mais <strong>de</strong> uma vez, inclusive<br />

Barcos, cida<strong>de</strong> carbonífera. Mas o mais importante para<br />

mim foi o tempo passa<strong>do</strong> na escola <strong>pr</strong>imária <strong>do</strong> mestre<br />

João Evangelista, no centro da cida<strong>de</strong>, que eu<br />

frequentava diariamente, <strong>de</strong> manhã e à tar<strong>de</strong>. A<strong>pr</strong>endi<br />

não só a ler e a escrever, mas também rudimentos <strong>de</strong><br />

gramática, história e geografia. Foi um <strong>de</strong>senvolvimento<br />

rápi<strong>do</strong> e útil; a porta <strong>de</strong> acesso a muitas outras ciências.<br />

Lembro-me daquele dia fantástico quan<strong>do</strong> meu pai<br />

chegou em casa à noite, trazen<strong>do</strong> um jornal.<br />

Inocentemente, peguei o referi<strong>do</strong> órgão e comecei a ler.<br />

Ambos ficamos admira<strong>do</strong>s: eu, pela <strong>de</strong>scoberta, e meu<br />

genitor, pela novida<strong>de</strong>. Agora eu podia ver o que antes<br />

me estava oculto. Aconteceu verda<strong>de</strong>iro milagre.<br />

<strong>Do</strong>is outros acontecimentos causaram <strong>pr</strong>ofunda<br />

mudança no meu viver. Ambos enquanto ainda<br />

residíamos na Figueira da Foz. Recor<strong>do</strong>-me, a <strong>pr</strong>opósito,<br />

<strong>de</strong> que a<strong>pr</strong>eciava o regresso das embarcações que<br />

vinham da pesca <strong>do</strong> bacalhau. Ao longe, as velas <strong>de</strong><br />

pano luziam por sua alvura, mas quan<strong>do</strong> se a<strong>pr</strong>oximavam<br />

<strong>do</strong> cais a<strong>pr</strong>esentavam-se rotas e sujas. A<strong>pr</strong>endi que não<br />

se <strong>de</strong>ve julgar segun<strong>do</strong> as aparências e sim após<br />

criterioso exame. Pessoas que, à <strong>pr</strong>imeira vista, nos<br />

im<strong>pr</strong>essionam mal, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> convivermos com elas,<br />

modificamos o critério. Eu já passei por isso. Conheci

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