22.01.2015 Views

Francisco, 2011 - IESE

Francisco, 2011 - IESE

Francisco, 2011 - IESE

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

crescido cerca de 41% enquanto a produção alimentar real per capita tenha diminuído<br />

cerca de 9% (DNEAP, 2010), e que o défice corrente e a dívida pública tenham tendência<br />

para se agravar (Castel-Branco, 2010a; Ossemane, 2010; Ossemane, <strong>2011</strong>; Massarongo e<br />

Muianga, <strong>2011</strong>). Embora a desigualdade monetária, medida pelo coeficiente de Gini, não<br />

se tenha alterado significativamente neste período, segundo as estatísticas oficiais (DNE-<br />

AP, 2010), a incapacidade da economia fornecer bens básicos de consumo a baixo custo ao<br />

mercado doméstico e de gerar empregos decentes em larga escala teve por consequência<br />

que o crescimento económico é altamente ineficaz em reduzir pobreza. Em termos globais,<br />

a percentagem da população vivendo em pobreza absoluta não diminuiu nos últimos<br />

sete anos, a severidade da pobreza aumentou ligeiramente e o número de pessoas pobres<br />

aumentou em dois milhões (DNEAP, 2010).<br />

Portanto, a questão central de ownership reside não apenas numa disputa entre<br />

receptor (agente) e doador (principal), mas sim no conflito entre diferentes grupos,<br />

interesses e perspectivas sociais de desenvolvimento que lutam por ownership (ou<br />

exercício de influência) sobre as decisões de política pública e a sua implementação.<br />

ABDICAÇÃO DE OWNERSHIP COMO ESTRATÉGIA DEFENSIVA<br />

Uma agência receptora que esteja sob pressão dos doadores para adoptar um<br />

certo pacote de reformas em troca de fluxos financeiros, mas que, também, esteja sob<br />

pressão de grupos sociais de interesse, negativamente afectados pela reforma, para<br />

resistir ou ajustar a reforma, pode ser forçada a escolher uma estratégia defensiva para<br />

a sua própria protecção política que assegure (i) que os doadores vejam que o seu pacote<br />

de reformas está sendo adoptado mas que a resistência social às reformas é forte,<br />

embora não afecte o compromisso da agência com a reforma, e (ii) que os oponentes<br />

domésticos à reforma entendem que o pacote de reformas é imposto pelos doadores<br />

e que o espaço político para a iniciativa e inovação institucional é limitado. Uma das<br />

várias formas de atingir este resultado é abdicar de tomar decisões estratégicas nos<br />

casos em que estas decisões podem ser contestadas e nenhum grupo de interesse é suficientemente<br />

forte e homogéneo para impor o seu interesse ao conjunto da sociedade<br />

com contestação mínima (Chang, 1996).<br />

Dada a dependência da ajuda e a fragmentação do governo, esta abordagem é<br />

conveniente se e quando surge a necessidade de atribuir a responsabilidade do fracasso<br />

ou do alto custo social das reformas a alguém. A agência receptora pode liderar a implementação<br />

da reforma e, ao mesmo tempo, deixar aberta uma porta de fuga para inverter<br />

a pressão política associada com a falha e com os custos da mudança, atribuindo-os às<br />

422<br />

Desafios para Moçambique <strong>2011</strong> Dependência de Ajuda Externa

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!