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Francisco, 2011 - IESE

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(definido pelos doadores como um orçamento orientado, no geral, pelos Objectivos<br />

de Desenvolvimento do Milénio), os fluxos da ajuda continuarão e poderão aumentar<br />

(Ernst & Young, 2006a).<br />

Em 2005, uma missão de doadores de alto nível, liderada pela então Ministra<br />

para a Cooperação Internacional da Noruega, chegou a Maputo para mobilizar apoio<br />

para fazer avançar a agenda da Declaração de Paris: ajuda programática, harmonização<br />

entre doadores, ownership nacional da agenda de desenvolvimento, liderança do<br />

governo receptor, alinhamento dos doadores com as políticas e prioridades governamentais<br />

e prestação mútua de contas (Killick, Castel-Branco e Gerster, 2005; Paris<br />

High Level Forum, 2005). Um dos membros desta delegação declarou vigorosamente<br />

que toda a gente sabe que a pobreza é combatida com o investimento na saúde, na educação,<br />

água e saneamento e estradas, e que o que é necessário é a liderança do governo<br />

para implementar tal programa. Desta declaração segue-se que, ou a ownership não é<br />

nada mais do que retórica vazia, ou é desnecessária para a liderança, compromisso e<br />

sucesso (já que toda a gente já sabe o que fazer). Ou então, ownership significa fazer o<br />

que toda a gente sabe ser a acção correcta o que, na prática, não é tão fácil de identificar<br />

(já que o que toda a gente sabe são ideias bem diferentes sobre o que fazer, e sabe-o em<br />

contextos sociais e históricos específicos). Uma funcionária sénior do sector da saúde<br />

em Moçambique clarificou o seu pensamento sobre este assunto, afirmando que, perante<br />

a dependência da ajuda e a estratégia do governo para maximizar os fluxos da<br />

ajuda, ownership significa que o governo adopta o programa que os doadores querem<br />

que ele adopte antes de os doadores lhe dizerem para o adoptar (Ernst & Young,<br />

2005a).<br />

Em Moçambique, os discursos dominantes sobre a pobreza são focados em<br />

privação individual do acesso a serviços e satisfação das necessidades básicas, quer<br />

porque os pobres têm insuficiente capital humano, quer porque a sua mentalidade<br />

e cultura miserabilistas os empurram e mantêm na pobreza (Castel-Branco, 2010b;<br />

Brito, 2010; Chichava, 2010). Portanto, pobreza não é entendida como um processo<br />

económico, social e político relacionado com os padrões de crescimento, acumulação<br />

e desenvolvimento. Por que razão estão as pessoas privadas desses serviços e da capacidade<br />

para satisfazer as suas necessidades básicas Como é que essa privação se pode<br />

manter apesar do robusto crescimento económico e da aparente estabilidade macroeconómica<br />

Por que razão essa privação segue padrões sociais diferenciados por género,<br />

região, grupo etário e padrão e história de emprego assalariado e acesso a recursos<br />

naturais Como é que as dinâmicas sociais e de reacção das famílias e indivíduos con-<br />

Dependência de Ajuda Externa Desafios para Moçambique <strong>2011</strong> 425

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