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Francisco, 2011 - IESE

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capitalistas mercantilistas e especuladores, as classes médias nacionais queriam acesso<br />

a propriedade a baixo custo, as organizações internacionais pretendiam um compromisso<br />

político com um modelo de capitalismo, e o capital estrangeiro esperava por<br />

oportunidades para expandir o seu controlo sobre indústrias oligopolistas (cerveja,<br />

açúcar, cimento) e recursos naturais no quadro das suas estratégias regionais. Portanto,<br />

a questão de ownership é muito complexa – todos os diferentes grupos tinham um<br />

certo grau de ownership, pelo que a privatização foi adoptada com relativa facilidade,<br />

mas cada um perseguia diferentes interesses e os níveis de competência, percepção,<br />

informação e capacidade de exercer influência eram diferenciados e assimétricos.<br />

Segundo, existe uma diferença substancial entre as motivações retóricas para a<br />

reforma e os seus resultados, pois, uma vez que as motivações são aceites e as reformas<br />

adoptadas, o processo da reforma fica mais importante do que o resultado. No<br />

caso das privatizações, o argumento de eficácia económica, emprego e mobilização de<br />

recursos motivou a decisão sobre o programa, mas, uma vez que este foi aprovado e<br />

começou a ser implementado, a avaliação centrou-se na velocidade e quantidade de<br />

privatização. Isto é, uma vez que ficou estabelecido que a “privatização é boa para a<br />

economia”, o centro de atenção passou para a quantidade da privatização em vez de<br />

para a análise do seu impacto real.<br />

Terceiro, implementação é tão ou mais importante do que a decisão e a motivação<br />

da decisão, pois determina os resultados práticos. Portanto, ownership de decisões<br />

pode ser partilhada por vários grupos perseguindo interesses diferentes, mas ownership<br />

da condução prática da implementação das decisões é exercida pelos grupos mais<br />

informados e influentes, capazes de impor os seus interesses como factor dominante<br />

no processo de implementação de política pública.<br />

Assim, não há dúvidas de que o governo esteve comprometido com a privatização,<br />

mas tal compromisso não tinha nada a ver com a ownership e liderança. As<br />

pressões internas e externas, uma percepção de ganhos fiscais e políticos e a ligação<br />

condicional do progresso na privatização com o desembolso de ajuda ou empréstimos<br />

externos parecem ter sido de longe mais importantes para encorajar o compromisso<br />

do governo do que quaisquer teorias sobre ownership.<br />

Para além do mais, o governo nunca aceitou a culpa pelos maus resultados no<br />

que respeita ao impacto social e económico das privatizações. A culpa foi desviada<br />

para os doadores, enquanto o governo ganhava o elogio por duas medidas de sucesso:<br />

a transferência dos activos do sector público para o sector privado e a escala e velocidade<br />

das privatizações.<br />

Dependência de Ajuda Externa Desafios para Moçambique <strong>2011</strong> 431

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