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Francisco, 2011 - IESE

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questão é como alcançar tal visão partilhada. O artigo sugere que, seja qual for a visão,<br />

ela é o produto de conflito e compromissos possíveis em torno da identificação<br />

e articulação de interesses e abordagens à volta dos quais se constrói a ideia de visão<br />

ampla e partilhada, acima dos interesses de grupo. Portanto, a visão nem é neutra<br />

nem igualmente partilhada por todos, mas é construída em torno de linhas de força<br />

que se impõem a todos. Os percursos divergentes das indústrias de açúcar e caju em<br />

Moçambique mostram como a visão partilhada é produto da capacidade de tomar um<br />

conjunto de problemas e interesses e transformá-los na visão e abordagem dominante,<br />

mesmo que isso signifique que a “visão partilhada” não seja mais do que a “visão imposta<br />

por um grupo, mas aceite pela maioria dos outros”.<br />

O processo de construção de uma visão amplamente partilhada de desenvolvimento<br />

também envolve um trade-off fundamental entre forma e substância. Em<br />

Moçambique, o Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta 2006-2009<br />

(PARPA II) e a Agenda 2025 são exemplos deste trade-off ou compromisso. Para<br />

manter uma visão de desenvolvimento amplamente partilhada a nível nacional, estes<br />

planos ou agenda são excessivamente gerais e incluem tudo, sem escolhas claras e<br />

óbvias de prioridades, abordagens e desafios. Uma vez que tudo está incluído e tudo é<br />

possível, estes planos não inspiram nem orientam ou coordenam. Apesar da retórica,<br />

o papel destes documentos na condução dos processos de escolha de opções políticas<br />

fundamentais, tomada de decisões, implementação e avaliação de resultados é insignificante.<br />

Qualquer abordagem que seja suficientemente geral para atrair consenso<br />

incontestado é inútil do ponto de vista de política; e qualquer outra que seja suficientemente<br />

específica para dirigir e articular a escolha de opções, tomada de decisões e<br />

implementação é contestável e contestada. A arte de conquistar e exercer ownership<br />

testa-se neste trade-off.<br />

Assim, a questão é quem é que lidera a articulação da visão partilhada e em<br />

torno de que assuntos e interesses se desenvolve tal liderança, tal visão e tal partilha.<br />

A resposta depende, obviamente, de cada caso e das condições sociais, políticas e económicas<br />

que são historicamente específicas.<br />

Poderá a dependência da ajuda ser consistente com ownership nacional O artigo<br />

sugere que ownership nacional é a forma menos precisa do já vago conceito de ownership,<br />

tal como é definido na literatura dominante. Assim, o problema com o ownership<br />

nacional não é apenas a dependência da ajuda, mas o próprio conceito de ownership<br />

nacional. Deixando este problema de lado, ownership é um processo de disputa pelo<br />

poder de influenciar a formulação e a implementação de políticas em contextos so-<br />

454<br />

Desafios para Moçambique <strong>2011</strong> Dependência de Ajuda Externa

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