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Francisco, 2011 - IESE

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Este assunto leva à questão da medição do sucesso. Existe um objectivo e medida<br />

racional de sucesso social e económico, ou a medida depende dos interesses desejados,<br />

das questões colocadas, propostas e percepções Se este for o caso, medir<br />

ou avaliar o sucesso é parte da luta pelo ownership de tal modo que, por exemplo, a<br />

questão “será que as privatizações em Moçambique foram um sucesso ou fracasso”<br />

não só não pode ser respondida em geral, como também é totalmente sem sentido se<br />

for colocada em geral. Se a pergunta for qualificada, as respostas podem ser diferentes.<br />

Por exemplo, se a pergunta for “será que privatização foi um sucesso na transferência<br />

de propriedade pública para privada”, a resposta poderá ser “sim”. Mas se a pergunta<br />

for se “privatização aumentou receitas fiscais”, ou “ajudou a diversificar a base produtiva”,<br />

a resposta será “não”.<br />

O exemplo das privatizações em Moçambique, mencionado numa secção anterior,<br />

mostra que, para justificar a acção (privatizações), um quadro idílico de razões<br />

positivas é apresentado: impacto no emprego, salários, qualificações, produção, produtividade,<br />

investimento, tecnologia, qualificações, ligações, diversificação do comércio,<br />

nível de vida, etc. Uma vez que a acção (privatizações) é justificada com base na asserção<br />

de que os efeitos dessa acção são os que estão listados, por causa dos pressupostos<br />

que somos compelidos a aceitar sobre a maior eficácia e eficiência do capitalismo<br />

privado que opera em mercados competitivos, ninguém se importa mais em procurar<br />

saber se os objectivos que justificaram a acção estão efectivamente a ser alcançados.<br />

Tudo o que importa é que o programa de privatizações seja implementado. Assim, é<br />

possível escrever dois relatórios perfeitamente honestos e empiricamente fundamentados<br />

que mostram que as privatizações em Moçambique foram simultaneamente<br />

um grande sucesso (1.500 firmas privatizadas em 10 anos, altas taxas de crescimento<br />

económico e a emergência de uma classe proprietária nacional) e um grande fracasso<br />

(40% das empresas privatizadas faliram, o emprego líquido diminuiu, os salários reais<br />

caíram, a produtividade não aumentou, o grosso do investimento foi em empresas<br />

novas e em recursos minerais e energéticos e não nas privatizadas, etc.). As conclusões<br />

destes relatórios dependem das questões que são colocadas a respeito do programa<br />

de privatizações, que, por seu turno, dependem de como diferentes grupos sociais e<br />

analistas percebem os assuntos que realmente importam e os benefícios ou perdas<br />

decorrentes da privatização.<br />

Este ponto pode ser generalizado a praticamente todas as avaliações de sucesso<br />

no desenvolvimento social e económico. Moçambique já foi apresentado como um<br />

exemplo de reconstrução democrática do Estado, mas também como falsa demo-<br />

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Desafios para Moçambique <strong>2011</strong> Dependência de Ajuda Externa

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