chama-nos da selva O cinema de Apichatpong Weerasethakul

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Cinema Um cinema que funde todas as ordens de realidade, o vivido e o sonhado, a experiência e a imaginação, a profundidade e a ligeireza, a metafísica e o aparte anedótico Estreiam Aprender o Apichatpong É um filme tão especial como são especiais os momentos em que o cinema de encontra consigo próprio. Luís Miguel Oliveira O Tio Boonmee Que se Lembra das Suas Vidas Anteriores Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives De Apichatpong Weerasethakul, com Thanapat Saisaymar, Jenjira Pongpas, Sakda Kaewbuadee, Natthakarn Aphaiwong. M/12 mmmmn Novo Wes Anderson Lisboa: CinemaCity Classic Alvalade: Sala 3: 5ª 2ª 3ª 4ª 13h40, 15h55, 19h, 21h30 6ª 13h40, 15h55, 19h, 21h30, 24h Sábado 13h40, 15h55, 18h15, 21h30, 24h Domingo 13h40, 15h55, 18h15, 21h30; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 14: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h05, 21h30, 24h Domingo 11h30, 14h, 16h30, 19h05, 21h30, 24h Porto: Arrábida 20: Sala 8: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 14h, 16h30, 19h10, 21h45, 00h30 3ª 4ª 16h30, 19h10, 21h45, 00h30 Não é preciso muito tempo, bastam dois ou três planos (até que o boi amarrado se solte e se aventure por uma floresta filmada em “noite americana”, ou que assim parece) para se ter a sensação, muito clara, muito nítida, mas também, como dizer, muito calma, de que “O Tio Boonmee que se Lembra das suas Vidas Anteriores” é uma janela que alguém abriu, uma corrente de ar fresco soprada sobre a tristíssima avalanche de entulho que semanalmente se abate sobre o Jason Schwartzmann e Bill Murray regressam para o novo filme do realizador e argumentista Wes Anderson. Além destes já recorrentes actores, participam pela primeira vez no universo do cineasta Tilda Swinton e Bruce Willis. Ainda com um papel mais secundário, confirma-se Edward Norton (“Clube de Combate”) e Francis McDormand (Óscar em “Fargo”). O filme, que sucede à animação em técnica “stop motion” “Fantástico Senhor Raposo”, é intitulado “Moonrise Kingdom”. Descreve a aventura de um grupo de amigos em Nova Inglaterra, nos EUA, que desesperadamente procuram um casal de jovens que desapareceu. Bruce Willis é o xerife, “circuito comercial”. É um filme extraordinário, em todos os sentidos da palavra, um filme que devolve o cinema à sua (quase) esquecida vocação demiúrgica. É verdadeiramente um filme de “criação”, de criação de um “mundo”. E se com isto evocamos o que Godard escreveu, há muitos anos, sobre o “Índia” de Rossellini (que se tratava do “filme da criação do mundo”), fazemo-lo porque “O Tio Boonmee”, no seu trabalho sobre o folclore, a mitologia, a história, empregues como maneira de “dobrar” a realidade sobre a sua própria fantasia (ou vice-versa), tem momentos em que nos traz o filme de Rossellini à cabeça – e evidentemente não apenas por, também aqui, os animais falarem (coisa que provavelmente desde o filme de Rossellini eles não faziam tão bem). Lembra-nos mais coisas: Disney (o Disney genuíno), Powell/Pressburger, o “Brigadoon” de Minnelli, e claro, os indianos, certas coisas de Satyajit Ray ou Ritwik Ghatak, influência maior do cinema tailandês que talvez Apichatpong Weerasethakul nunca tivesse denunciado desta maneira. É assim tão especial, como são especiais os momentos, cada vez mais raros, em que sentimos o cinema a reencontrar-se consigo próprio. De resto, Apichatpong disse que “O Tio Boonmee” era a sua “pequena lamentação” pelo cinema. Voltaremos a ela, porque parece condensar-se no derradeiro plano. O observador distante totalmente alheado do folclore e das tradições tailandesas, em vez de lamentar que a sua ignorância o condene a ver “O Tio Boonmee” como um objecto hermético, deve congratular-se por isso mesmo: está em óptima posição para remeter tudo o que não percebe para o “folclore e as tradições personagem que enquanto procura o casal tem um caso amoroso com a mãe da rapariga. desaparecida – Francis McDormand. Bill Murray será o problemático pai da rapariga. “Moonrise onrise Kingdom” tem argumento de Wes Anderson n e do filho de Francis Coppola, Roman Coppola. tailandesas” e limitar-se a apreciar o que vê. É mais misterioso, e se calhar ainda mais belo, assim. E no entanto, perfeitamente claro: é como dizia Jean Douchet nos anos 50, não precisamos de “aprender japonês” para perceber Mizoguchi, basta que “aprendamos Mizoguchi”. Precisaremos, de facto, de saber alguma coisa da Tailândia para perceber o fabuloso intróito da princesa desfigurada à procura da sua imagem “redimida” pelo reflexo nas águas do lago? Ou por que razão foi o Tio Boonmee, numa vida anterior, um peixe-gato? Ou porque é que os homens-macacos de olhos que brilham no escuro confraternizaram e tiraram fotografias com os soldados que andavam pela floresta a matar comunistas? Claro que não, basta que saibamos “aprender Apichatpong”. E o “Apichatpong”, aqui, é um cinema que funde todas as ordens de realidade, o vivido e o sonhado, a experiência e a imaginação, a profundidade e a ligeireza, a metafísica e o aparte anedótico (a não negligenciar, o seu sentido de humor, que já conhecíamos pelo menos desde “Síndromas e um Século”), com uma graça, uma delicadeza e um equilíbrio pouco menos que perfeitos. O Tio Boonmee, que está moribundo (mal dos rins), evidentemente não morre; ou por outra, a morte entrega-o ao que foi a sua vida, aos seus fantasmas, aos seus remorsos, aos seus desejos, às suas memórias, que se materializam por acção combinada do cinema e da natureza. É isto “O Tio Boonmee”, é isto “o Apichatpong”. E os que ficam depois dele, pobres diabos, ficam especados em frente a um minúsculo ecran de televisão. É o derradeiro plano. O homem da maratona “O Assaltante” reinventa o filme de género à luz do novo cinema alemão, com resultados francamente conseguidos. Jorge Mourinha O Assaltante Der Räuber De Benjamin Heisenberg Com Florian Wotruba, Andreas Lust, Franziska Weisz MMMnn “O Assaltante” não seria metade do filme que é sem a performance do austríaco Andreas Lust Lisboa: Teatro do Bairro. Domingo 21h30 É um feliz reencontro com o regresso à exibição comercial regular da Zero em Comportamento, já longe das sessões semanais do Cine 222 e depois de um interregno forçado pela concentração na organização do IndieLisboa. “O Assaltante” esteve a concurso no Indie 2010, depois de ter feito parte da selecção competitiva de Berlim 2010, e é assinado por Benjamin Heisenberg, cineasta alemão, colega de geração da “escola de Berlim” e de cineastas como Angela Schanelec ou Christoph Hochhäusler (e, já agora, também neto do físico Werner Heisenberg). Mas é também um filme que faz uma “ponte” entre os “novos alemães” e os “novos austríacos” (como Jessica Hausner, cujo “Lourdes” chegará em breve às salas, ou Ulrich Seidl), sendo uma co-produção austríaca (desenvolvida pelo documentarista Nikolaus Geyrhalter) baseada num caso verídico. Na Áustria dos anos 1980, um 34 • Sexta-feira 1 Abril 2011 • Ípsilon
O TNSJ É MEMBRO DA MECENAS TNSJ aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Teatro Carlos Alberto 8-17 Abr 2011 Cinemateca Portuguesa R. Barata Salgueiro, 39 Lisboa. Tel. 213596200 Sexta, 01 Pigmalião Pygmalion De Anthony Asquith, Leslie Howard. Com Leslie Howard, Wendy Hiller, Wilfrid Lawson. 95 min. M12. 15h30 - Sala Félix Ribeiro Blackmail De Alfred Hitchcock. Com Anny Ondra, John Longden, Sara Algood. 85 min. 19h - Sala Félix Ribeiro A Cor do Dinheiro The Color of Money De Martin Scorsese. Com Mary Elizabeth Mastrantonio, Paul Newman, Tom Cruise.120 min. 21h30 - Sala Félix Ribeiro Sábado, 02 Sarilhos de Fraldas De Constantino Esteves. Com António Calvário, António Silva, Cremilda Gil, Madalena Iglésias.111 min. M12. 15h30 - Sala Félix Ribeiro O Homem da Câmara de Filmar Chelovek s kinoapparatom De Dziga Verto. 66 min. 19h - Sala Félix Ribeiro O Denunciante The Informer De John Ford. Com Heather Angel, Margot Grahame, Preston Foster, Victor McLaglen. 91 min. 21h30 - Sala Félix Ribeiro Segunda, 04 China’s Little Devils De Monta Bell. Com Harry Carey, Paul Kelly, ‘Ducky’ Louie. 74 min. 15h30 - Sala Félix Ribeiro A Noiva Vendida Die Verkaufte Braut De Max Ophüls. Com Max Nadler, Jarmila Novotna, Otto Wernicke, Hermann Kner. 76 min. 19h - Sala Félix Ribeiro Os Homens Preferem as Loiras Gentlemen Prefer r Blondes De Howard Hawks. Com Charles Coburn, Jane Russell, Marilyn Monroe. 91 min. 21h30 - Sala Félix Ribeiro Terça, 05 O Olho do Diabo Djävulens öga De Ingmar Bergman. Com Jarl Kulle, Bibi i Andersson, Stig Järrel. 87 min. 15h30 - Sala Félix Ribeiro Wall Street De Oliver Stone. Com Charlie Sheen, Michael Douglas, Martin Sheen.126 min. 19h - Sala Félix Ribeiro Como Roubar Um Milhão How to Steal a Million De William Wyler. Com Audrey Hepburn, Peter O’Toole, Eli Wallach.123 min. 21h30 - Sala Félix Ribeiro Quarta, 06 Uma Rapariga sem Nome It Should Happen to You De George Cukor. Com Judy Holliday, Kack Lemmon, Peter Lawford. 87 min. M12. 15h30 - Sala Félix Ribeiro Aves de Rapina Greed De Erich von Stroheim. Com Gibson Gowland, Jean Hersholt, Zasu Pitts.120 min. M16. 19h - Sala Félix Ribeiro Haverá Sangue There Will Be Blood De Paul Thomas Anderson. Com Daniel Day-Lewis, Martin Stringer, Kevin J. O’Connor.158 min. M12. 21h30 - Sala Félix Ribeiro Quinta, 07 As You Like It De Paul Czinner. Com Henry Ainley, Elisabeth Bergner, Felix Aylmer. 96 min. 15h30 - Sala Félix Ribeiro Uma Mulher e Sete Milhões Brewster’s Millions De Allan Dwan. Com Dennis O’Keefe, Helen Walker, June Havoc. 79 min. 19h - Sala Félix Ribeiro Peixe Lua De José Álvaro Morais. Com Afonso o Melo, Beatriz Batarda, Luis Miguel Cintra, Marcello l Urgeche, e, Ricardo Aibéo, Ruth.124 min. M12. 21h30 - Sala Félix Ribeiro Marilyn e Jane Russell em “Os Homens Preferem as Loiras” ilustração Cristina Reis, design Joana Monteiro ENTRADA LIMITADA À LOTAÇÃO DOS ESPAÇOS MECENAS CASA DA MÚSICA APOIO INSTITUCIONAL tradução Daniel Jonas cenografia e figurinos Cristina Reis desenho de luz Nuno Meira música Bernardo Sassetti interpretação Albano Jerónimo Bruno Nogueira Dinarte Branco Elsa Oliveira Leonor Salgueiro Luísa Cruz Nuno Nunes um projecto Arena Ensemble co-produção TNDM II, TNSJ, Culturproject, Centro das Artes – Casa das Mudas qua-sáb 21:30 dom 16:00 M/12 anos dur. aprox. 1:20 bilhetes Fnac, TNSJ, TeCA, www.ticketline.pt www.tnsj.pt LINHA VERDE 800-10-8675 MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA SEJA UM DOS PRIMEIROS A APRESENTAR HOJE ESTE JORNAL COMPLETO NA CASA DA MÚSICA E GANHE UM CONVITE DUPLO PARA ESTE CONCERTO. OFERTA LIMITADA AOS PRIMEIROS 10 LEITORES E VÁLIDA APENAS PARA UM CONVITE POR JORNAL E POR LEITOR. PATROCÍNIO www.casadamusica.com | www.casadamusica.tv | T 220 120 220 Ípsilon • Sexta-feira 1 Abril 2011 • 35
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