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chama-nos da selva O cinema de Apichatpong Weerasethakul

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Opinião<br />

Modo crítico<br />

Para acabar <strong>de</strong> vez com a OPART<br />

Se Canavilhas tomou algumas importantes <strong>de</strong>cisões e <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong>lineados alguns horizontes <strong>de</strong> relevo,<br />

dos quais se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>stacar o intento <strong>de</strong> concretizar a re<strong>de</strong> nacional <strong>de</strong> cine-teatros, a sua gestão política<br />

foi <strong>de</strong>veras errática, como em todo este folhetim.<br />

A<br />

ministra <strong>da</strong> Cultura, Gabriela Canavilhas,<br />

esteve à altura <strong>da</strong>s suas responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

quando, em Março do ano passado,<br />

<strong>de</strong>cidiu <strong>de</strong>stituir o catastrófico director<br />

artístico do São Carlos, Christoph<br />

Dammann, não reconduzir o conselho <strong>de</strong><br />

administração <strong>da</strong> malfa<strong>da</strong><strong>da</strong> OPART, EPE, Organismo<br />

<strong>de</strong> Produção Artística, Enti<strong>da</strong><strong>de</strong> Pública Empresarial,<br />

integrando o teatro nacional <strong>de</strong> ópera e a Companhia<br />

Nacional <strong>de</strong> Bailado, e escolhendo para presi<strong>de</strong>nte Jorge<br />

Salavisa e para director artístico Martin André.<br />

Sau<strong>da</strong>ndo a <strong>de</strong>missão <strong>de</strong> Dammann, tive to<strong>da</strong>via a<br />

ocasião <strong>de</strong> dizer que achava que a ministra tinha perdido<br />

uma bela oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acabar com a OPART<br />

e que Martin André me parecia ter um perfil mais a<strong>de</strong>quado<br />

a maestro director <strong>da</strong> Orquestra, cargo no entanto<br />

ocupado por Julia Jones, que para director artístico.<br />

Poucos meses passaram para a crise se <strong>de</strong>clarar.<br />

Sob a tutela <strong>da</strong> então subsecretária <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong><br />

Cultura, Maria José Nogueira Pinto, foi <strong>de</strong> facto André<br />

quem dirigiu o recrutamento <strong>de</strong> músicos para a orquestra<br />

do São Carlos. Suce<strong>de</strong>u logo <strong>de</strong> segui<strong>da</strong> o triste<br />

episódio <strong>da</strong> pala do Estádio <strong>de</strong> Alvala<strong>de</strong>: o secretário<br />

<strong>de</strong> Estado, Pedro Santana Lopes, interviu em interesse<br />

próprio, ou do seu clube, do qual <strong>de</strong> resto em breve viria<br />

a ser presi<strong>de</strong>nte, levando ao abandono <strong>de</strong> Nogueira<br />

Pinto. E logo <strong>de</strong>pois, num <strong>da</strong>queles golpes <strong>de</strong> <strong>de</strong>magogia<br />

em que é pródigo, Santana Lopes “<strong>de</strong>spediu” Martin<br />

André, já que entendia que uma pretendi<strong>da</strong> Orquestra<br />

Sinfónica Portuguesa <strong>de</strong>via ter também um maestro<br />

português, que foi Álvaro Cassuto. O Estado português<br />

como que <strong>de</strong>via a André uma “reparação”: não era contudo<br />

a <strong>de</strong> director artístico do São Carlos, já que por<br />

experiência <strong>de</strong> direcção musical <strong>de</strong> óperas que tenha,<br />

ser o responsável artístico pela programação e orientações<br />

<strong>de</strong> um teatro é matéria distinta.<br />

Mas a questão <strong>de</strong> fundo é <strong>da</strong> OPART e dos teatros nacionais.<br />

O folhetim é conhecido mas convém recor<strong>da</strong>r os<br />

episódios marcantes: em Outubro, no quadro <strong>da</strong>s restrições<br />

orçamentais, Canavilhas anunciou a intenção<br />

<strong>de</strong> integrar na OPART também os teatros nacionais D.<br />

Maria e São João, o que criaria um monstro; a 25 <strong>de</strong> Janeiro<br />

Salavisa <strong>de</strong>mitiu-se evocando “motivos pessoais”,<br />

com a elegância que lhe é característica mas que se<br />

torna irritante quando se ocupam cargos públicos; a 10<br />

<strong>de</strong> Fevereiro foi a vez do vogal Rui Catarino se <strong>de</strong>mitir<br />

também mas <strong>de</strong> modo público invocar que as contas<br />

apresenta<strong>da</strong>s pelo ministério<br />

<strong>da</strong> Cultura resultavam<br />

<strong>de</strong> “argumentos financeiros<br />

falaciosos”, e que a poupança<br />

<strong>de</strong> 1,8 milhões <strong>de</strong> euros<br />

anuncia<strong>da</strong> por Canavilhas<br />

teria antes um “valor real<br />

próximo dos 350 mil euros”;<br />

no dia seguinte foi a vez <strong>da</strong><br />

ministra voltar ao parlamento,<br />

renunciando à integração<br />

do D. Maria e do São João<br />

na OPART, e anunciando<br />

antes um Agrupamento<br />

Complementar <strong>de</strong> Empresas<br />

que ninguém percebeu<br />

exactamente o que seria;<br />

entretanto, André <strong>da</strong>va a sua<br />

primeira entrevista, a este<br />

jornal, on<strong>de</strong> além do óbvio,<br />

a lamentação pela falta <strong>de</strong><br />

um orçamento trienal, em<br />

particular indispensável <strong>nos</strong><br />

teatros <strong>de</strong> ópera, e <strong>de</strong> explicitar<br />

alguns métodos <strong>de</strong><br />

trabalho e intuitos, pouco esclarecia no tocante ao fun<strong>da</strong>mental,<br />

o projecto artístico; enfim no “Expresso” do<br />

último sábado, Salavisa explicou-se, dizendo que não<br />

só não concor<strong>da</strong>va com a OPART como havia este outro<br />

ponto <strong>de</strong>cisivo: “Decidi sair quando o Martin André me<br />

apresentou a programação <strong>de</strong> 2011 e 2012. É uma visão<br />

que não tem arrojo. É preciso arriscar, para colocar o<br />

Teatro Nacional <strong>de</strong> São Carlos num percurso europeu”.<br />

Augusto M. Seabra<br />

Gabriela<br />

Canavilhas<br />

É absur<strong>da</strong> uma<br />

instituição como a<br />

OPART, sobre a qual o<br />

Po<strong>de</strong>r tanto fala em<br />

menores custos<br />

relativos com mais<br />

(mas maus)<br />

espectáculos, sem<br />

esclarecer se a máquina<br />

administrativa terá<br />

diminuído ou se terá<br />

aumentado<br />

DANIEL ROCHA<br />

Sempre me pareceu que o horizonte <strong>de</strong>lineado pelo<br />

fatídico primeiro secretário <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> governação<br />

socrática, Mário Vieira <strong>de</strong> Carvalho, seria qualquer<br />

coisa como uma muita centralista direcção-geral dos<br />

teatros nacionais. Como não ousou tocar no São João<br />

dirigido por Ricardo Pais, embora o tenha transformado<br />

numa <strong>de</strong>ssas miríficas Enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s Empresariais do Estado<br />

– o que aliás suscitou na prática um pesado fardo<br />

administrativo -, Vieira <strong>de</strong> Carvalho exerceu a “intendência”<br />

<strong>nos</strong> outros, com os golpes que foram a <strong>de</strong>missão<br />

<strong>de</strong> António Lagarto do D. Maria e a sua substituição<br />

pelo calamitoso Carlos Fragateiro, afastando Paolo Pinamonti<br />

do São Carlos e criando a nefan<strong>da</strong> OPART, por<br />

arrastamento <strong>de</strong>stituindo Ana Pereira Cal<strong>da</strong>s <strong>da</strong> CNB, e<br />

nomeando director Vasco Wellenkamp. O que não esperei<br />

é que, por outras razões ain<strong>da</strong>, e sem preten<strong>de</strong>r a<br />

“intendência” artística directa, fosse Canavilhas a suscitar<br />

directamente um tal horizonte.<br />

Diz agora Jorge Salavisa: “Eu até gosto <strong>da</strong> Gabriela e<br />

acho que ela podia ter feito um bom trabalho”. Subscrevo<br />

por inteiro, esclarecendo que este meu “gosto” não é tanto<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pessoal, mas <strong>de</strong> imensa admiração pelo que<br />

ela fez na Orquestra Metropolitana <strong>de</strong> Lisboa e as capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

que mostrou. Outra coisa, emimentemente política,<br />

é ser ministra <strong>da</strong> Cultura, para mais num quadro <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scalabro e restrições financeiras impostas por Sócrates<br />

e Teixeira dos Santos, a dupla que seguiu uma política <strong>de</strong><br />

arrogância, mentira e por fim abismo, pois que a crise do<br />

capitalismo financeiro não é o único motivo.<br />

Se Canavilhas tomou algumas importantes <strong>de</strong>cisões e<br />

<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong>lineados alguns horizontes <strong>de</strong> relevo, dos quais<br />

cabe para o caso <strong>de</strong>stacar o intento <strong>de</strong> concretizar a re<strong>de</strong><br />

nacional <strong>de</strong> cine-teatros, matéria primordial <strong>de</strong>ixado<br />

ao abandono <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o arranque com Carrilho (e houve<br />

no entretanto cinco ministros), ou se conseguiu limitar<br />

os cortes na Cultura e tentar arranjar novas fontes <strong>de</strong> financiamento,<br />

a sua gestão política foi <strong>de</strong>veras errática,<br />

como em todo este folhetim.<br />

O São João é uma instituição sóli<strong>da</strong>, fazendo um triângulo<br />

<strong>de</strong> referência no Porto com Serralves e a Casa<br />

<strong>da</strong> Música, <strong>de</strong>stroçado que foi por Rui Rio o Rivoli implementa<strong>da</strong><br />

pela saudosa Isabel Alves Costa. Numa Região<br />

Norte já tão afecta<strong>da</strong>, era um insulto suplementar<br />

passar aquele teatro nacional para a tutela directa <strong>de</strong><br />

Lisboa.<br />

Destituir no D. Maria Carlos Fragateiro e nomear<br />

Maria João Brilhante para o C.A. e Diogo Infante para<br />

director artístico foi a única <strong>de</strong>cisão do ministro José<br />

António Pinto Ribeiro, que <strong>de</strong> resto se limitou a pavonear.<br />

Com esta dupla directiva, o Dona Maria funciona<br />

diria-se-ia que quase em pleno, com frequência com<br />

salas esgota<strong>da</strong>s, e também tornou regular uma necessária<br />

edição dos textos representados, como ain<strong>da</strong> agora<br />

“A Catatua Ver<strong>de</strong>” <strong>de</strong> Schnitzler e “Azul Longe nas Colinas”<br />

<strong>de</strong> Dennis Potter.<br />

Sem precisar <strong>de</strong> integração numa qualquer OPART,<br />

os dois teatros cooperam enfim <strong>de</strong> forma regular. “O<br />

Ano do Pensamento Mágico”, “O Homem Elefante” e<br />

“1974”, produções ou co-produções do D. Maria, já foram<br />

apresentados no São João, como o será em breve<br />

“Azul Longe nas Colinas”; em sentido inverso, “Tambores<br />

na Noite” já passou do Porto para Lisboa.<br />

Depois do excelente trabalho nela realizado por Jorge<br />

Salavisa, a Companhia Nacional <strong>de</strong> Bailado andou 10<br />

a<strong>nos</strong> à <strong>de</strong>riva. Percebe-se que uma <strong>da</strong>s razões, senão a<br />

primordial, que levou Salavisa a aceitar a presidência<br />

46 • Sexta-feira 1 Abril 2011 • Ípsilon

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