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Marlene Dumas - Fonoteca Municipal de Lisboa

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São José Almeida abriu<br />

dos homossexuais na<br />

“Os Homossexuais no Estado Novo” traça a homossexualida<strong>de</strong> (masculina e feminina) d<br />

do século XX português. Raquel Ribeiro<br />

Livros<br />

Na apresentação do livro “Os Homossexuais<br />

no Estado Novo”, <strong>de</strong> São José<br />

Almeida (ed. Sextante), há um mês,<br />

no Porto, a poeta e professora universitária<br />

Ana Luísa Amaral começava<br />

por questionar, citando Judith Butler<br />

(uma das mais proeminentes investigadoras<br />

americanas em estudos “queer”<br />

e activista <strong>de</strong> direitos LGBT), qual<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se falar em direitos<br />

dos homossexuais quando a Palestina<br />

ainda estava sob domínio israelita.<br />

Resposta <strong>de</strong> Butler: “Tudo tem a ver<br />

com a violência, por isso é impossível<br />

estabelecer priorida<strong>de</strong>s.”<br />

Ao Ípsilon, Ana Luísa Amaral completou<br />

esta i<strong>de</strong>ia, explicando, a propósito<br />

do livro da jornalista do PÚBLI-<br />

CO São José Almeida, que “a forma<br />

mais conservadora <strong>de</strong> dar priorida<strong>de</strong><br />

a <strong>de</strong>terminados assuntos é dizer que<br />

assuntos políticos, como a crise económica,<br />

são mais importantes”. “Não<br />

me parece: todos eles exibem violência.<br />

Uma socieda<strong>de</strong> que resolve as<br />

suas crises económicas, mas não resolve<br />

as suas crises sociais e <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>,<br />

é uma socieda<strong>de</strong> injusta também.”<br />

Nesse sentido, continua Amaral,<br />

“Os Homossexuais no Estado<br />

Novo” é um livro “completamente<br />

político, porque os assuntos <strong>de</strong> visibilida<strong>de</strong><br />

são sempre políticos, digam<br />

respeito aos sem-abrigo, aos homossexuais<br />

ou às mulheres”.<br />

Esta obra começou por ser uma<br />

investigação jornalística <strong>de</strong> São José<br />

Almeida sobre como viviam os homossexuais<br />

durante o Estado Novo,<br />

publicada na revista “Pública” no Verão<br />

<strong>de</strong> 2009. A autora explica na introdução<br />

que a investigação não parou<br />

aí, ainda que este seja um princípio,<br />

“um livro inacabado”, ou até<br />

uma porta que se abre para um caminho<br />

que a socieda<strong>de</strong> portuguesa<br />

<strong>de</strong>verá percorrer <strong>de</strong> forma a “revisitar<br />

a história”, e “se reencontrar consigo<br />

mesma”. É altura, escreve, “<strong>de</strong><br />

Portugal começar a ajustar contas<br />

com a História”.<br />

Uma história <strong>de</strong> Portugal<br />

São José Almeida colige uma pesquisa<br />

totalmente original reunindo uma<br />

série <strong>de</strong> vozes <strong>de</strong> especialistas portugueses<br />

e estrangeiros, <strong>de</strong> testemunhos<br />

pessoais, <strong>de</strong> investigações, mas<br />

também recorrendo a um enquadramento<br />

teórico, científico e jurídico<br />

das problemáticas envolvendo a homossexualida<strong>de</strong><br />

no século XX português.<br />

António Fernando Cascais, professor<br />

na Universida<strong>de</strong> Nova <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong><br />

e especialista em história da<br />

homossexualida<strong>de</strong> em Portugal , é<br />

uma das fontes fundamentais usadas<br />

pela jornalista para compor a história<br />

dos homossexuais durante a ditadura.<br />

Ao Ípsilon afirma que esta investigação<br />

“é uma incursão num terreno<br />

que não estava pura e simplesmente<br />

<strong>de</strong>sbravado”.<br />

Almeida traça a história da homossexualida<strong>de</strong><br />

em Portugal entre 1912<br />

(ano da Lei sobre a Mendicida<strong>de</strong>) e<br />

1982, quando entra em vigor o novo<br />

Código Penal (<strong>de</strong> que foram eliminados<br />

os artigos 70º e 71º, referentes<br />

àqueles que “se entreguem habitualmente<br />

à pratica <strong>de</strong> vícios contra a natureza”).<br />

A autora mostra como a<br />

homossexualida<strong>de</strong> é a “sexualida<strong>de</strong><br />

transgressora numa socieda<strong>de</strong> patriarcal”,<br />

sublinhando dois eixos no<br />

contexto português: um referente à<br />

“diferença <strong>de</strong> classe social, a diversida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> tratamento para quem é das<br />

elites e das aristocracias do regime e<br />

para quem é do povo”; e outro relacionado<br />

com os não-ditos, os silenciamentos,<br />

a “inexistência <strong>de</strong> uma<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>” que permita uma noção<br />

<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>, “partilha <strong>de</strong> grupo”,<br />

Mário Cesariny Figura maior do surrealismo português, “foi um<br />

dos homossexuais portugueses que mais se expôs publicamente na<br />

assunção plena da sua homossexualida<strong>de</strong>”, transformando-se “numa<br />

figura <strong>de</strong> referência da homossexualida<strong>de</strong> portuguesa durante o Estado<br />

Novo”. O poeta “sempre se assumiu como um ser com uma sexualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sviante, como um ser estigmatizado <strong>de</strong>vido à sua não-inserção no<br />

padrão <strong>de</strong> família patriarcal e heterosexual”.<br />

ADRIANO MIRANDA<br />

18 • Sexta-feira 9 Julho 2010 • Ípsilon

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