Marlene Dumas - Fonoteca Municipal de Lisboa

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Exposições RUI GAUDÊNCIO Este povo que nos define O centenário da República é pretexto para uma difícil mega-exposição sobre o tema do povo. Luísa Soares de Oliveira Povo - people LISBOA. Museu da Electricidade. Central Tejo. Av. de Brasília. De dom. a 6ª, das 10h às 18h. Sáb., das 10h às 20. Até 19/09. mmmmn Uma exposição com 4 comissários e 288 obras Quatro comissários, 288 obras, maioritariamente portuguesas e algumas estrangeiras, quase seis dezenas de entidades emprestadoras: a exposição ‘Povo - people’, a decorrer no Museu da Electricidade, tem as características de um grande evento internacional, e partiu do ambicioso conceito de reunir no mesmo espaço abordagens ao tema nas mais diversas disciplinas, artísticas ou não. Da pintura à escultura e à música, da instalação ao cinema documental (onde se incluem montagens das fascinantes actualidades locutadas por António Lopes Ribeiro durante todo o Estado Novo), dos documentos históricos aos testemunhos sociais, abrangendo um leque temporal de mais de dois séculos, trata-se aqui de reunir na sala imponente do primeiro andar todo o tipo de materializações, criações artísticas e testemunhos que o povo pôde provocar. Dividida em nove núcleos, com títulos como “O povo é sereno”, “o povo é quem mais ordena”, “casas do povo”, “se isto não é o povo, onde é que está o povo” ou “povo, povo, eu te pertenço”, a exposição não faz distinção de épocas, agrupando as obras – que tanto podem ser de Rui Sanches, Amadeo, Almada, Roquemont ou Álvaro Cunhal, como documentos de identificação digitalizados ou imagens documentais da habitação tradicional portuguesa, cartazes do 25 de Abril ou caricaturas de Bordalo Pinheiro – consoante se inserem num ou noutro tipo de leitura. Por isso, encontramos aqui boa parte da melhor arte portuguesa moderna, modernista e contemporânea. Aliás, segundo João Pinharanda (comissariado artístico), a ideia da exposição construiu-se em torno do quadro “Cinco Artistas em Sintra”, o manifesto de Cristino da Silva em que os artistas românticos se representavam na charneca, tendo ao fundo o palácio do rei coleccionador, D. Fernando, e personagens do povo em atitude de admiração embasbacada. O quadro colocava já uma das duas grandes questões que esta exposição levanta: é que a criação artística pressupõe uma distância conceptual entre criador e objecto da criação. Dito de outra forma, independentemente das origens de cada artista, olhar para o povo, representá-lo ou apresentá-lo implica um estar de fora que exclui a pertença. Rosa Ramalho, também representada na exposição, é a única excepção. A segunda questão decorre da primeira. Se o povo é o tema da exposição, será que a definição que damos a esta palavra é exactamente a mesma há duzentos e tal anos? Neste espaço de tempo, que é por alto a distância que nos separa da Revolução Francesa, aconteceu Marx, que definiu politicamente a palavra, aconteceu o Estado Novo, que a quis encerrar num espartilho bonito, aconteceu a guerra colonial, a primeira guerra igualitária que tivemos, e a Revolução de Abril, a democracia. A exposição intui-o, reproduzindo diversas definições da palavra no jornal que faz de catálogo. Mas afirmar “povo, povo, eu te pertenço”, enquanto se convidam todos os visitantes a deixar a sua imagem num painel à entrada, coloca aqui um voto simpático de igualdade que uma discussão mais aprofundada, a fazer paralelamente à exposição, poderia esclarecer. As obras contemporâneas mais interessantes são justamente aquelas que problematizam estas questões. Muita fotografia, de que destacaremos as de Manuel Botelho pertencentes à série “Confidencial Desclassificado”, em que o artista se auto-representa como soldado na guerra colonial; a escultura “Vista Interior”, de Joana Vasconcelos – uma casinha de classe média-baixa pronta a usar; o busto da República de Rui Sanches; e sobretudo o diaporama do colectivo Kameraphoto, um retrato global desse outro a que alguns chamam povo, com que alguns se identificam, mas que é sempre fascinante, na estranheza que nos aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente devolve ao olhar. É pena que não tenhamos a oportunidade de ver, na Cinemateca ou noutro lugar, a visão dos cineastas que corresponde à destes artistas. A vida intensificada Action cinema de Ken Jacobs VILA DO CONDE Galeria Solar - Galeria de Arte Cinemática. Rua do Lidador. Tel.: 252 646516. De 3ª a 6ª das 14h30 às 18h. Sáb. e Dom. das 10h às 12h30 e das 14h30 às 18h. Até 12/09 mmmnn “Em 1893, Warburg perguntando-se acerca da maneira como os artistas da Renascença italiana representaram o movimento, constata que eles são inelutavelmente levados à descrição de uma aparência: os signos da mobilidade concentram-se na periferia das figuras, na deformação dos contornos e dos traços, a dilatação dos vestidos e dos cabelos, sem afectar a sua estrutura: a origem do movimento é relacionado com uma causa exterior que modifica provisoriamente a configuração do corpo mas não o afecta em profundidade”, escreve Philippe- Alain Michaud em “Aby Warburg e a imagem em movimento” (Macula, Paris, 1998). Emprestar uma nova vida às imagens: este é a proposta de Ken Jacobs nas obras que escolheu apresentar em “Action Cinema”, exposição que se desdobra pelos vários espaços da galeria Solar. A mostra é quase exclusivamente formada por imagens apropriadas, com excepção de trabalhos onde retrata instantes da vida quer em família, quer com os amigos, neste caso destacando-se “Bob Fleischner dying”, um retrato desta figura mítica do cinema “underground” nova-iorquino. O resgatar à morte de um instante, projectando para o futuro flashes desse tempo perdido, como apenas fosse possível esse desígnio – porque o olhar está alienado pelo presente perpétuo onde se encontra –, é tarefa própria de um demiurgo: e Jacobs parece encarnar bem esse papel. Na exposição da Solar há imagens de água, fotografias estereográficas, velhos filmes: as imagens ganham espessura, densidade, aproximamse de nós enquanto fantasmas de uma outra época. A duração é esticada: um minuto filmado em 1901 é agora projectado em câmara lenta, muito lenta mesmo: são mais de dez minutos de dilatação temporal, para que os olhos vejam, contra o presente. Ken Jacobs é uma espécie de arqueólogo, um historiador à maneira de Warburg. Aquilo que lhe interessa é a noção de “pathosformel”, que se pode entender como “vida mimicamente intensificada”. Estamos no domínio das intensidades que animam a história, o seu desenrolar “nãocronológico”, visível na repetição, em diferentes períodos ou contextos, de uma mesma “forma ou fórmula de estilo emocional”. Veja-se “What Happened on 23rd Street in 1901”: um filme em que Jacobs recorre à animação digital de três dimensões para dar uma nova vida a um momento captado pela câmara de Edwin S.Porter, realizador da companhia de produção de Thomas Edison. A película muda-se em digital para nos mostrar a persistência de uma mesma fórmula, a de um desejo, quer na imagem captada no início do século passado - a passagem de uma mulher sobre uma grelha de ventilação, que faz com que a sua saia se levante –, quer no célebre instante protagonizado por Marilyn Monroe, quer ainda na pintura rococó de Fragonard, “Les hazards heureux de ‘l’escarpolette’” (1767, Wallace Collection, London). Esta recorrência tem a sua origem em expressões gestuais que se podem detectar por exemplo na estatuária da Grécia antiga, nomeadamente nas representações da ninfa. É curioso ver como o filme do casal a passear na Rua 23 – e o respectivo acontecimento, o esvoaçar do vestido – foi anunciado no catálogo Edison: “Um êxito que irá certamente agradar”, no qual se pode observar “a saia de uma rapariga que é levantada a uma altura quase perversa, para seu horror e diversão dos vendedores de jornais, engraxadores e transeuntes.” A vergonha da involuntária protagonista (será assim?) em confronto com o mundo transformase, mais tarde, em eficaz produção do “star system” (Marilyn): a idade da inocência cinematográfica, com ecos na pintura de Fragonard, perdeu-se com o advento de Hollywood e, mais tarde, com a expansão da indústria pornográfica. Ken Jacobs faz dois passos atrás e aproxima-nos de uma outra esfera, onde os afectos são aquilo que conta. É um trabalho político, pleno de humanidade, o seu. Apenas uma nota para a exposição, que, em termos formais, é excessivamente repetitiva: o recorrente uso de uma espécie de efeito “strobe” para potenciar a ilusão do movimento chega a ser cansativo e corre o risco de retirar alguma vitalidade às imagens a que Jacobs quis dar uma sobrevida. 54 • Sexta-feira 9 Julho 2010 • Ípsilon
Agenda Inauguram A Banda Desenhada e o Álbum Ilustrado De Natalie Leté, Worf Erlbruch, Nadia Budde, Klaus Ensikat, Volker Pfüller, Rotraut Susanne Berner, Sophie Dutertre, Goele Dewanckel, Jockum Nordström, Martin Jarrie. Lisboa. Goethe-Institut. Cp. Mártires Pátria, 37. Tel.: 218824510. De 09/07 a 28/07. 2ª a 6ª das 10h às 20h. Banda Desenhada. Donnerstag e Outros Desenhos De Jorge Queiroz. Lisboa. Chiado 8 - Arte Contemporânea. Largo do Chiado, 8 - Edifício Sede da Mundial-Confiança. Tel.: 213237335. De 09/07 a 17/09. 2ª a 6ª das 12h às 20h. Inaugura 9/7 às 22h. Desenho, Outros. Escultura Abstracta Nas Décadas de 1960-70. Colecção Fundação de Serralves De Alfredo Queiroz Ribeiro, Ângelo de Sousa, Armando Alves, João Machado, Joaquim Vieira, Jorge Pinheiro, José Rodrigues, Zulmiro de Carvalho. Albufeira. EMA - Espaço Multiusos. Antigo Lidl de Albufeira. Tel.: 289599512. De 10/07 a 05/09. 2ª a Dom. das 16h às 23h. Escultura. Allgarve’10. Tailândia: Rostos e Paisagens Lisboa. Casino Lisboa. Alam. dos Oceanos Lote 1.03.01 - Parque das Nações. Tel.: 218929070. De 13/07 a 29/07. 6ª e Sáb. das 16h às 04h. 2ª a 5ª e Dom. das 15h às 03h. Fotografia. Continuam Marlene Dumas: Contra o Muro De Marlene Dumas. Porto. Museu de Serralves. R. Dom João de Castro, 210. Tel.: 226156500. Até 10/10. 2ª a 6ª das 10h às 17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 20h. Pintura. Ver texto págs. 6 e segs. Sem Limites - Nadir Afonso De Nadir Afonso. Lisboa. MNAC - Museu do Chiado. R. Serpa Pinto, 4. Tel.: 213432148. Até 03/10. 3ª a Dom. das 10h às 18h. Pintura. Tudo O Que é Sólido Dissolve-Se no Ar: O Social na Colecção Berardo Lisboa. Museu Colecção Berardo. Praça do Império - Centro Cultural de Belém. Tel.: 213612878. Até 12/09. Sáb. das 10h às 22h (última admissão às 21h30). 2ª a 6ª e Dom. das 10h às 19h (última admissão às 18h30). Pintura, Outros. Mais Que a Vida De Vasco Araújo, Javier Téllez. Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian. Avenida de Berna, 45A. Tel.: 217823700. Até 06/09. 3ª a Dom. das 10h às 18h. Vídeo, Fotografia, Instalação, Outros. Zao Wou-Ki Lisboa. Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva. Pç. das Amoreiras, 56/58. Tel.: 213880044. De 24/06 a 26/09. 2ª, 4ª, 5ª, 6ª, Sáb. e Dom. das 10h às 18h. Pintura. Nasreen Mohamedi: Notas - Reflexões Sobre o Modernismo Indiano De Nasreen Mohamedi. Lisboa. Culturgest. R. Arco do Cego - Ed. da CGD. Tel.: 217905155. Até 29/08. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª das 11h às 19h (última admissão às 18h30). Sáb., Dom. e Feriados das 14h às 20h (última admissão às 19h30). Pintura, Fotografia. Natureza Morta (Próximo Futuro Next Future) De Barrão. Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian. Av. de Berna, 45A. Tel.: 217823700. Até 30/09. Programa Gulbenkian Próximo Futuro/Next Future. Instalação, Escultura. Arena De Carla Filipe, João Tengarrinha, Paulo Brighenti. Lisboa. Fundação Carmona e Costa. Ed de Espanha - R. Soeiro Pereira Gomes L1 - 6º A/C/D. Tel.: 217803003. De 06/07 a 16/10. 4ª a Sáb. das 15h às 20h. Ciclo de Conversas: Filipa Oliveira 26/9 às 17h; José Carlos Pereira 2/10 às 17h; George Stolz 16/10 às 17h. Desenho, Outros. Der Geist Unserer Zeit De Fernando Brito. Guimarães. CC Vila Flor. Av. D. Afonso Henriques, 701. T. 253424700. Até 27/6. 3ª a sáb das 10h às 12h30 e das 14h às 19h. Domingo e feriados das 14h às 19h. Escultura, Pintura, Outros. A Voz do Mar De Pancho Guedes. Sagres. Fortaleza. Tel.: 282620140. De 03/07 a 30/11. 2ª a Dom. das 09h30 às 20h. Allgarve’10. Instalação. René Bertholo Estói. Ruínas Romanas de Milreu. R. de Faro. Tel.: 289997823. Até 29/09. 3ª a Dom. das 09h30 às 18h. Allgarve 2010. Azulejos. This Is My Condition Jack Pierson De Ryan McGinley, Ryan McNamara, Ryan Trecartin, Slater Bradley, Jack Pierson. Lisboa. Galeria Filomena Soares. R. da Manutenção, 80. Tel.: 218624122. Até 11/09. 3ª a Sáb. das 10h às 20h. Pintura, Vídeo, Instalação, Fotografia, Escultura, Outros. Pra Quem Mora Lá, O Céu é Lá - OSGEMEOS De Gustavo Pandolfo, Otávio Pandolfo (OSGEMEOS). Lisboa. Museu Colecção Berardo. Pç. do Império - CCB. Tel.: 213612878. Até 19/09. Sáb. das 10h às 22h (última admissão às 21h30). 2ª a 6ª, Dom. e Feriados das 10h às 19h (última admissão às 18h30). Pintura, Outros. apresenta TRICOTA UM PROJECTO DE ELECTROTANGO DOS ARGENTINOS OTROS AIRES ONDE COEXISTE A TÍPICA ORQUESTRA ARGENTINA E A ACTUAL MÚSICA ELECTRÓNICA // 22 de Julho_ Concerto | 21h30 // 20 e 21 de Julho_ Masterclasses | 12h30 (saiba mais em www.bes.pt) /// ENTRADA LIVRE LIMITADA À LOTAÇÃO DA SALA // MORADA Praça Marquês de Pombal nº3, 1250-161 Lisboa // TELEFONE 21 359 73 58 // HORÁRIO Segunda a Sexta das 9h às 21h // EMAIL besarte.financa@bes.pt Programação e produção Ípsilon • Sexta-feira 9 Julho 2010 • 55
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