12.07.2015 Views

6Irtvzw2A

6Irtvzw2A

6Irtvzw2A

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

25de abril1974 - 2014“Tinha a sensação que o mundoestava a fazer-se de novo”Nancy Bermeo é professora em Oxford. Fez o doutoramento sobre Portugal onde viveumais de dois anos, depois do 25 de Abril de 1974, e volta frequentemente até paravisitar os amigos que aqui fez para a vida. Esta entrevista trouxe-lhe imensas memóriase pensamentos sobre esses dias de constantes mudanças em que os seus estudos docooperativismo revelaram-se parte de uma complexa e intricada realidade que o País viveu.POR SARA PINA[Paralelo] Em termos gerais é considerado que asrevoluções frequentemente originam regimes não--democráticos, raramente conduzindo a democracias.A revolução do 25 de Abril foi diferente?Como?[Nancy Bermeo] É verdade. Muitas vezesassociamos revoluções com o estabelecimentode regimes autoritários portanto apergunta que faz é intrigante. Acho que aRevolução Portuguesa resultou numademocracia consolidada por umavariedade de razões complexas mas asmais proeminentes foram os valorespolíticos dos militares portugueses e daselites partidárias. O grupo de oficiais que,em última análise, controlou a revoluçãoprocurou acabar com a guerra colonialmas, também, quis a democracia paraPortugal e isto foi imensamente consequente.As elites portuguesas tambémmerecem todo o crédito por não teremincitado a violência em momento algumda tumultuosa transição.A violência é sempre uma desculpa paraa contraviolência e os que querem o autoritarismousam esses ciclos de medo parasubir ao poder. Esta é a razão porque associamosas revoluções com o autoritarismo– as revoluções habitualmente envolvemviolência. Portugal evitou isso.As elites portuguesas sabiamente enquadraramuma democracia em vez de umaditadura como chave para estabelecer aordem. Claro que a base dos resultadospositivos reside no próprio povo português.Os militares e líderes políticos eramrepresentantes destes.24‘ A violência é sempre uma desculpapara a contraviolência e os quequerem o autoritarismo usamesses ciclos de medo para subirao poder. Esta é a razão porqueassociamos as revoluções como autoritarismo – as revoluçõeshabitualmente envolvem violência.Portugal evitou isso.’Nancy BermeoOs resultados da primeira eleição mostrambem isto de que falo.[P] A revolução teve algum impacto na qualidadeda democracia? E gerou alguns legados quepodem de alguma maneira ajudar ou prejudicarna gestão da crise actual?[NB] A revolução certamente aprofundou aqualidade da democracia na medida emque expandiu a concepção nacional do quesão os direitos fundamentais dos cidadãos.Embora haja outros factores a revoluçãoajuda a perceber porque é que Portugal éo único país do Sul da Europa com umprograma nacional de Rendimento MínimoGarantido e porque tem sido mais bem--sucedido do que outrospaíses europeus a evitar oracismo e a xenofobia.Acho que a experiênciarevolucionária ajudou alidar com a crise. Emcada crise os portuguesesmelhoraram as suas capacidadespara lidar com isso ea sua resiliência. Crises echoques podem trazerpolarização ou cooperação.Em Portugal domina a cooperação.Esta é uma conquistarara e algo com queos partidos nos EstadosUnidos podiam aprender.[P] Porque veio para Portugal?[NB] Era uma estudante dedoutoramento em Yalequando decidi estudarPortugal. Quis estudar o sistema cooperativoem que a divisão entre trabalho ecapital não existia. As cooperativas industriaise agrícolas que apareceram deram--me a oportunidade de estudar essasexperiências. Mal cheguei a Portugal percebique o meu enigmático interesse eraparte de um muito maior e mais complicadodrama.[P] Pode partilhar alguma da sua experiência emPortugal e qual era o seu sentimento relativamenteao que se passava à sua volta?[NB] Na minha área específica fiquei profundamentecomovida pelo orgulho queParalelo n. o 8 | INVERNO 2013/2014

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!