PORTUGAL/EUA‘“40% dos alunos quevão para estes cursosnão são portugueses,a maioria é de origemhispânica” e “o mesmoestá a acontecer por todaa Califórnia e tambémem Massachusetts.”’Revista Language Magazinecomo o que Portugal tem com o estadode Massachusetts, desde os anos 90, e como condado de Miami, na Flórida, desde oano passado. O Instituto Camões pretendeagora replicar o modelo: prepara-se paraassinar protocolo com as cidades deElizabeth e Newark, em Nova Jérsia, e estáa iniciar negociações com os estados daCalifórnia e de Nova Iorque.Diniz Borges garante que “não há cursos30de Português que não sejam um sucesso;onde existem, estão cheios.” O professorfala da realidade que conhece melhor: noVale de São Joaquim, na Califórnia, a escolade Turlock passou de 80 alunos para200 em sete anos; no mesmo período, oliceu de Tulare passou de 180 para 418.“A procura existe. Há oportunidades quetemos de agarrar onde existem professoresluso-descendentes que podem ensinarPortuguês. Tem de ser este lobby local atrabalhar.”O professor explica que “40% dos alunosque vão para estes cursos não são portugueses,a maioria é de origem hispânica”e que “o mesmo está a acontecer por todaa Califórnia e também em Massachusetts”.Para o responsável, o segredo é que “estescursos se abrem a grupos étnicos e vendemo português como uma língua internacionale não como uma língua de herança”. Borgesacredita que “o país não tem feito um bomtrabalho a vender o português como umalíngua internacional”.“Há muito espaço para crescer no ensinoregular porque os outros grupos étnicos,sobretudo os hispanos, têm umgrande interesse pelo Brasil e muita facilidadeem aprender português”, defende.O professor sugere que a expansão doensino do português se concentre napopulação hispana. Se assim acontecer,argumenta, o universo de alunos potenciaisdeixa de ser às dezenas, talvez centenas,de milhares de luso-descendentese expande-se para a maior comunidadeétnica do país, com 53 milhões de pessoas.“É preciso vender o português comouma língua internacional e não como alíngua com que se aprende para conseguirfalar com a vovó”, explica o emigranteaçoriano. “Embora isso seja muito bonito,não é nada pragmático.”UNIVERSIDADETodas as sextas-feiras, a professora Raqueltermina as aulas na Escola Lusitânia ecaminha até ao pólo do BrookdaleCommunity College, em Long Branch,onde dá aulas de português.Paralelo n. o 8 | INVERNO 2013/2014
PORTUGAL/EUAAs aulas começaram em setembro,depois de Raquel descobrir que a mulherdo seu contabilista, Nancy Kegelman, eraa directora de assuntos académicos dauniversidade. “Percebi que era uma oportunidadee convidei-a para vir conhecer aescola do clube”, explica Raquel. “Depois,falei-lhe da possibilidade das aulas na universidade,ela gostou da ideia, convidou--me a apresentar um projecto e, passadoum ano, abriu a cadeira.”Para já, Raquel tem apenas 19 alunos.“Mas a escola tem 15 mil alunos e o cursoacabou de abrir. O potencial de crescimentoé enorme”, acredita.Ashley Gonçalves, 25 anos, é uma dassuas alunas. A estudante de psicologia criminalinscreveu-se na cadeira para tentaraprender a língua do pai, um emigrantemadeirense que morreu no ano passado.“O desaparecimento dele funcionou comouma chamada de atenção para as minhasraízes”, diz. Mas a escolha curricular temoutros motivos mais pragmáticos:“Vivemos numa área muito diversa culturalmentee saber mais uma língua podeajudar-me a arranjar trabalho.”Maria Melindez, de 24 anos, tem amesma esperança. Mas os seus colegasnão percebem a escolha. “Quando digoque estudo português, dizem: ‘Português?Porquê?’ Ficam confusos. Ainda não percebemo potencial da língua”, diz a estudantede línguas modernas. A confusãodos seus colegas ajuda a justificar osnúmeros: apesar do português ser consideradapela revista Bloomberg a sextalíngua mais importante no mundo dosnegócios, está em 13.º lugar das línguasmais estudadas nas universidades americanas,segundo o último relatório daModern Language Association. Apesardisso, no Outono de 2009, as universidadesamericanas contavam 11371 alunosinscritos, o que representava um aumentode 10,8% em relação a 2006.A revista especializada Language Magazinecontou num artigo publicado este anocomo, “enquanto os departamentos delínguas são reduzidos, ou completamenteeliminados, a procura pelo Portuguêsaumenta.”“Apesar do Português ter sido sempreuma importante língua mundial, apenasrecentemente tem sido reconhecido comouma língua importante no mundo dosnegócios e relações internacionais”, podeler-se no artigo. Recentemente, o jornalda prestigiada Universidade de Yale deueco a esta mesma realidade. “Com a transformaçãodo Brasil numa potência económicaglobal, mais e mais alunos estão ainscrever-se em ‘Português Elementar’,mas o pequeno departamento de Portuguêsde Yale não tem professores suficientespara suprir essa necessidade – ou os meiospara contratar novos.”O Instituto Camões tem três leitoradosem universidades, comparticipa a colocaçãode professores, financia certas actividadese tem três Centros Camões, masAntónio Oliveira admite que “o que acontecede mais vibrante a nível universitárioé totalmente independente dos esforçosnacionais e quase sempre motivado porum interesse pelo Brasil.”Na universidade de São José, naCalifórnia, por exemplo, há um curso dePortuguês que é inteiramente pago porum fundo criado pela comunidade açoriana.Em Setembro, começou a funcionarna Universidade de Massachusetts, emLowell, o “Centro Pedroso-Saab paraEstudos Portugueses e Culturais”, que foitornado possível graças aos contributosde Luís Pedroso e docasal Mark Saab e ElisiaSaab, empresários de origemportuguesa quedoaram cerca de 850 mildólares (660 mil euros).A partir de Janeiro, aUniversidade de Lesley,Massachusetts, em parceriacom a UniversidadeAberta, lança o primeirocertificado internacionalem Estudos Portugueses.Também no próximoano, a universidade do Michigan vaiaumentar a sua oferta de estudos portuguesescom uma licenciatura dupla emportuguês e espanhol e um programaespecífico para alunos de doutoramentono próximo ano lectivo. A presença doportuguês nas universidades americanastem, no entanto, várias décadas. O maisantigo curso de verão de Português, naUniversidade de Massachusetts-Dartmouth, comemorou este ano a sua20.ª edição.“Fomos o primeiro curso que surgiuno país, em 1994, e neste momento hácursos semelhantes em vários Estados, oque nos enche de orgulho”, diz FrankSousa, que foi responsável pelo lançamentodo curso e serviu como directordo Centro de Estudos Portugueses dauniversidade até este ano.O professor garante que “apesar das dificuldades,o ensino do Português nos EUAestá numa boa fase” que deve continuar.“Gostava de dizer que este crescimento sedeve à maravilhosa situação de Portugal,mas sabemos que não é verdade”, explica.“É, sobretudo, motivado pelo crescimentoeconómico do Brasil e pelo aumentodo seu poder político em toda a Américalatina.”O CONTRIBUTO DA FLADDesde o início da sua actividade, aFundação Luso-Americana para oDesenvolvimento (FLAD) tem apoiado inúmerasiniciativas para a melhoria do ensinodo Português nos Estados Unidos.Este apoio começa com os mais jovense o concurso “Ler em Português”, organizadoem parceria com a Rede deBibliotecas Escolares e o Plano Nacionalde Leitura. Todos os anos, alunos e professoresdos dois lados do atlântico sãoconvidados a apresentar os seus trabalhos,em que desenvolvem um tema definidopela organização. A edição 2012/13 foisubordinada ao tema Liberdade e‘“Apesar do português ter sidosempre uma importante línguamundial, apenas recentemente temsido reconhecido como uma línguaimportante no mundo dos negóciose relações internacionais”.’Revista Language MagazineSegurança numa Sociedade Plural e a dopróximo ano, associando-se à comemoraçãode oitocentos anos de LínguaPortuguesa, propõe o tema “Português,Uma Língua com História. “O apoio da FLAD também se estende aosprofessores. O presidente da Associaçãode Professores de Português dos EUA eCanadá (APPEUC), Diniz Borges, explicaque “uma das maiores reivindicações dosprofessores [de português nos EUA] é afalta de formação para uma realidade emmudança” e a FLAD tem procurado resolvereste problema. A Fundação promovea realização de cursos de verão emPortugal que visam contribuir para oaumento dos níveis de qualidade do ensinodo Português como língua não materna.O programa foi lançado em 2012 eanualmente são promovidas dois cursos:um na Faculdade de Letras da Universidadede Lisboa e outro na Universidade dosAçores, em Ponta Delgada. Os cursos têma duração de duas semanas e são certificados.Nas suas quatro edições, atingiramParalelo n. o 8 | INVERNO 2013/2014 31