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CULTURA‘[..] é importante que o espaço onde é produzidoo discurso sobre o mundo social continue a funcionarcomo um campo de luta onde o pólo dominante nãoesmague o pólo dominado, a ortodoxia não esmaguea heresia. Porque neste domínio, enquanto houver luta,haverá história, isto é, esperança”.’P. Bourdieu (1983)mobilizar a opinião pública e a política.Entretanto, a discussão sobre o papel, emesmo a importância, do “intelectual”no mundo contemporâneo faz parte deuma reflexão empreendida por váriosteóricos da modernidade tardia. A já vastabibliografia, ver por exemplo: A. Gramsci,J. Benda, C. Wright Mills, E. Shills,P. Bourdieu, Z. Bauman, U. Eco, E. Said,M. Winock, N. Chomsky, P. Johnson,A. Gouldner, B. Misztal, S. Collini, entreoutros, sobre as representações – positivas,mas também negativas – do intelectual,ilustra a multiplicidade de posições,também elas díspares, sobre a relevânciado intelectual nos séculos XX e XXI.[P] Qual é a relevância desta temática na actualidade?[PDM] Face à consolidação da crise global,ao crescente poder da aristocraciafinanceira, que tende a dominar todasas esferas do “mundo da vida”, ao actualpanorama de aguda injustiça social, aliadaà fragilidade política que, nestemomento, se encontra simultaneamentesobrecarregada de problemas e demasiadamentevazia de pensamento, acreditoque os intelectuais voltaram a ter umpapel de relevo no espaço público. É,todavia, óbvio que, no interregno entreos Novos Movimentos Sociais e os NovosMovimentos Globais, a figura do intelectualsofreu várias interpretações e66Carta aberta intitulada “J’ accuse!”,de Émile Zola, no jornal L’ Aurore(dirigido na altura por George Clemenceau).críticas. Ora, com a morte de Jean PauleSartre, o “intelectual total” que, atravésda imaginação democrática, de um vastorepertório de ideias, avaliações, capacidadese lógicas, divulgava e defendia osvalores universais, esvai-se aquando dasubstituição das metanarrativas pelasmicro-ideologias, pelos discursos fragmentários,descontínuos e dispersos(Lyotard, 1979) que brotavam naesfera(s) pública(s) ao longo dos anos60 e 70. O fim das grandes ideologiascontribuiu, por um lado, para o fim dointelectual legislador e, por outro, paraa ascensão do intelectual especialista(Michael Foucault), que, de igual modo,a partir dos finais dos anos 90 volta aser posta em causa devido à proximidadeentre intelectuais e movimentossociais de ordem global. No entanto, eface ao actual debate em torno do lugar,ou não, do intelectual público no séculoXXI, entendo que estes, nomeadamenteos Europeus, independentemente dassuas estratégias de intervenção, têmvindo a reconhecer que uma posiçãocrítica e livre de constrangimentos sistémicostornou-se indispensável numperíodo onde o fundamentalismo domercado, o perigo dos emergentes “apartheidsculturais” e a produção do medo,que gradualmente se vem instalandonuma Europa de valores moribundos,assombra as liberdades das sociedadesEuropeias. Stephan Hessel, JürgenHabermas, Ulrich Beck, Daniel Cohn-Bendit, Fernando Savater, António LoboAntunes, Mário Soares, Bernard -HenriLévy, Vassilis Alexakis, Juan Luis Cebrián,Umberto Eco, Eduardo Lourenço, entremuitos outros, são alguns dos intelectuaisque, a partir da validade e legitimidadedo seu discurso, têm tido acapacidade de pôr em causa as verdadesabsolutas do poder político-financeiro,através de um discurso contra-hegemónico,e têm conseguido projectar as vozesdas minorias na agenda pública, mediáticae política. Em suma, acredito que aposição de P. Bourdieu (1983, p. 70) emrelação à questão “Os Intelectuais estãofora do jogo?”, que passo a citar: “[..]é importante que o espaço onde é produzidoo discurso sobre o mundo socialcontinue a funcionar como um campode luta onde o pólo dominante nãoesmague o pólo dominado, a ortodoxianão esmague a heresia. Porque nestedomínio, enquanto houver luta, haveráhistória, isto é, esperança” – volta a fazersentido na acção dos intelectuais públicosda Europa paradoxal do século XXI.[P] O conjunto das conferências aborda umadiversidade de questões, desde a questão do neo-‐liberalismo, a democracia actual, casos concretosde intelectuais públicos. Que eixos temáticosgostaria de destacar ou especificar na organizaçãoglobal desta iniciativa?[PDM] Bem, esta conferência teve comointuito principal discutir as diferentesformas de intervenção pública dos intelectuais,independentemente dos seuscontextos históricos, sociais e culturais.Como bem referiu, foram convidadosinvestigadores de áreas disciplinares bemdiferenciadas. A amplitude das discussõesfoi grande e muito fértil. Tivemos desdeum teórico físico, que abordou a luta deEinstein pela unificação entre ciência ecivilização, a uma socióloga que questionouse os cientistas poderão ser aindaconsiderados intelectuais; desde um cientistapolítico, que discutiu sobre o papeldos intelectuais públicos espanhóis faceà crise económica, a um historiador quedesafiou a audiência a pensar sobre arelação entre intelectuais públicos, políticapública e filantropia na Histórianorte-americana; desde um psicanalistaque, a partir dos estudos do psiquiatraRobert Coles, fez uma abordagem sobrea vida política das crianças, a um sociólogoque analisa o engagement de doismúsicos contemporâneos, Lopes-Graça eLuigi Nono. É, ainda, importante referirque, ao longo de todas estas discussões,o debate foi muitíssimo rico e levou osParalelo n. o 8 | INVERNO 2013/2014

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