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CULTURAHolocausto; assim, o comité elaborouuma lista de cerca de 200 pessoas, nãolimitada a “israelitas”na terminologiaentão corrente (“Juden” para os alemães),tendo em vista escritores, artistas,políticos, cientistas e outros refugiadosna zona não ocupada da França, aproveitandoquanto possível a neutralidadedos EUA nessa fase. Fry aceita ser enviadoa França, estabelecendo-se no Sulcom outros voluntários cuja missão éajudar, por meios mais ou menos legais,os que precisam de abandonar a Françade Vichy e a Europa, em direcção àAmérica ou outros destinos. Para muitos,o trajecto passa pela Espanha (neutral,mas politicamente próxima do Eixoitalo-alemão) até que, em Lisboa, emligação com o Unitarian ServiceCommittee, possam embarcar em naviosou aviões para países onde fiquem asalvo (e que os aceitem,o que nem sempreacontece). O reconhecimentode passaportes,a emissão de vistos e aobtenção de bilhetesnão são sempre fáceisnem céleres, além dosobstáculos que a ditadurapõe, sob critériosvariáveis, à entrada degente que considereindesejável. A cidadenão é totalmente segurapara os que conseguemlá chegar (emSetembro de 1941,Berthold Jacob é raptadoem Lisboa pelaGestapo, com apoioplausível de agentes da PVDE; morrerána Alemanha em 1944). Mas a capitalportuguesa é, por mar e ar, a única saída– ou a “última fronteira” na parte ocidentalda Europa. A cidade que a NationalGeographic Magazine de Agosto de 1941designara como ‘Lisbon – Gateway toWarring Europe’, é também o local desaída, iluminado à noite ao contrário decidades europeias que o risco de bombardeamentosobriga à escuridão, o quelevará Arthur Koestler (refugiado que acusto será acolhido em Londres apósuma fuga também com escala entre nós)a escrever, referindo-se a Portugal: “Thiswas Neutralia, the land without blackout”.Foi no intervalo neutral entre 14-08-‐1940 e 6-09-1941, que do ponto devista actual parece breve mas para osprotagonistas da época terá parecidointerminável, que a acção de Fry naEuropa fez dele um discreto herói americanoe um notável herói do nossotempo. Apesar do seu nome poucocomum, Varian Fry ficou a ser um dosmais ilustres desconhecidos da época.Com efémero apoio consular, coordenouuma singular operação de busca e salvamentode milhares de pessoas que tentavamsair dos países ocupados peloReich ou vassalos deste, e cuja rota sedirigia geralmente aos EUA. A neutralidadepermitia uma margem de manobra,mas com riscos, mesmo pessoais; osobjectivos desafiavam os critérios doReich e do regime de Pétain. Em Sanary-‐sur-Mer, Nice e outros locais não muitodistantes do porto de Marselha tinham-seconcentrado artistas e intelectuais franceses,alemães, “apátridas” e oriundos daEuropa Central e de Leste, sonhando como outro lado do Atlântico. O seu elenco,‘ Em 1967, meses antes de morrer,recebeu a Legião de Honrapor iniciativa de Stéphane Hessel;em 1995, postumamente,foi recordado no memorial de YadVashem, sendo o primeiro cidadãoamericano a figurar entre os“Righteous among the Nations”.’entre 1933 e 1940, parece um capítuloda história cultural europeia; vemos, alémdos já mencionados, nomes como AldousHuxley, Kantorowicz, a família Mann,René Schickele, Joseph Roth. Alguns morremde doença ou acidente antes de qualquertravessia geográfica. Thomas Mannpartira cedo para os EUA e por sorte seriadissuadido de voltar à Alemanha. StefanZweig, após estadias em Inglaterra e emNova Iorque, fixou-se no Brasil, onde sesuicidou em 1942. Muitos partiram emnavios ou passaram a fronteira com aEspanha, em direcção a Lisboa. Nemtodos conseguiram os papéis que lhespermitiriam escapar ao inferno. Mas boaparte dos que sobreviveram deve-o a Frye ao seu grupo. O que é mais intrigante,ao avaliarmos hoje essa missão, não éapenas que se tenham salvo tantas vidas;outros (poucos) o fizeram então. É que,O contributo de Varian Fry para a fuga dessesmembros da intelligentsia europeia e suasfamílias é inestimável.sabendo embora que cada vida é únicae irrepetível, ela foi decisiva para salvardos campos de concentração ou de extermíniomuitos cujas biografias, que hojepodemos ler, ultrapassaram os anos fatídicossem que o nome do seu principalsalvador fosse conhecido e celebrado. Ocontributo de Varian Fry para a fuga dessesmembros da intelligentsia europeia esuas famílias (nem todos judeus e nemtodos célebres, mas alvos predilectos donazismo) é inestimável. Sofreu por nãoter conseguido ajudar muitos outros. Masa lista assumida como prioritária foi largamenteultrapassada pelo número dosque protegeu e salvou. A missão emMarselha (abruptamente terminada, porpressões políticas) e, regressado ao seupaís, as críticas que faria à política deimigração não o ajudaram na fase “maccarthysta”dos anos 50. Coube-lhe experimentaruma peculiar condição derefugiado. Em 1967, meses antes de morrer,recebeu a Legião de Honra por iniciativade Stéphane Hessel; em 1995,postumamente, foi recordado no memorialde Yad Vashem, sendo o primeirocidadão americano a figurar entre os“Righteous among the Nations”.* Jornalista freelancerParalelo n. o 8 | INVERNO 2013/2014 59

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