ECONOMIAInspirar a mudançaA Alma do Negócioé uma importante acha para o empreendedorismo.POR ALMERINDA ROMEIRA*O empreendedorismo é a cada dia que passaum tema mais falado, mais ouvido, maisescrito, mais visto e mais debatido emPortugal. Felizmente. Como escrevem TiagoGomes Sequeira e Alexandre Mendes, daFactory, “o empreendedorismo apareceu,então, como o remédio para todos os males,dando esperança a toda a gente”. Acendeuuma luz ao fundo do túnel. E embora nãoseja a solução milagrosa para a crise económicae para o desemprego, a verdade é queestá a impulsionar Portugal para uma novaatitude comportamental. Mais produtiva eganhadora. Empreender é, no limite, autoria.Dizem os responsáveis da Factory: “Sermosautores da nossa própria vida e treinarmoso hábito de pensar, independentemente dasituação ou circunstância”.A Alma do Negócio, primeiro livro comercialdas Edições Sabedoria Alternativa,um projecto de Sofia Ramos, ela própriauma empreendedora, é uma importanteacha para esta dinâmica. Apoiado pelaFundação Luso-Americana e mote paraum ciclo de debates sobre empreendedorismo,o livro apresenta uma visãoglobal do tema, assente em 28 textos,escritos por 29 autores, em que cada umaborda um aspecto particular da temática.O empreendedor de Silicon Valley,pai do Lean Statup, Steve Blank, assina umavaliosa introdução.Entre os co-autores está o professor universitárioe presidente para a Plataformado Empreendedorismo em Portugal, DanaT. Redford. No início do novo milénio –assinala ele – Portugal era o único país daUnião Europeia que não tinha qualqueroferta de educação sobre o tema nos níveisbásico e secundário. O primeiro curso foicriado em 2005. O caminho é recente,mas tem raiz. Justifica: “Muitos dos traçose atributos necessários para a criação deuma cultura empreendedora, como a iniciativa,a audácia e a criatividade, sãointrínsecos aos portugueses, com excepçãotalvez da aptidão para correr riscos.”Risco. Risco é aqui a palavra-chave. Uma48Capa de livro A Alma do Negócio.O detonador é a vontade, a determinação de fazer acontecer.espécie de bússola. “Um negócio sem riscosnão existe”, declara o empresárioMiguel Monteiro.Efectivamente, lançar uma nova empresaacarreta um elevado risco de insucesso,o que limita, à partida, o universo doquem quer. António Lucena de Faria,CEO da Methodus, afina o perfil: “Umempreendedor tem que ter uma vontadeforte, um grande espírito de sacrifício,uma dedicação ao projecto que lhe permitatrabalhar longas horas, resistir aosmomentos de desânimo e nunca esquecera visão que o levou a iniciar o caminhodo empreendedorismo”.O detonador é a vontade, a determinaçãoParalelo n. o 8 | INVERNO 2013/2014
ECONOMIAde fazer acontecer.A ideia é importante,sem dúvida, mas estálonge de ser tudo.Todos temos ideias.Como diz o businessangel, Paulo Andrez:“Por dia podemosgerar uma, dez, vinteideias de negóciodiferentes.” A fibraempreendedora mede--se, isso sim, na capacidadepara lhe darvida, para a concretizar.Descobrir a formade ganhar dinheirocom a ideia - ou seja, saber como e aquem se vai vender o produto ou o serviçodela resultante.“Encontrar uma necessidade e clientesé onde tudo começa, no entanto, o verdadeirodesafio é conseguir atrair clientespagantes de forma frequente e quesejam leais”, considera o fundador daBeta-i, Pedro Rocha Vieira. O CEO doWygroup, Pedro Janela reafirma: “O focoé vender, vender, vender como se nãohouvesse amanhã. A preocupação dequem empreende tem de ser esta: encontrarclientes”. E se falhar? Falhar devefazer parte da cultura de empreendedorismo.O conselho de Miguel Monteiroaos jovens: “Errem, mas em pequenaescala e ainda com possibilidade demudar o rumo do projecto.”Quando há pouco mais de uma décadaJoão Trigo da Roza, presidente daAssociação Portuguesa de Business Angels,era CEO da PTM.com e as primeiras start--ups da economia digital começavam aaparecer, as fontes de financiamento erambastante escassas. “O meu primeiro contactocom formas de financiamento alternativasfoi em Harvard no ano de 2003,no curso de Venture Capital e PrivateEquity”, contou-me, recentemente. Hoje,“a realidade é bem diferente e, no nossoecossistema, começa a haver uma cadeiade players capazes de suportar o desenvolvimentodas empresas ao longo do seuciclo de vida. Carlos Silva, President & COOda plataforma de equity crowdfundingSeedrs, contabiliza o financiamento de 33start-ups que, juntas, angariaram atravésda Seedrs cerca de dois milhões de euros,nos primeiros catorze meses de operação.Portugal tem histórias fantásticas deempreendedores que conquistam todos osdias mercados locais e internacionais.Pedro Ludovice Ferreira, coordenador deDesign de A Alma do Negócio, conta que o‘ Um empreendedor tem que teruma vontade forte, um grande espíritode sacrifício, uma dedicação aoprojecto que lhe permita trabalharlongas horas, resistir aos momentosde desânimo e nunca esquecera visão que o levou a iniciaro caminho do empreendedorismo.’ensinamento mais valioso que retirou dastrês empresas que fundou é a importânciaque deve ser dada à descoberta do modelode negócio. “Cabe a cada empreendedorrealizar uma verdadeira caça ao tesouroque, tal como nos romances de aventura,apenas terminará com a chegada ao localassinalado no mapa com um ‘x’ – o modelode negócio sustentável”.Barbara Beck de Lancastre, CEO dosColégios O Parque, diz o mesmo poroutras palavras: “O sonho do negócio desucesso só se torna realidade se for bemgerido e se for financeiramente viável.”De leitura muito acessível, A Alma doNegócio é um guia prático de leituraimprescindível para quem quiserempreender em Portugal, dada a riquezaprática do seu conteúdo. Aos citados,juntam-se os contributos da FundaçãoKauffman (Bill Aulet e Fiona Murray),João Romão (Wishareit.com), VascoPedro (Dezine), Ricardo de MeloMesquita (Lets Bonus) Inês Silva (startup X), Rui Pereira (Outsystems), MiguelJúdice (Thema Hotel & Resorts), LuísRoquette Geraldes e Vasco StillwellD’Andrade (advogados na MLGTS), MariaMiguel Ferreira (Too Small To Fail) PedroCarmo Oliveira (Entrepreneurs Break),Miguel Calado (Eggnest) e João Fernandes(programa +E+I).Como qualquer história inspiradora damudança, pretende-se que a A Alma doNegócio funcione como uma centelha. “Olivro tem um papel muito importante,porque é urgente transmitir informaçãoe conhecimentos úteis sobre o que é oempreendedorismo e sobre como sepodem criar novos negócios na situaçãoeconómica actual”, sublinha CharlesBuchanan, administrador da FundaçãoLuso-Americana, que ambiciona ver criadoum verdadeiro ecossistema nacionalde apoio ao empreendedorismo emPortugal. Nas mãos temos o desafio deconstruir o futuro.* Jornalista do OJEPARA ALÉM DO LIVROA Alma do Negóciocomo plataforma de incentivoao EmpreendedorismoO lançamento do livro A Alma do Negócio,com a participação de 29 autores e com oapoio da Fundação Luso-Americana (FLAD),reflectiu-se também numa oportunidadepara promover o crescimento da comunidadede empreendedores em Portugal.O evento de apresentação deste Guiamotivou, desde logo, a realização de umconjunto de novos encontros dedicadosà esfera empreendedora, abordando osmais diferentes temas relacionados coma criação de novos negócios e com osdesafios que se colocam a quem fazparte desta comunidade. Desde Setembro,a FLAD tem sido palco de vários debates,lançando questões de partida, decisivasno processo de arrancar com um novonegócio e para quem quer ser empreendedor.O objectivo é incentivar o networkinge promover a criação de redes de contactoe de conhecimento, relevantes para osucesso profissional de cada um.Assumindo-se como um projecto integrado,A Alma do Negócio está acessível aopúblico através do site – www.aalmadonegocio.pt–, uma ferramenta agregadorade todas estas iniciativas realizadas emotor de divulgação do livro, através daqual são disponibilizados conteúdos diversificadose considerados relevantes parao setor.ANA MARIA SILVALPMParalelo n. o 8 | INVERNO 2013/2014 49