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SOCIEDADEdistribuí -lo – como para a reformulaçãoda imagem do índio, problemática inseparávelde qualquer representação dos povosnativos da América do Norte. São vários osestudos, escritos e filmados, que perspectivama maneira como os índios forammostrados nos westerns que Hollywooddifundiu a uma escala mundial ao longode várias décadas. Entre os questões apontadasnestas investigações, sobressaem ashistórias tendencialmente negativas naabordagem das personagens nativas, oserros na representação das tribos, dos seushábitos e línguas, a ausência de nativosamericanos nos castings para a representaçãodos seus líderes e, sobretudo, a ideia deque os nativos americanos estavam condenadosà extinção, ao desaparecimento natural,à suplantação pelo Homem moderno,evoluído.O cinema nativo -americano de ficção– aquele que é controlado criativamentepor nativos americanos – teve um forteimpulso na década de noventa, apesar detentativas desafiantes nos anos oitenta,como é o caso do filme Harold of Orange(1984) escrito por um veterano da literaturanativo -americana, o autor AnishinaabeGerald Vizenor. Este foi um cinema quenasceu, sobretudo, da vontade de combatera superabundância de imagens vaziase redutoras das culturas nativas. Assim,cada filme que marcou o início deste cinemaé comparável a um gesto de activismo,e obras como Smoke Signals (1998) de ChrisEyre ou, no campo das curtas -metragens,Cow Tipping: The Militant Indian Waiter (1992)de Randy Redroad, foram determinantespara cimentar um discurso de resistênciaque visava devolver aos nativos americanoso espaço da auto -reinvenção.“More pathetic than an indian on TV isan indian watching an indian on TV”,diz -nos Thomas -Builds -the -Fire enquantovê um western numa das cenas de SmokeSignals, confirmando, com este comentário,um dos principais traços de ShermanAlexie enquanto escritor e argumentista:a consciência do potencial da ironia comoalerta para a necessidade de transformaçõesestruturais. Assim, em 2002, o contistadecidiu escrever e realizar o filme TheBusiness of Fancydancing no qual transporta otom irónico e o registo da experiênciaemocional nativo -americana para um nívelsuperior. Se Smoke Signals peca, segundo aestudiosa Jacquelyn Kilpatrick, por não sersuficientemente nativo -americano, –supõe -se, em grande parte, pela estruturaestandardizada de road movie que permiteum maior alcance de público – já o filmeNão existe apenas um olhar nativo-americano, mas sim vários olhares provenientesde diferentes culturas nativas.‘ Os autores viram a possibilidadede transmitir, através de SmokeSignals, a sua visão do que é avida e a experiência de um nativoamericano numa reserva no mundocontemporâneo.’realizado por Alexie ensaia a construçãode raiz de uma nova imagem que nadadeve ao índio transfigurado de Hollywooda não ser pela contraposição de um retratoirreconhecível. O filme The Business ofFancydancing representa, essencialmente, aabertura de novos caminhos de criaçãopara autores contemporâneos, agoramenos preocupados com o questionamentodirecto dos clichés e mais focados nashistórias que lhes interessam enquantoindivíduos. Blackhorse Lowe (Navajo) eSterlin Harjo (Seminole / Creek) são doisexemplos de realizadores emergentes que,não obstante as filmografias ainda poucoextensas, marcaram já a diferença pelaforma como fazem do cinema um espaçode afirmação da sua expressividade singular,incontornavelmente influenciadapelas culturas das quais provêm. Apesardas abordagens distintas enquanto criadores,ambos enfatizam, no seu trabalho, arelação das histórias com o espaço no qualacontecem, relembrando assim, comoafirma a ensaísta JanaMagdaleno Sequoya a relaçãoseminal da identidadedas tribos nativo -americanascom o seu homeplace. Dessemodo, tanto em 5 th World(2005) e Shimasani (2009) deBlackhorse Lowe, como emFour Sheets to the Wind (2005)e Barking Water (2009) deSterlin Harjo, as narrativasmovem -se em torno da ideiade pertença a um espaço envolvente queé muitas vezes reflexo da paisagem interiordas personagens.A acrescentar ao trabalho de Sterlin Harjoe Blackhorse Lowe, há o de vários realizadorescomo Nanobah Becker (Navajo),Randy Redroad (Cherokee), Shelley Niro(Mohwak) que contribuem, também eles,para o alargamento das perspectivas sobreo que são, actualmente, as vivências nativo-‐americanas. Assim, não existe apenas umolhar nativo -americano, mas sim váriosolhares provenientes de diferentes culturasnativas, e é exactamente essa variedade queenriquece e alarga os domínios nos quaistem lugar a luta comum pela sobrevivência.Nas palavras de Sterlin Harjo: “Our languagesare dying and our numbers areshrinking but we are still here and we canstill tell our stories. We survived, now takea peak and see what life is like.”.*Realizadora e especialista em cinema nativo-americanocontemporâneoParalelo n. o 8 | INVERNO 2013/2014 51

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