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SOCIEDADE“A viagem começa onde começa a estradae acaba onde acaba a estrada”, resumenuma simplicidade desarmante, já noregresso a Lisboa, onde se desdobra empalestras para olhos e ouvidos curiosos.Di -lo como se fosse para todos amarfanharos objectos para 15 meses de vida em quatroalforges de bicicleta, uns 45 quilos.Comida, roupa, ferramentas da bicicleta,apetrechos de cozinha, primeiros -socorros,tenda e saco-cama. Uma bolsa no guiadorcom máquina fotográfica e os mapas. Numamochila, o computador, lanterna, canivete.De alguma forma despejou o essencial doT2 nos apêndices de uma vulgar bicicletatodo-o-terreno (uma Scott Boulder) e partiu.Não admira que diga a dada altura da entrevista– em que se recorda de cada pormenordaqueles 427 dias (repete aqui e alémo número mágico, 4 -2 -7) com os olhos, orosto, tudo a brilhar – que a bicicleta erajá o seu corpo. Seria, também, a sua casa.Idílio Freire viajou sem gps, seguindo osmapas de papel: pedalou cada quilómetro,cada declive, cada placa com o nome daterra, da maior à mais pequena. Diz que écapaz de reconhecer pelo cheiro todos oslocais onde dormiu. Detém -se nas memórias,gesticula, conta histórias. Não se socorremuito dos milhares de fotografias quetirou: tem -nas na cabeça. Assim como osnomes de todas aquelas personagens. ComoBrian, um americano com quem partilhoutrês semanas da viagem e que teve deregressar a casa quando estavam no México.Deixou -lhe o atrelado da bicicleta, no qualIdílio rearrumou a casa, mandando os alforgesde regresso a Lisboa.Gravou a cultura dos povos na pele, nãotem más experiências para contar. Teve sorte.Ou talvez aquilo que lhe disse o estranhoamericano fantasma à beira da estrada sejaverdade: 98 por cento das pessoas domundo são boas. Se teve de recuperar abicicleta, foi ao mar. Estava ele em BuenosAires – cidade onde passou umas semanasa “reaprender a andar” antes de voltar aLisboa. Andava a passear na praia, a marésubiu e ele estava distraído. Lá se atirou àságuas e salvou -a. A bicicleta já tomava porestes dias quase forma de gente, com vontade.Idílio ainda pensou em deixá -la ficar.Mas não.Ciclista e bicicleta aterraram em Lisboa a24 de Setembro. O economista “dos númerosgrandes” (como diz que dele dizem osamigos) fez um balanço da sua viagem denúmeros pequenos: em média percorreu87,7 quilómetros por dia à razão de 15,4por hora, atingiu uma velocidade máximade 84 quilómetros/hora. Pedalou durante1943 horas, teve 38 furos, comprou 12Idílio Freire, português de 44 anos, percorreu 15 países de bicicletaa uma média de 15,4 quilómetros/hora.Teve sorte. Ou talvez aquilo que lhe disse o estranho americano fantasma à beira da estradaseja verdade: 98% das pessoas do mundo são boas.pneus, substituiu 10 raios. Gastou “entre20 e 21 mil euros”, amealhados a partir domomento em que começou a sonhar maisa sério.Mas as grandes contas desta aventura fê -lassozinho, em cima da bicicleta – a que passoua chamar Dempster, depois de uma aventurarenhida que o pôs à prova logo noinício da epopeia, na Dempster Highway,no Canadá. O deve e haver salda -se numafactura intangível: “Felicidade constante aolongo de 427 dias.”*Jornalista do DNParalelo n. o 8 | INVERNO 2013/2014 53

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