LIVROSO Mar na História,na Estratégia e na CiênciaMESQUITA, Mário & VICENTE, Paula(Coordenadores)Lisboa, Ed. Fundação Luso-Americanapara o DesenvolvimentoTinta-da-China, Junho de 2013Mar portuguêsPOR PEDRO BORGES GRAÇA*A Fundação Luso -Americana para oDesenvolvimento tem vindo a apoiar epromover de modo intensivo, há já algunsanos, um trabalho de reflexão estratégicae investigação científica sobre o oceanoatlântico que merece ser devidamente notado,em particular por todos aqueles queem Portugal se interessam pelos assuntosdo mar, tanto académicos como decisorese empreendedores. O último output é precisamenteo livro de que nos ocupamosaqui, apresentado em sessão pública poucoantes das férias do Verão deste ano de 2013,numa edição cuidada e esteticamente conseguida,sem dúvida pela experiência ebom gosto dos coordenadores e da editoraTinta-da-China que nos tem habituadoa livros tão bonitos quanto literária e cientificamentecativantes.Este resulta da realização do III FórumAçoriano Franklin D. Roosevelt, na Ilhado Faial nos Açores, de 27 a 29 de Abrilde 2012, porventura aquele que, desde2008, quando foi lançada a iniciativabienal do evento, menos atenção dirigiuespecificamente às relações transatlânticasentre Portugal e os Estados Unidos,concentrando -se precisamente nas questõesessenciais da História, Estratégia eCiência que fundamentam essas mesmasrelações. Comparando com os anos anteriores,sem descurar portanto o contextoda cooperação transatlântica, esta obra72denota ter ocorrido um salto qualitativona abordagem científica do mar portuguêse das potencialidades acrescidas que esteabriga, inclusivamente no cenário de vira ser reconhecida pela Comissão deLimites das Nações Unidas a propostaportuguesa de extensão da plataformacontinental.O Mar na História, na Estratégia e na Ciênciarevela uma abordagem multifacetada,multidisciplinar, que suscita o alcance deum patamar transdisciplinar sobre adimensão indissociavelmente atlântica domar português e dos seus recursos enquantofactores indutivos de crescimento económicoe desenvolvimento nacional nestemomento de crise prolongada. Os seus cercade quarenta autores traduzem uma“massa crítica” incontornável no estudodos assuntos do mar em Portugal, e àFLAD se fica a dever esta abordagem delargo espectro, onde poderemos porexemplo encontrar a visão estratégicasobre os Açores de um major -engenheiroportuguês do primeiro quartel do séculoXIX, relembrado por Ricardo MadrugaParalelo n. o 8 | INVERNO 2013/2014
LIVROS[...] O Mar na História, na Estratégia e na Ciência revela uma abordagem multifacetada,‘multidisciplinar, que suscita o alcance de um patamar transdisciplinar sobre a dimensão indissociavelmenteatlântica do mar português e dos seus recursos enquanto factores indutivos de crescimento económicoe desenvolvimento nacional neste momento de crise prolongada.’da Costa, ao lado do futuro sustentáveldos oceanos no século XXI reflectido porTiago Pitta e Cunha, ou do sonho tornadorealidade de circum -navegação solitária,de Genuíno Madruga, natural daIlha do Pico e vivo representante da maisvelha e melhor tradição do carácter marítimoportuguês, tão naturalmente presentenos Açores.Reflectir sobre o mar português a partirdos Açores, nesta abordagem de largoespectro, induz no leitor uma percepçãogeopolítica deveras interessante, realçandoa inclinação para oeste da emigração e dasrelações transatlânticas em equilíbrio coma inserção política a leste enquanto fronteiraextrema de Portugal e também daUnião Europeia. Com efeito, se tomarmosem consideração o cenário de desenvolvimentodos Estudos do Atlântico emdirecção a outros temas que não somenteos tradicionais da História da Escravaturae da Literatura, como é comum na maioriadas universidades anglófonas, francófonase lusófonas, é possível afirmar quea condição atlântica açoriana se apresentacomo uma alavanca histórica percursorados emergentes estudos estratégicos do atlânticona abordagem da intersecção da naturezae da sociedade, configurando academicamentecomo quase -paradigma “o marcomo desafio para a unidade das ciências”,como observa Viriato Soromenho-‐Marques”.Na verdade, a dimensão do mar português,mesmo sem a extensão da plataformacontinental, é colossal em comparaçãonão só com o nosso território continentale insular mas também com os territóriosmarítimos de outros países muito maiorese economicamente potentes que Portugal.Esta situação confere -nos um elevadopotencial de recursos ainda por inventariare seguramente nos põe enquanto Naçãovelha de nove séculos perante o desafiode assumirmos plenamente o mar comoconceito estratégico nacional. Isto significanecessidade de investimento, tecnologiae conhecimento e de parceriasestratégicas com quem possamos encontrarinteresses mútuos para responder aesse desafio. Nesta visão os Estados Unidosestão precisamente na primeira linha dohorizonte.Ricardo Serrão Santos lembra que “aUniversidade dos Açores é a única universidadeportuguesa que gere um navio deinvestigação” e Fernando Barriga diz -nosque “a era da mineração submarina estáprestes a começar e apenas conhecemoscinco por cento dos fundos marinhos”.Somos pois levados a pensar que há muitoa fazer, mas também que a Ciência avançahoje a um ritmo tal que, no futuro, nospoderá trazer a possibilidade de termos umaproveitamento económico do mar queprojecte Portugal para fora da prolongadacrise que sofremos. Com consciência histórica,visão estratégica e ciência, é esseânimo que adquirimos ao lermos o presentelivro que a FLAD em boa hora tornourealidade, como aconteceu com o sonhode Genuíno Madruga, marinheiro portuguêsdo século XXI.Para colocar os Açores no mapa dos debatessobre estratégia e política internacionalfoi fundado, em cooperação com oGoverno Regional dos Açores, o FórumAçoriano Franklin D. Roosevelt, com periodicidadebienal.A denominação visa homenagear a figurade Franklin D. Roosevelt e o seu papeldecisivo nas relações euro-atlânticas.O primeiro Fórum teve lugar em PontaDelgada, em Julho de 2008, comemorandoos 90 anos da escala de Roosevelt nosAçores (São Miguel e Faial), quando viajourumo à Europa na qualidade de Secretárioda Marinha do Governo do PresidenteWilson, em 1918. O tema principal doI Fórum foi “As Relações Transatlânticasna Opinião Pública Europeia e Americana”.A segunda edição decorreu na Terceiraem Abril de 2010. O Fórum debateu questõesprementes na agenda transatlântica,a evolução histórica da relação Europa‐‐EUA, e o papel geopolítico do Atlântico edos Açores ao longo do último século.O III Fórum Franklin D. Roosevelt foidedicado ao “Mar na Perspectiva daHistória, da Estratégia e da Ciência” edecorreu na Horta, em 2012.* Professor do ISCSP – ULCoordenador do projecto A Extensão da PlataformaContinental: Implicações Estratégicaspara a Tomada de Decisão (FCT, CAPP – ISCSP – UL,Marinha, ESRI Portugal)Paralelo n. o 8 | INVERNO 2013/2014 73