18por apresentar uma duração impensável para a época, de 14 minutos e porlevar em sua criação muito da personalidade de ator e mágico de seu autor.Apesar de seu estilo surreal, Viagem à Lua é divertido e inovador,conseguindo combinar os truques do teatro com as infinitaspossibilidades da mídia cinematográfica. Méliès, o mágico, era maisum maestro do que um diretor, também participando como roteirista,ator, produtor, cenógrafo, figurinista e fotógrafo, criando efeitosespeciais que foram considerados espetaculares à época (p. 20).De acordo com Barbosa Junior, são os trickfilms, “filmes de efeito”(p.41), que instituem o jogo com a realidade e a manipulação do tempo. Osefeitos especiais criados pelo diretor foram febre entre as plateias dos EstadosUnidos e Europa, sendo “investigados fotograma a fotograma para se tentardescobrir a natureza prodigiosa dos seus truques” (ibid, 2005).O surgimento do primeiro filme de cinema animado aconteceu nocomeço do século XX, nos EUA:Caberá a um artista plástico inglês, o ilustrador James Stuart Blackton(...), a glória de ter realizado o primeiro desenho animado, HumorousPhases of Funny Faces, em 1906. Antes, porém, esse mesmo artistateve de aperfeiçoar a técnica de substituição por parada da ação(BARBOSA JUNIOR, 2005, p.41).A parada da ação citada pelo autor consiste na técnica base do trickfilmdescrita por Chong (2008, p.17):Deter a câmera e trocar os atores ou objetos (base da animação stopframe);filmar uma cena com uma velocidade de película mais lentapara que a ação resulte mais rápida;e rebobinar a película e voltar afilmar (dupla sobreposição), uma das primeiras composições óticas,foram algumas de suas técnicas. Méliès inclusive se atreveu com após-produção e utilizou técnicas de retoque à mão para colorir apelícula 4 .Barbosa Junior (2005) relata que antes de realizar o primeiro desenhoanimado da história, Blackton já havia produzido curtas-metragens onde eleaparecia desenhando rostos em uma lousa, que reagiam às ações dodesenhista aparentemente sem interferência humana. Apesar disso, asproduções não se utilizavam da verdadeira técnica da animação frame porframe, mas sim em cortes durante as tomadas (CRAFTON, 1993). Em4 Traduzido livremente pelo autor, do trecho: “Stopping the camera and replacing actors or objects (thebasis of stop-frame animation); under-cranking the camera so that action appears speeded up; andrewinding the camera and re-shooting on the same piece of film – an early form of optical compositing.Méliès even ventured into post-production, using hand-retouching techniques to physically colour the film”.
19“Humorous Fases of Funny Faces” (ANEXO 2), mesmo com uma curtaduração, o filme apresenta algumas sequências desenhadas utilizando essatécnica, visto que nos primórdios dessas produções, o processo “era tedioso, eBlackton, para agilizar o trabalho, chegou a usar recortes de papelão para aanimação dos membros de um personagem” (BARBOSA JUNIOR, 2005, p.42). No entanto, Barbosa Junior defende que mesmo com a simplicidade dofilme ele apresenta momentos de animação verdadeira, fato que o tornapioneiro no cinema de animação.Donald Crafton (1993) diz que Blackton era um produtor pragmáticoque não tinha em seu trabalho preocupação estética ou artística e suasproduções seguintes não foram mais do que derivações de trickfilms. Emcompensação, tornou-se nessa área, um expert na utilização e criação denovos efeitos especiais e ousava em truques com cabos, onde desafiava opúblico com “sequências longas bem de perto dos objetos” (BARBOSAJUNIOR, 2005, p.44). É por volta de 1908 que o interesse do público por essetipo de filme começa a enfrentar seu declínio. A descoberta das técnicasutilizadas e posterior conhecimento destas por parte dos espectadores fezdiminuir o interesse e a procura pelos trickfilms.Uma vez mais, a estratégia de manter o interesse do público emfunção de uma tecnologia por enquanto fora do seu domínio davasinais de cansaço. Mas a atmosfera de mistério, tão explorada poresses filmes (argumento universal da arte em qualquer tempo, tratariade empurrar os artistas na direção de recursos expressivos no âmbitoda própria arte (plásticos, narrativos, temáticos), a fim de renovar oestímulo (BARBOSA JUNIOR, 2005, p. 45).Nessa época, a animação parou de ser vista apenas como filmes deefeitos especiais ligados diretamente com a magia da trucagem no cinema ecomeçou a explorar seu potencial artístico. A tarefa de desenvolver essepotencial cabe ao artista francês Emile Cohl, com sua “experiência artísticocultural– além, claro, de seu grande talento e dedicação” (Ibid, 2005, p. 49)produziu as primeiras animações que dialogam com uma expressão artística.Barbosa Junior (2005, p.49) diz que “essa tarefa de enorme significado,que afasta a animação da „magia‟ proporcionada pela técnica, empurrando-apara além de um mero mecanismo de trucagem e, mais que tudo, outorgando-
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