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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS

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alcance das Idéias. Os artistas, de modo geral, e os poetas, em particular, não poderiam<br />

fazer parte do Estado Ideal, a República, por imitarem o mundo das Idéias.<br />

Segundo Platão, o universo obedece a uma ordem. Para tanto, Platão supõe a existência<br />

de um criador, o Demiurgo, que modelou o mundo e todos os seres a partir das idéias já<br />

existentes. O mundo, então, se constitui como o Mesmo, ou as Idéias; seu oposto, o nada,<br />

é o Outro, algo que não são as idéias, portanto, imperfeito.<br />

Platão afi rmava que o homem percebe o mundo através dos sentidos, prefi gurando<br />

o mundo sensível. O mundo sensível se apresenta como o mundo das aparências, ou<br />

seja, o modo como as coisas aparecem aos homens, portanto, o “não - real”, o imperfeito.<br />

Nele, cada homem se apega àquilo que lhe parece real, resultando daí a ocorrência de<br />

divergências de opiniões entre os indivíduos. A noção platônica, portanto, crê em mundos<br />

diferentes: o mundo perfeito ou real, equivalente ao das Idéias; e o imperfeito, aquele que<br />

reproduz as idéias a partir da percepção realizada pelos sentidos. O mundo das idéias e o<br />

mundo sensível, embora separados, encontram-se relacionados, uma vez que as coisas<br />

sensíveis representam “imitações” de idéias que lhe correspondem, do mesmo modo, por<br />

exemplo, como um pintor imita a natureza, pintando-a. Entretanto, é também desta forma que<br />

os homens poderão conhecer as idéias – como um modelo do qual lhe tiramos cópias.<br />

Conhecer é assim reconhecer, lembrar-se das idéias que foram contempladas<br />

pela alma, mas esquecidas por causa do apego do corpo às coisas sensíveis. (p.<br />

51, Abrão, 1999)<br />

A alma, imaterial, incorpórea, e impalpável, participa do mundo inteligível, ou das<br />

idéias, e tem a capacidade de reconhecê-las, tornando-se, então, a conexão entre os dois<br />

mundos. O corpo, entretanto, se constitui como um obstáculo para o espírito (ou alma),<br />

uma vez que veicula as sensações pelas quais o ser assimila a doutrina das Idéias. Como<br />

fi lósofo político, Platão, em seu livro A República, prega a construção de um Estado em<br />

que a população estivesse distribuída em três classes: a classe mais baixa, formada pelos<br />

artesãos, seria responsável pela produção e distribuição; a segunda classe ou intermediária,<br />

pelos guardiões ou soldados, responsáveis pela defesa da sociedade; e fi nalmente, a classe<br />

mais alta, a aristocracia, formada pelos dirigentes do Estado, devido à sua capacidade em<br />

fi losofar. Note-se, porém, que na República não havia lugar para os poetas.<br />

Segundo Platão, os prosadores e os poetas reportam acontecimentos passados, presentes<br />

e futuros através da simples narrativa ou imitação, ou através de ambas (Platão, p.115). Citando<br />

Homero, Platão o critica da seguinte forma: quando ele profere um discurso como se fosse outra<br />

pessoa, acaso não diremos que ele assemelha o mais possível o seu estilo ao da pessoa cuja<br />

fala anunciou? (Platão, p. 117), ou seja, ao narrar um acontecimento, o narrador, no caso Homero,<br />

estaria procurando assemelhar a sua fala à do sujeito que viveu o acontecido, confi gurando-se<br />

assim em uma imitação de alguém que fala. Alegando que os artistas, de modo geral, e os poetas<br />

e prosadores, em particular, poderiam fazer com que a população, especialmente os jovens, se<br />

desviasse do mundo real (das idéias) e o confundisse com a imitação, Platão os impede de fazer<br />

parte da República. E aconselha a vigiar também os outros artistas e impedi-los de introduzir<br />

na sua obra o vício, a licença, a baixeza, o indecoro, quer na pintura de seres vivos, quer nos<br />

edifícios, quer em qualquer outra obra de arte (Platão, p. 132).<br />

Platão não foi o único fi lósofo a pensar a questão da representação, Aristóteles, que foi<br />

seu discípulo, em seus primeiros textos apresenta uma forte infl uência de seu mestre. Entretanto,<br />

Aristóteles, homem dedicado ao estudo da natureza e dos seres vivos, diverge de Platão no tocante<br />

à observação das coisas que se apresentam aos sentidos, e amplia a teoria platônica buscando<br />

a integração dos sentidos como meio de alcançar o conhecimento científi co e fi losófi co.<br />

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