INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS
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Isto equivale a dizer que o poeta moderno reconhece a sua incapacidade de apresentar<br />
o mundo de forma verdadeira e inquestionável, ou, ainda, na sua totalidade; o poeta sabe<br />
que a sua visão de mundo é parcial e segmentada.<br />
Observem o soneto abaixo:<br />
Correspondências<br />
Baudelaire<br />
Como longos ecos que de longe se confundem<br />
numa tenebrosa e profunda unidade,<br />
vasta como a noite e a claridade,<br />
os perfumes, as cores e os sons se correspondem.<br />
Baudelaire é o poeta da modernidade por excelência, e conceituou o poema como<br />
uma relação de sons, ritmos e imagens. É o poeta dos boulevares, do novo, da nova<br />
confi guração da cidade, é também o poeta do “feio” e do “transitório” em oposição à beleza<br />
e à eternidade cantada pelos dos seus precursores. Tratando-se, historicamente, de uma<br />
época cuja principal característica se apresenta como a transformação concretizada através<br />
da construção de novas vias públicas (boulevares) e novas descobertas tecnológicas e<br />
científi cas, a modernidade e as mudanças decorrentes deste processo ocasionaram também<br />
a degradação, incluindo, por conseguinte, o que se torna feio e grotesco. À medida que o<br />
progresso se instalou na modernidade, os meios de comunicação evoluíram e o predomínio<br />
da técnica infl uenciou a arte de modo geral. Na poesia, a linguagem expressiva foi sendo<br />
percebida como mediação entre poeta e realidade, perdendo o seu caráter de verdade e<br />
desestabilizando a função do poeta. 12<br />
A fotografi a como a mais moderna técnica de linguagem na ocasião (1829) veio a<br />
infl uenciar a arte de modo decisivo, no que tange ao modo de captar “a realidade”. A fotografi a<br />
desloca o papel do artista revelando-lhe uma nova forma de desvelar o mundo: através de<br />
uma visão pessoal, recortada e, sobretudo, inventiva, de um instante perenizado.<br />
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http://portalliteral.terra.com.br/ligia_fagundes_telles/bau/fotos.shtml?bau<br />
12 - CARA, Salete de Almeida. Op. cit. loc. cit. p. 43.<br />
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