10.03.2016 Views

INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Introdução aos<br />

Estudos<br />

Literários<br />

Borges, em outro texto, Kafka e seus precursores, inverte o<br />

processo de produção textual quando transforma Kafka em modelo<br />

para aqueles que escreveram antes dele, criando, regressivamente,<br />

uma tradição. Tudo isso porque o leitor ativa sua biblioteca interna<br />

a cada texto lido, estabelecendo nexos relacionais entre o que lê e o<br />

que já foi lido. Então, a intertextualidade, centrada também na figura<br />

do leitor, perturba qualquer possibilidade de cronologia rígida para a<br />

historiografia literária, na medida em que as associações feitas são livres.<br />

Até mesmo o conceito de tradução é revisto, numa perspectiva intertextual, como uma<br />

leitura da obra, uma recriação. Relativizam-se também as noções de cópia e modelo, fonte<br />

e infl uência. Isso porque a cópia pode levar a uma releitura desconstrutora do modelo. A<br />

crítica literária brasileira contemporânea, valendo-se de tais relativizações, produziu textos<br />

que nos permitem reler a própria história da colonização com novos olhos. Ensaios como<br />

“Nacional por subtração”, de Roberto Schwarz (1989); “O entre-lugar do discurso latinoamericano”,<br />

“Eça, autor de Madame Bovary” (1978) e “Apesar de dependente, universal”<br />

(1982), de Silviano Santiago integram esse debate.<br />

Em qualquer nível, a produção simbólica é sempre uma retomada de outras<br />

produções, perfazendo um jogo infi nito que enreda autores e leitores. Apropriando-nos<br />

de Schneider, podemos afi rmar:<br />

“O texto literário é um palimpsesto. O autor antigo escreveu uma ‘primeira’<br />

vez, depois sua escritura foi apagada por algum copista que recobriu a página<br />

com um novo texto, e assim por diante. Textos primeiros inexistem tanto quanto<br />

as puras cópias; o apagar não é nunca tão acabado que não deixe vestígios, a<br />

invenção, nunca tão nova que não se apóie sobre o já-escrito.<br />

(SCHNEIDER, 1990, p.71)<br />

Atividades<br />

Complementares<br />

• Feita a leitura dos dois textos, o de Benjamin e o de Silviano, procure tecer refl exões<br />

sobre o narrador benjaminiano e o narrador pós-moderno. Em que ponto eles se encontram<br />

e em que se diferem?<br />

• Faça uma busca sobre o tema da intertextualidade na internet sobre o poema de<br />

Gonçalves Dias, “Canção do Exílio”. Você irá descobrir intertextualidades inspiradoras.<br />

Aproveite para também dar continuidade ao diálogo iniciado por tantos escritores...<br />

58

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!