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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS

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Introdução aos<br />

Estudos<br />

Literários<br />

6. Talvez a característica fundamental de uma obra clássica seja a sua<br />

inesgotabilidade. Ou como diz Calvino: “Um clássico é um livro que nunca<br />

terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”.<br />

7. Um clássico é fundamental também pelo efeito que deflagra na consciência<br />

do leitor. Sob esta ótica, devemos considerar que ele é, simultaneamente:<br />

• Forma única de conhecimento – transmite paixões humanas oriundas<br />

de um patrimônio universal (que é a experiência do homem);<br />

• Utilização da linguagem de uma maneira exemplar, original e inesperada;<br />

• Um conjunto de revelações, idéias e sentimentos que têm a propriedade de durar na<br />

memória mais do que outras manifestações artísticas (música, cinema, etc.) Estas podem ter (e<br />

geralmente têm) um impacto maior na hora da fruição, mas seu prolongamento emotivo – a sua<br />

duração - é mais breve e inconsistente do que o proporcionado pela grande obra literária.<br />

Um não contra a morte. Por perdurar, a obra clássica ultrapassa o tempo e a fi nitude<br />

humana. De uma certa forma, é um protesto contra o “sem sentido” da vida.<br />

Bom, vimos as defi nições, até mesmo os adjetivos que se atrelam ao universo dos clássicos.<br />

Vimos, ainda, um tipo de fórmula que delimita um obra como clássica. Mas em nenhum momento<br />

foi colocada a questão da nossa escolha, do nosso arbítrio, das refl exões que nos levam a amar<br />

ou a odiar uma obra, mesmo que esta seja um clássico ou uma obra desconhecida.<br />

Eis uma tarefa para o escritor Ítalo Calvino. Aprecie alguns trechos (trouxemos apenas<br />

as premissas sem os comentários) da obra do autor!<br />

Por que ler os clássicos<br />

Ítalo Calvino - texto de 1981<br />

1. Os clássicos são aqueles livros dos quais, em geral, se ouve dizer: “Estou<br />

relendo...” e nunca “estou lendo...”.<br />

2. Dizem-se clássicos aqueles livros que constituem uma riqueza para quem os<br />

tenha lido e amado; mas constituem uma riqueza não menor para quem se reserva a<br />

sorte de lê-los pela primeira vez nas melhores condições para apreciá-los.<br />

3. Os clássicos são livros que exercem uma infl uência particular quando se<br />

impõem como inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da memória,<br />

mimetizando-se como inconsciente coletivo ou individual.<br />

4. Toda releitura de um clássico é uma leitura de descoberta como a primeira.<br />

5. Toda primeira leitura de um clássico é na realidade uma releitura.<br />

6. Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer<br />

7. Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas<br />

das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas<br />

culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem ou nos costumes).<br />

8. Um clássico é uma obra que provoca incessantemente uma nuvem de discursos<br />

críticos sobre si, mas continuamente as repele para longe.<br />

9. Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer,<br />

quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos.<br />

10. Chama-se de clássico um livro que se confi gura como equivalente do universo,<br />

à semelhança dos antigos talismãs.<br />

11. O “seu” clássico é aquele que não pode ser-lhe indiferente e que serve para<br />

defi nir a você próprio em relação e talvez em contraste com ele.<br />

12. Um clássico é um livro que vem antes de outros clássicos; mas quem leu antes<br />

os outros e depois lê aquele, reconhece logo o seu lugar na genealogia.<br />

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