INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS
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Introdução aos<br />
Estudos<br />
Literários<br />
O texto de Silviano Santiago elucida muitas questões e faz o árduo caminho<br />
de se tentar traçar uma espécie de genealogia para uma nova forma de crítica<br />
cultural a ser feita no Brasil. Ele cita exemplos tomando como ponto de partida o<br />
fi m do golpe militar e algumas de suas conseqüências que se tornariam mais tarde<br />
temas de debates e de outras discussões. O mosaico de citações feito por Silviano<br />
apresenta ao leitor uma tentativa de se passar a ler o país e suas produções<br />
ampliando o leque de visão no momento em que se começa a colocar em cena<br />
uma cultura que até então vinha sendo sonegada pela historiografi a e pela crítica cultural.<br />
O desafi o que dá título ao texto ainda nos é lançado mesmo após a tal virada do<br />
século. Ao leitor, professor, possível formador de opinião, Silviano tensiona a questão<br />
para o fato de se tentar, nas intempéries do cotidiano, ultrapassar preconceitos e ampliar,<br />
permanentemente, o campo da visão e da sensibilidade.<br />
Vozes da América Latina: a inserção de outras leituras<br />
A abertura da crítica literária para outras<br />
produtos culturais, ampliando o próprio conceito<br />
de literatura, teve uma importância capital para<br />
o processo de democratização da arte. Uma<br />
democratização que permitiu a ampliação<br />
do conceito de arte para outras formas de<br />
produção cultural, como a música popular, o<br />
cinema, revistas em quadrinhos.<br />
Ressaltamos que esse processo se<br />
insere em um projeto maior, sob o patrocínio<br />
inegável dos estudos culturais, que orienta-se<br />
em direção a dois questionamentos principais.<br />
O primeiro consiste em pensar a legitimidade do discurso histórico diante da literatura,<br />
problematizando a oposição entre o “real” e o “fi ccional”, cujos limites se esmaecem diante de<br />
um olhar culturalista, que reconhece a imparcialidade de qualquer relato e o entrecruzamento<br />
entre o vivido e o imaginado. O segundo é a desconstrução da hierarquia de autores canônicos<br />
diante de autores que foram mantidos à margem por críticos literários orientados por uma<br />
perspectiva eurocêntrica, ou seja, que privilegiam modelos de matriz européia.<br />
A desconstrução de hierarquias reverbera para a abertura da cena cultural não apenas<br />
para escritores, mas, também, para críticos de outros países, a exemplo da emergência dos<br />
latino-americanos Silviano Santiago, Beatriz Sarlo e Ricardo Piglia. Desse modo, a partir<br />
dessa abertura, passou-se a ouvir vozes provenientes dos países latino-americanos, que<br />
discutiam questões a eles pertinentes. Devemos ressalvar, no entanto, que, ao pontuar<br />
a emergência dessas vozes, não defendemos, com isso, uma postura adversa ao olhar<br />
estrangeiro (europeu, norte-americano, indiano) sobre a América Latina. Defendemos, na<br />
verdade, a importância de imprimir uma discussão em debates sobre cultura, a partir dessa<br />
própria cultura, permitindo que, ao lado de um olhar estrangeiros, muitos deles já legitimados,<br />
outros olhares possam ser contemplados. Devemos atentar, ainda, que a crítica de caráter<br />
local, isto é, as refl exões de Silviano Santiago não se limitam ao Brasil, do mesmo modo que<br />
as considerações de Beatriz Sarlo sobre a condição pós-moderna na Argentina, em Cenas<br />
da vida pós-moderna, não se encerram e não concernem apenas à Argentina.<br />
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