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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS

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<strong>INTRODUÇÃO</strong> E GÊNEROS<br />

<strong>LITERÁRIOS</strong><br />

O QUE É LITERATURA<br />

A literatura fala da literatura – Antoine Compagnon e os<br />

demônios da teoria<br />

Olá! Nas refl exões que iniciaremos acerca do universo da literatura, começaremos<br />

com a questão da arte da escrita. O texto do escritor francês Gilles Deleuze, logo abaixo,<br />

apresentará algumas rápidas questões para pensarmos sobre a língua, o ato de escrever,<br />

dentre outras coisas, que nos fará perceber esse não-limite do literário, suas frestas, seus<br />

sulcos, seu modo de ser e nos fazer delirar!<br />

PRÓLOGO<br />

(Gilles Deleuze)<br />

Este conjunto de textos, dos quais alguns são inéditos, outros já publicados, organizase<br />

em torno de determinados problemas. O problema de escrever: o escritor, como diz<br />

Proust, inventa na língua uma nova língua, uma língua de algum modo estrangeira. Ele<br />

traz à luz novas potências gramaticais ou sintáticas. Arrasta a língua para fora de seus<br />

sulcos costumeiros, leva-a a delirar. Mas, o problema de escrever é também inseparável<br />

de um problema de ver e de ouvir: com efeito, quando se cria uma outra língua no interior<br />

da língua, a linguagem inteira tende para um limite “assintático”, “agramatical”, ou que<br />

se comunica com seu próprio fora.<br />

O limite não está fora da linguagem, ele é o seu fora: é feito de visões e audições<br />

não-linguageiras, mas que só a linguagem torna possíveis. Por isso, há uma pintura e<br />

uma música próprias da escrita, como efeitos de cores e de sonoridades que se elevam<br />

acima das palavras. É através das palavras, entre as palavras, que se vê e se ouve.<br />

Beckett falava em “perfurar buracos” na linguagem para ver ou ouvir “o que está escondido<br />

atrás”. De cada escritor é preciso dizer: é um vidente, um ouvidor, “mal visto mal dito”, é<br />

um colorista, um músico.<br />

Essas visões, essas audições não são um assunto privado, mas formam as fi guras<br />

de uma história e de uma geografi a incessantemente reinventadas. É o delírio que as<br />

inventa, como processo que arrasta as palavras de um extremo a outro do universo.<br />

São acontecimentos na fronteira da linguagem. Porém, quando o delírio recai no estado<br />

clínico, as palavras em nada mais desembocam, já não se ouve nem se vê coisa alguma<br />

através delas, exceto uma noite que perdeu sua história, suas cores e seus cantos. A<br />

literatura é uma saúde.<br />

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