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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS

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O Romance & o Conto<br />

Introdução aos<br />

Estudos<br />

Literários<br />

O gênero épico consiste em uma narrativa seqüenciada, na qual o agente<br />

é o narrador, que possui o distanciamento necessário a fi m de apresentar o<br />

mundo narrado de forma objetiva.<br />

O romance se constitui de uma narrativa longa, com vários personagens,<br />

e uma pluralidade de confl itos que se desdobram a partir da história do<br />

narrador. O modelo da narrativa origina-se na oralidade, no contar de experiências individuais.<br />

É herdeiro da epopéia clássica, no que pese ser uma forma “híbrida”, pois, como a épica, o<br />

romance trata de um “vasto assunto”, e como na lírica, o narrador apresenta um ponto de<br />

vista individual, diferindo do “heroi” da epopéia que representa um grupo social; também<br />

possui a dialógica do drama através da polifonia de estruturas, e pode englobar outras<br />

formas narrativas, como, por exemplo, o diário, vide Robinson Crusoé, que, segundo alguns<br />

teóricos se apresenta como um divisor de águas neste gênero narrativo, por já manifestar<br />

características de hibridismo; outros autores consideram Dom Quixote como precursor do<br />

gênero por apresentar um questionamento de mundo.<br />

No romance moderno, os valores coletivos anteriormente confi rmados pelo herói épico<br />

passam a ser questionados; o herói do romance é um sujeito perplexo diante do mundo<br />

que vive, e que busca o sentido da vida, conforme explica Georg Lukács, em Teoria do<br />

Romance. O herói do romance moderno busca valores; o herói da epopéia já os tinha,<br />

apenas confi rmava-os. O protagonista principal do romance, ou herói, é “problemático”, se<br />

questiona e está dividido entre a vida interior e exterior; o narrador narra de acordo com a<br />

sua perspectiva, como mostra o delírio de Dom Quixote no texto abaixo:<br />

(...) é mister andar pelo mundo buscando as aventuras como escola prática, para<br />

que, saindo com alguns feitos em limpo, se cobre nome e fama tal, que, quando depois, se<br />

chegar à corte de algum grande monarca, já o cavaleiro seja conhecido por suas obras, e<br />

que, apenas o houverem visto entrar pelas portas da cidade, os rapazes da rua o rodeiem<br />

e acompanhem, vozeando entre vivas: “Este é o Cavaleiro do Sol”, ou da “Serpente”, ou de<br />

outra qualquer insígnia, debaixo da qual houver acabado grandes façanhas.”Este é”, dirão, “o<br />

que venceu em singular batalha o gigante Brocabruno da Grande Força; o que desencantou<br />

o grande Mameluco da Pérsia do largo encantamento em que tinha permanecido quase<br />

novecentos anos”; e assim de mão em mão irão pregoando os seus feitos; e logo, com o<br />

alvoroto dos rapazes da rua, e de todo outro gentio, sairá às janelas do seu real palácio o<br />

rei daquele reino; e assim que vir o cavaleiro, conhecendo-o pelas armas, ou pela empresa<br />

do escudo, forçosamente há de dizer: “Eia! Sus! Saiam meus cavaleiros, quantos em minha<br />

corte são, a receber a fl or da cavalaria que ali vem;” 24<br />

O conto representa um momento de crise, no sentido que é o momento que “assinala<br />

o encontro decisivo de forças em confl ito”. O registro de histórias em forma de conto iniciase<br />

na França, no século XVII, com a transcrição dos contos chamados “fada”por Charles<br />

Perrault, seguido por outros autores como os Irmãos Grimm e La Fontaine, culminando com<br />

o conto moderno no século XX por Edgar Alan Poe. O conto é uma história condensada,<br />

um momento de “crise”, que se caracteriza por “seqüestrar” o leitor pelo tempo da narrativa.<br />

Recorta um episódio signifi cativo que tem um efeito sobre o leitor, “seqüestrando-o”.<br />

O Menino<br />

Lygia Fagundes Telles<br />

Sentou-se num tamborete, fi ncou os cotovelos nos joelhos, apoiou o queixo nas mãos e<br />

fi cou olhando para a mãe. Agora ela escovava os cabelos muito louros e curtos, puxando-os<br />

24 - CERVANTES, Miguel de. Dom Quixote. São Paulo: Nova Cultural, 2003. p. 130.<br />

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