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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS

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eferencial para as futuras gerações de um grupo social, apresentando valores inquestionáveis<br />

para este grupo. A tradição se apresenta como sagrada. Chamamos de “passado absoluto”<br />

o tempo que não possui nenhuma ligação com o presente; é circular, perfeito, concluído.<br />

A epopéia apóia-se numa lenda nacional; seu discurso é enunciado em forma de lenda. O<br />

mundo épico é longínquo, distante e acabado, não deixando brechas para contestação, ou<br />

avaliação, nisto residindo a sua perfeição. Por isso, exemplos clássicos de epopéia são A<br />

Ilíada e A Odisséia.<br />

O passado épico é uma forma particular de percepção literária do homem e do<br />

acontecimento. Ela coincidia quase que completamente com a percepção literária e com<br />

a representação em geral. A representação literária é uma forma “sub specie aeternitatis”.<br />

Representar e imortalizar pelo discurso literário só é possível e viável para aquilo que é digno<br />

de ser comemorado e mantido na memória dos descendentes; e é no plano antecipado de sua<br />

longínqua memória que ele assume a forma. Para os seus contemporâneos, a atualidade (que<br />

não virá a ser memória) é comemorada em argila, e aquela que visa o futuro (a posteridade)<br />

é comemorada em mármore e bronze 22 .<br />

De acordo com excerto acima, podemos inferir que as epopéias se constituem de fatos<br />

notáveis para um dado grupo social na sua origem, e que por sua vez, irão se confi gurar em<br />

uma lenda, ou uma representação literária, que, sobrevivendo na memória dos descendentes<br />

do grupo será comemorada e valorizada de forma inquestionável pela comunidade.<br />

A epopéia e o poema épico, embora vistos como sinônimos, apresentam uma<br />

característica curiosa: nem todo poema épico é, necessariamente, uma epopéia; entretanto,<br />

uma epopéia será sempre um poema épico. Isto se explica pelo fato que um poema épico<br />

que torna-se representativo da história de um povo, torna-se uma epopéia. O poema épico,<br />

contudo, não conseguiu se alçar à altura de se realizar como uma epopéia, ou como uma<br />

lenda histórica de uma comunidade. Isto pode ocorrer tanto pela falta de criatividade, ou<br />

“engenho e arte”, ou por estar concentrado em um recorte: um acontecimento secundário,<br />

historicamente, como, por exemplo, Caramuru, O Uraguai, etc.<br />

As epopéias podem ser anônimas, ou de criação coletiva, como, por exemplo, A<br />

Odisséia, Ilíada, A Canção de Rolando, El Cid, e a essas se denomina de epopéia natural,<br />

folclórica, ou primitiva. Às epopéias de autoria conhecida como Eneida e Os Lusíadas<br />

denomina-se de epopéia erudita ou artifi cal 23 .<br />

O personagem central da epopéia, o herói representa o destino de uma comunidade, e<br />

passa por uma série de provas ou aventuras das quais sairá consagrado pela comunidade.<br />

O herói representa os valores éticos do povo ou nação a que a lenda se refere.<br />

22 - BAKTHIN, Mikhail. Op.cit. p. 410.<br />

23 - MOISÉS, Massaud. Op. Cit.p. 188.<br />

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